O biólogo que virou empreendedor, com a mira em resultados

Saiba como Gilson Julião da Silva (à esq.) e o sócio Reinaldo transformaram a Exterminex, um pequeno negócio de controle de pragas, em uma empresa que fatura quase R$ 2 milhões por ano

Karina Lignelli
03/Abr/2019
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O biólogo que virou empreendedor, com a mira em resultados

Não tem jeito: quem nasceu para empreender, em algum momento vai libertar seu "espírito animal". A figura de linguagem, criada pelo economista britânico John Maynard Keynes, ilustra o que leva um empresário (ou aspirante a) a acreditar que, o que ele investir de capital e de trabalho vai trazer ganhos - e lucros -no futuro. 

Foi nesse espírito que o jovem biólogo Gilson Julião da Silva, 32, criou há sete anos a Exterminex, prestadora de serviços de controle de pragas urbanas, em seu bairro, o Campo Limpo (Zona Sul da capital paulista), a partir de um investimento de R$ 2 mil, valor da rescisão recebida após trabalhar como promotor de vendas.  

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Ao concluir o curso na Unip (Universidade Paulista), Gilson foi estagiário e depois, contratado, por uma empresa especializada em dedetização e movimentação de reservatórios, onde assinava laudos e certificações sobre os serviços. E então, o tal espírito empreendedor do biólogo começou a dar seus primeiros sinais.

"Vi que esse mercado apresentava grande possibilidade de ganhos reais", conta. "Mas também percebi que era carente de bons profissionais e de empresas sérias que visavam não só lucro, mas a satisfação do cliente." 

Sem perder tempo, decidiu abraçar a oportunidade e logo abriu a empresa como MEI, quando o limite de faturamento para se enquadrar na categoria ainda era R$ 36 mil/ano (hoje é R$ 81 mil).

Usou os R$ 2 mil da rescisão na montagem de um site para divulgar o tipo de serviços que a Exterminex passaria a oferecer. Com o aumento rápido na procura, ele acabou convidando seu antigo colega de trabalho, Reinaldo Felipe, 39, para participar da empreitada.

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Resultado: após erros e acertos, o pequeno negócio se tornou uma empresa com 16 funcionários, que atende toda a Grande São Paulo (incluindo o ABC e o Litoral). Crescendo dois dígitos, e faturando, em média, R$ 150 mil mensais - ou quase R$ 2 milhões por ano -, a empresa prepara-se para abrir filiais no interior paulista.    

E tudo isso com um modelo de gestão à vista baseado em resultados, como indicadores de performance, metas, fluxogramas, reuniões de alinhamento com a equipe e até ciclos PDCA (método de gestão de qualidade para organização dos processos dentro de uma empresa). E muito estudo para saber atingir seus objetivos.  

"Trabalhamos com uma cultura de resultados, de alcançar metas para alavancar vendas", diz Gilson, ao revelar que, desde sempre, foi movido a desafios e a entregar além do necessário. "Quando via outras pessoas progredindo, pensava: porque eu também não posso?", conta. "Isso me incentivou a criar o negócio próprio." 

ESTRATÉGIA É TUDO

Deu certo: essa cultura de resultados ajudou a ampliar as vendas de serviços e fez a Exterminex crescer aos poucos. Enquanto a gestão operacional ficou a cargo de Reinaldo, Gilson assumiu o administrativo. E a dupla passou a colocar em prática uma forma de administração um pouco diferenciada dos recursos que entravam. 

Então, adotaram uma das máximas principais para ter um negócio próprio de sucesso: não misturar pessoa física com pessoa jurídica. "O que tiramos de pro-labore é o mesmo que pagaríamos paraa um profissional de fora executar a mesma função, nem mais, nem menos, e adequamos ao nosso consumo e aos custos fixos."

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As regras de gestão financeira, eles também aprenderam direitinho. "Se retiraramos muito mais do que a empresa pode pagar, ela sofreria muito para manter o fluxo de caixa e o capital de giro", afirma. 

Para manter a empresa andando pelas próprias pernas, semestralmente os sócios dividem a participação de lucros pela metade e, cerca de 10% a 15% desse montante é reinvestido na empresa, seja em equipamentos, novos sistemas e produtos, cursos ou em divulgação.  

"Antes, se o lucro fosse alto, eu pegava R$ 100 mil e comprava carro, equipamentos de última geração...", conta. "Mas quando mudamos a forma de administração, o crescimento da Exterminex se potencializou." E potencializou mesmo: segundo Gilson, a empresa vem mantendo a meta de crescer 23% ao ano. 

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Exceto em 2018, por conta da economia em marcha lenta e da polarização eleitoral, quando a empresa cresceu "apenas" 11%. "Não crescemos 300% como uma startup", brinca. "Mas tivemos um resultado muito legal para uma empresa tradicional", acredita o jovem empresário. 

A virada estratégica nas finanças da empresa, que contou com ajuda da Academia do Dinheiro, do professor Mauro Calil, mudou até a visão de Gilson para suas finanças pessoais. "A consciência financeira aumentou: não importa quanto entra, mas o quanto sai. Afinal, não adianta ganhar R$ 1 milhão e gastar R$ 999." 

Se antes o fundo de reserva da empresa ficava meio "largado" num fundo de renda fixa, que rende pouquinho, segundo Gilson, a Exterminex aprendeu que poderia aportar o dinheiro numa carteira diversificada de ações e com boa rentabilidade, que inclui a bolsa e até bitcoins, que oferece resultado melhor no curto prazo. 

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"Aportamos melhor um dinheiro que não sabíamos direito como utilizar, e vimos um aumento real no patrimônio da empresa", conta. "Passamos até a locar equipamentos ao invés de comprar: em vez de deixar esse recurso parado, direcionamos tudo para a lucratividade e só usamos quando é realmente necessário."

PARA OS OLHOS BRILHAREM 

Para quem conhece a Exterminex, a impressão que dá é que a empresa nasceu pronta. Mas não foi sempre assim: sem formação na área e com parcos conhecimentos em administração, Gilson conta que, no começo, a condução dos negócios era realizada meio de forma "braçal", sem muito planejamento. 

"Trabalhando juntos, passamos a vender mais serviços", conta. A empresa foi tomando corpo e ficando mais robusta. "Mas aos poucos, nos perdemos: a gente entendia do serviço e sabia executar o trabalho, mas não sabíamos nada de administração. E então, tivemos que recorrer a terceiros. E voltar a estudar."

A maratona começou com todos os cursos possíveis de gestão e planejamento no Sebrae. Mas, de repente, "o Sebrae ficou pequeno", brinca Gilson, já que a empresa crescia. E lá se foram os sócios atrás de mentores, administradores, assessorias empresariais, de palestras de empresários de sucesso, como Abílio Diniz e Jorge Paulo Lemann, conheceram o universo das startups ("foco no crescimento rápido e exponencial)... 

Acabaram chegando ao famoso "modelo Ambev de gestão", baseado em metas agressivas e celebrizado por seu rigor na busca de resultados financeiros. "Temos uma cultura muito forte de meritocracia: 70% do salário é fixo e 30% é baseado em metas: quem entrega mais, leva a maior fatia do bolo", diz Gilson. 

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Assim como numa startup, o ambiente de trabalho - que tem mais uma bióloga e as áreas financeira, comercial, de qualidade e operacional, - é mais jovem, mais descolado e "com uma pegada diferente", afirma. O que não significa que não existam metas - todas atingíveis, segundo o empresário.

"É mais para tirar da zona de conforto", garante.   

Mas nesses sete anos, independente dos tropeços administrativos do começo, um dos erros que a Exterminex não cometerá mais, segundo Gilson, será contratar pessoas que não estejam alinhadas à sua missão e valores e  não tenham vontade de fazer a diferença. Muito menos sem a assessoria de uma boa empresa de RH.

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"Tem gente que diz: 'meu sobrinho não está fazendo nada, você não quer contratá-lo?' E você acaba contratando", conta. "A minha dica é: nunca empregue quem você não pode mandar embora", diverte-se.   

Independente dos deslizes e do sucesso em sua área de atuação, quais as expectativas para a Exterminex? Bem interessantes, segundo Gilson, já que há boas perspectivas de crescimento e expansão. “Estou confiando que o Brasil melhore. E depois da (aprovação) reforma da Previdência, a economia vai alavancar mais”, acredita.

Mas, mesmo com seu espírito empreendedor e já delineando um perfil de homem de negócios arrojado, seu objetivo é um pouco mais romântico. “Queremos criar novos líderes e buscar outros projetos que façam os nossos olhos brilharem novamente”, finaliza. Alguém se habilita? 

FOTO: Arquivo pessoal

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