Novo Masp abre e passa a ter dois prédios sem usar lei de incentivo

Após seis anos de obras, prédio ao lado do museu foi inaugurado. No segundo semestre, edifícios terão passagem subterrânea

Vitor Nuzzi - DC News
28/Mar/2025
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Novo Masp abre e passa a ter dois prédios sem usar lei de incentivo

Neste dia 28 de março, o casal Lina e Pietro Maria Bardi se reencontra na Avenida Paulista, 57 anos após o mais importante museu de arte do Hemisfério Sul, o Masp (Museu de Arte de São Paulo), desembarcar na via em que se tornaria cartão-postal.

A arquiteta modernista Lina Bo Bardi (1914-1992) dá nome ao icônico prédio sustentado por arcos vermelhos sobre o vão livre, inaugurado em 1968, onde mais de 11 mil peças da Antiguidade ao século 21 compõem o acervo permanente. E seu então marido, o negociador de arte e expositor Pietro Maria Bardi (1900-1999), durante três décadas a imagem pública do Masp, será o nome do edifício todo preto de 14 andares vizinho ao museu.

A inauguração do segundo imóvel aumentará em 66% a área dedicada a mostras. Há seis anos em obras, o prédio finalmente será aberto, com um conjunto de exposições intitulado Cinco Ensaios sobre o Masp.

A partir do segundo semestre, uma passagem subterrânea ligará os edifícios Lina e Pietro. Assim, diz a administração, “o Masp passa a ser um museu composto por dois prédios”. Incluindo o vão livre de 74 metros, que já foi o maior do mundo, que teve a concessão ampliada. A área total mais que dobra e atinge 21,8 mil metros quadrados.

“O Masp cresceu e ficou maior que seu edifício. Alargar as fronteiras era necessário”, afirmou o diretor-presidente da instituição, Heitor Martins. Segundo ele, as mudanças tornarão o local ainda mais inclusivo, diverso e plural.

Por esse motivo, agora um dos principais critérios de aquisição de obras enfoca trabalhos que participaram de exposições recentes no museu – Histórias Afro-Atlânticas (2018), Histórias das Mulheres, Histórias Feministas (2019) e Histórias Brasileiras (2021-22). Nesse contexto, segundo o museu, foi feita a atual exposição de longa duração (Acervo em Transformação), na qual a primeira fileira é inteiramente dedicada a trabalhos de artistas negros e a segunda, a de artistas mulheres, incluindo o icônico cartaz em português das Guerrilla Girls, de 2017, uma crítica à pouca presença de mulheres que havia na mostra do acervo — porcentual que segundo o próprio Masp era de 6% e que atualmente passa de 20%. “Ainda há muito trabalho a ser feito.”

A jornada do Masp é longa e robusta. Foi inaugurado em 1947 por Assis Chateuabriand, conhecido como Chatô, empresário da comunicação e dono dos Diários Associados, um conglomerado de veículos. A primeira sede foi na rua 7 de Abril, no Centro de São Paulo. Chatô não chegou a ver o prédio da Paulista pronto: morreu em abril de 1968, sete meses antes da inauguração, que teve a presença da Rainha Elizabeth 2ª. Nos anos 2000, o edifício vizinho, Dumont-Adams, construído na década de 1950, foi adquirido inicialmente pela Vivo. Depois de um período de desacordos e abandono do prédio, as obras para construir o anexo do Masp começaram em 2019.

Segundo o museu, a construção foi financiada exclusivamente por meio de doações de pessoas físicas, sem uso de leis de incentivo – no total, R$ 250 milhões. Alfredo Egydio Setubal, CEO da Itaúsa e presidente do Conselho do Masp, diz que as famílias doadoras entenderam o significado do que estava sendo proposto para essa nova era do museu. “Sem incentivos da Lei Rouanet, só com pessoas físicas, mostramos que a sociedade civil organizada pode, sim, fazer projetos importantes”, afirmou Setubal. “Mais do que uma expansão, estamos construindo um museu para o futuro.”

A mostra Cinco Ensaios sobre o Masp terá, no segundo andar, Isaac Julien: Lina Bo Bardi – Um Maravilhoso Emaranhado. É uma videoinstalação do britânico Isaac Julien com nove projeções simultâneas, exibida em Londres em 2019. As atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres interpretam escritos da arquiteta.

No terceiro andar, Artes da África traz 40 obras do acervo, entre estatuetas, bonecas, tambores, mobiliário e máscaras. No quarto, Geometrias apresentará mais 50 obras, incluindo 20 doações recentes. Um andar acima ficará Renoir, com todas as obras do impressionista francês pertencentes ao acervo do Masp – são 12 pinturas e uma escultura.

Por fim, no sexto andar, Histórias do Masp conta a trajetória da instituição em seus 78 anos. O conjunto de exposição foi viabilizado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), além de patrocínios privados.

Em novembro, a Prefeitura paulistana anunciou concessão gratuita do vão livre para o Masp, pelo período de 20 anos, para realização de atividades culturais. Segundo o museu, o projeto prevê oferecer extensão dessas atividades de forma gratuita e com livre acesso a todos. A ideia é utilizar de forma mais abrangente o vão livre, hoje “um lugar apenas de passagem para a maioria das cerca de 1,5 milhão de pessoas que transitam diariamente pela Avenida Paulista”.

A partir de 10 de abril, por exemplo, será exposta no local a instalação interativa O Outro, Eu e os Outros, do colombiano Iván Argote, com duas gangorras que se inclinam conforme o deslocamento dos visitantes. Além disso, com o novo prédio a escola do Masp terá um andar todo dedicado a atividades pedagógicas. Em 5 de abril, o museu fará o evento Escola Aberta, com atividades gratuitas. Também serão oferecidos cursos sobre as exposições organizadas pela instituição.

O Masp é um lugar obrigatório – para ficar em apenas um exemplo, em seu acervo há a única tela do renascentista Rafael Sanzio em todo o Hemisfério Sul. E agora se agiganta para se manter assim. Obrigatório.

Serviço

Masp (entradas até uma hora antes do fechamento)

Segunda: fechado.

Terça: 10h-20h, entrada gratuita.

Quarta, quinta, sábado e domingo: 10h-18h.

Sextas: 10h-21h, sem cobrança de ingresso das 18h às 20h30.

Preço: R$ 75 (inteira).

É preciso fazer agendamento on-line: masp.org.br/ingressos.

 

IMAGEM: Leonardo Finotti/divulgação

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