No interior paulista, crise têxtil passa longe da Kacyumara

Sem medo de investir, a empresa cresceu 30% nos últimos dois anos. A segunda geração da família, com Vanderley Almeida Júnior (foto), prepara a principal indústria têxtil de Americana para dobrar de tamanho até 2018

Mariana Missiaggia
12/Ago/2016
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No interior paulista, crise têxtil passa longe da Kacyumara

Enquanto a indústria de artigos de cama, mesa e banho fechou 2015 com retração de 10% na produção, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a Kacyumara viu seu faturamento crescer 30% entre 2014 e 2015.

Mesmo com a crise econômica, variações cambiais e o aumento da importação no segmento, a empresa têxtil instalada em Americana completa 54 anos sem ter do que reclamar. Por estar localizada no interior de São Paulo e com clientes no país todo, os números da Kacyumara podem ser lidos como um termômetro do consumo, que tem se mantido estável no estado. 

INTERIOR DE UMA DAS LOJAS KACYUMARA

Cidades como Araçatuba, São José do Rio Preto e a região metropolitana de Campinas permanecem descoladas da recessão vivida pela maior parte do país, de acordo com Vanderley Almeida Júnior, 39 anos, gerente comercial da empresa e membro da segunda geração da família fundadora.

Dentro desse contexto, trata-se de mais um exemplo de redes regionais que estão na contramão da crise do varejo. Motivada pelo crescimento acima da inflação nos últimos dois anos, a Kacyumara tem expectativa de aumentar a participação no mercado até 2018 com sua produção industrial.   

A marca conta com cinco lojas e 350 funcionários e não divulga os números de faturamento.

PLANO DE AMPLIAÇÃO

Fornecedora das principais varejistas do ramo, como Zelo, Camicado e Mundo do Enxoval, a Kacyumara só começou a sentir os efeitos da recessão no primeiro semestre de 2016, período no qual registrou uma queda de 5% no volume de vendas em relação ao mesmo período do ano anterior.

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O número, no entanto, nada teve a ver com a crise e sim com uma mudança estratégica, de acordo com Almeida Júnior.  

Tradicionalmente, a agenda de lançamentos seguia o ritmo dos pedidos e o histórico de vendas da confecção. Esse ano, a empresa preferiu deixar o principal lançamento para a feira Abup Textil, que será realizada de 23 a 26 de agosto.

A Kacyumara tem algo importante a comunicar no evento. Na contramão do setor, em fase de substituir materiais para oferecer produtos a preços mais acessíveis, a têxtil de Americana levará pela primeira vez jogos de cama de 600 fios a preços entre R$ 700 e R$ 800. 

Com o lançamento da linha CASA K, a empresa coloca foco direto na classe A, um público ainda a ser conquistado para chegar à meta de elevar o tíquete médio de R$ 200 para R$ 400.

O lançamento de uma linha premium vem se somar aos movimentos de inovação implantados com sucesso pela empresa nos últimos anos. 

LINHA PET CONQUISTOU NOVO PÚBLICO PARA A KACYUMARA

Em 2014, as vendas foram alavancadas pelas peças estampadas com a tecnologia Illusion, que reproduz imagens com perfeição.

“Essa tecnologia trouxe um público completamente diferente para o nosso universo, que trabalhava com enxovais mais tradicionais”, diz o executivo.

Outro sucesso da marca, a linha Pet, gerou um grande volume de pedidos e exigiu mudanças na operação depois de levar a atrasos de mais de 60 dias na entrega das peças, em 2015. Habituada a cumprir prazos, a Kacyumara usou mais de 270 mil metros de tecido com estampas de cachorro para atender a demanda.

As iniciativas para sustentar o plano de crescimento prevêem a abertura de uma nova loja, ainda em 2016, e a ampliação da loja matriz, em Americana. Na confecção, prepara o lançamento de produtos licenciados para o público infantil e teen.

Se não ligam para a crise, os gestores da Kacyumara também tiram a concorrência chinesa de letra. Para não ficar em desvantagem diante do país responsável pelo mau desempenho do setor têxtil brasileiro, a empresa importa tecidos do Paquistão, China e Índia e trabalha com matéria-prima nordestina para a produção de 200 mil peças por mês. 

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MÃOS DE OURO

O negócio começou como uma atividade para a família. Maria Aparecida, Cacilda e Maria Lucia Panfilio moravam com os pais em São Pedro, a 180 quilômetros da capital. Cresceram ajudando a mãe talentosa a costurar e bordar. 

O dote reconhecido transformou-se em um pequeno negócio rentável, que produzia os enxovais preferidos das famílias abastadas da região. Enquanto uma costurava, as outras bordavam, a mãe engomava e os irmãos entregavam. 

O sucesso das peças feitas à mão pelo trio chegou aos ouvidos do empresário Guilherme Campos, proprietário de uma loja tradicional, em Campinas. Ele fez a primeira grande encomenda. Na época, as irmãs contrataram até amigas da escola para ajudar com as costuras.

AS IRMÃS COSTURANDO COM A MÃE

O faturamento cresceu e facilitou a formalização da confecção e a abertura da primeira loja, em 1968. A cidade-sede foi escolhida com visão estratégica. Na época, Americana, a 114 quilômetros de São Paulo, era um pólo da indústria têxtil, que representava 80% do PIB do município. Hoje, esse número caiu para 25%.

O nome definivo da empresa, Kacyumara, faz uma junção dos nomes das três irmãs.

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Junto com a empresa, a família também cresceu. Seis herdeiros da segunda geração, como Almeida Junior, ocupam diversas funções sob o comando de Cacilda, Maria Aparecida e Sonia Pamfilio. 

Quando o executivo entrou na empresa, a marca fundada por sua mãe e pelas tias ainda não cobria todo o mercado nacional. "Decidi investir na venda direta”, lembra o gerente comercial. “Enchia o carro com jogos de cama, e viajava para outros estados vendendo de porta em porta."

A estratégia empreendedora deu certo e, em menos de um ano, os deslocamentos de Almeida Júnior deixaram de ser necessários.

Contagiado pelo negócio da família, ele começou atuando na área financeira, passou a supervisor de vendas, até se tornar gerente comercial. "Somos uma empresa familiar e queremos preservar essa essência."

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