O jeito da Shopify anunciar uma demissão em massa
A baixa de mil colaboradores foi comunicada pelo CEO da empresa, Tobias Lütke, no blog da Shopify, que explica os motivos do corte e assume os erros na projeção de vendas no e-commerce
Há dois dias, a Shopify, empresa canadense de software para o comércio eletrônico, anunciou a demissão de mil trabalhadores. O número representa 10% do total da força de trabalho do negócio em nível global.
Nos últimos meses, empresas de tecnologia estão anunciando demissões e congelamento de contratações. Tesla, Netflix e Microsof são alguns dos nomes que também passam por esse momento.
Dados da empresa Crunchbase, especializada em tecnologia, mostram que houve 43 reportagens sobre demissões na primeira semana de maio nos Estados Unidos. Esse é o maior número desde setembro de 2020, quando o país ainda não tinha começado a vacinação contra o novo coronavírus.
O movimento reflete o humor que abateu o setor tecnológico norte-americano, motivado pela ampla liquidação de ações, à medida que os investidores se retraíram com a desaceleração do crescimento econômico e o aumento da taxa de juros.
Embora uma demissão em massa não seja inédita no mundo dos negócios, tampouco no atual momento, a forma de conduzir o assunto que a Shopify adotou foi um tanto incomum. Normalmente, ao enfrentar crises, as empresas ocultam o máximo de informações de seus funcionários e do público em geral.
O anúncio da Shopify chegou ao conhecimento público através de um comunicado do CEO da empresa, Tobias Lütke, no blog da Shopify. No comunicado, que foi publicado poucos minutos antes de cada funcionário ser informado sobre a demissão, Lütke transparece a crise vivida, explica os motivos do corte e assume os erros na projeção de vendas no e-commerce.
Segundo o comunicado do CEO, a maior parte das funções afetadas está em recrutamento, suporte e vendas. Além disso, toda a empresa passa por uma avaliação para eliminar funções superespecializadas e duplicadas.
Em sua carta aos funcionários, o CEO explica melhor: "Apostamos que o mix de canais e o volume de transações através do comércio eletrônico - em vez do varejo físico - avançaria permanentemente em 5 ou até 10 anos. Não podíamos ter certeza na época, mas sabíamos que, se houvesse uma chance de que isso fosse verdade, teríamos que expandir a empresa para corresponder. Agora está claro que essa aposta não se concretizou”.
“Os dados mostram que estamos revertendo ao cenário pré-covid, com a reabertura das lojas físicas. O e-commerce ainda cresce de forma constante, mas não foi o salto significativo que esperávamos. Em última análise, fazer esta aposta era a minha decisão e eu errei. Agora temos que ajustar. Como consequência, temos que nos despedir de alguns de vocês hoje, e eu sinto muito por isso”, diz.
Em um chamado pacote de benefícios, o executivo conta que os afetados receberão 16 semanas de indenização e a empresa trabalhará em serviços de recolocação com acesso a coaching de carreira, suporte para entrevistas, elaboração de currículos.
Também seguirão subsidiando os custos de internet para ex-funcionários por um período, doarão o mobiliário de home office e haverá a possibilidade de adicionar os endereços de e-mail a uma lista que será compartilhada com outras empresas em busca de talentos. Para aqueles que se sentem atraídos pelo caminho do empreendedorismo, a empresa oferece uma conta gratuita.
Para os que ficam, Lütke deixa claro que a atual missão é apoiar diretamente aqueles que fazem da Shopify um negócio - ou seja, comerciantes, empresários e donos de pequenas empresas -, a base da economia e os mais atingidos durante as recessões.
"Temos um objetivo claro nestes tempos macroeconômicos desafiadores e usaremos tudo o que temos para ajudá-los a ter sucesso e sair mais fortes", conclui o executivo.
FOTO: Divulgação