O Brasil sob ataque
O que aconteceu é grave: a violação do sigilo das comunicações de altas autoridades constituídas do País
“Foi o crime que violou o telefone do Sérgio Moro”.
Foi o que pensou muita gente assim que a notícia circulou no fim da semana passada. Imaginou-se logo que tipo de delinquente pudesse estar por trás de tão audaciosa investida e a quem estaria servindo. Às facções criminosas, ao narcotráfico internacional preocupado com a movimentação de Moro pelos países vizinhos?
As coisas poderiam ter ficado por aí, enquanto não se completassem as investigações.
Mas não. Aquela velha e prosaica visão do bandido não se aplica mais ao crime no Brasil de hoje.
Acordamos nesta segunda-feira (10/06) com a notícia trocada de sinal. O Ministro da Justiça que teve a vida pessoal, o sigilo profissional e os dados institucionais violados sendo atacado por órgãos da imprensa.
E outras autoridades -tão responsáveis quanto ele pelo enfrentamento do maior problema do Brasil -atacando a maior operação de combate à corrupção no mundo.
Sim, foi o crime que violou o telefone de Sérgio Moro. Os fatos revelados na noite de domingo confirmam. O que ninguém poderia esperar é que um crime servisse tão bem ao crime.
A inspiração da bandidagem se baseia em um simplismo típico de cinema alternativo. Se o Estado pode espionar, pode gravar as conversas das pessoas, por que não se pode expor as comunicações e as confidências das autoridades?
A resposta, claro, não cabe aos bandidos, mas a nós. E ela é simples: porque vivemos em um Estado de Direito democrático.
O desaparecimento da distinção entre o público e o privado é uma das mais graves violações das liberdades e das garantias asseguradas pelo Estado.
Não se pode admitir que conversas havidas na intimidade dos círculos pessoais e profissionais, de quem quer que seja, venham a ser reveladas e usadas à revelia da Justiça.
E cabe unica e exclusivamente a ela autorizar quem pode ter seu sigilo quebrado. Se assim não for, acabou-se o Estado e voltamos ao estado da natureza, de todos contra todos, segundo a lei do mais forte. Ou do mais rico.
Que há alguma coisa muito errada acontecendo, não há dúvida. O clima de vale tudo político que estamos importando vem destruindo as instituições democráticas no Ocidente, inclusive no Brasil.
O que aconteceu é grave: a violação do sigilo das comunicações de altas autoridades constituídas do País. Não apenas uma questão de Justiça, mas também de Segurança Nacional.
Mas é de todo lamentável que em alguns dos mais importantes gabinetes da República nem se desconfie que é o Brasil que está sob ataque.
FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil
**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio