No Dia do Comércio Exterior, Brasil comemora mais um ano de recordes
Mesmo em cenário adverso, balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 61 bilhões, maior saldo positivo desde 2017, puxado pelos esforços de empreendedores que foram além das fronteiras
No dia 28 de janeiro de 1808, o rei D.João VI assinou o decreto de abertura dos portos brasileiros. Hoje, 214 anos depois, na data que foi chancelada como Dia do Comércio Exterior, o Brasil comemora um novo recorde.
Em 2021, mesmo em cenário ainda adverso para os negócios pelos dois anos de pandemia e desafios como a alta do frete internacional, a disparada do dólar e atrasos na logística marítima, a balança comercial brasileira encerrou com saldo positivo de US$ 61 bilhões.
Este saldo, resultante dos US$ 280,4 bilhões em exportações e US$ 219,4 bilhões em importações, representa uma alta de 35,8% em relação ao saldo de 2020, e supera o recorde de US$ 56 bilhões registrados em 2017, segundo dados divulgados pelo Ministério da Economia.
Mas, das trocas de produtos e serviços realizadas desde os primórdios da civilização, à globalização que transformou o Brasil em um player importante do comércio exterior, o saldo positivo é resultado do esforço de pequenos, médios e grandes empreendedores que se internacionalizaram e conseguiram até driblar crises ao diversificar mercados.
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Além de melhorarem os próprios resultados, a importância de atuar em comércio internacional é inegável por trazer inúmeros ganhos ao país, diz Rita Campagnoli, vice-presidente de comércio exterior da Associação Comercial de São Paulo e presidente do Conselho Deliberativo do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (Ceciex).
Segundo ela, esses ganhos vão além do crescimento da economia. "Eles envolvem o acesso à tecnologia e à inovação em produtos, sistemas e processos, e isso diminui os riscos da atividade interna e leva diversificação ao mercado consumidor, entre tantos outros benefícios."
A ampliação da inserção internacional e das trocas comerciais brasileiras com grandes economias pode ser medida em números. Segundo o Ministério da Economia, em 2021 subiram as exportações para os Estados Unidos (44,9%), Mercosul (37%), Associação das Nações do Sudeste Asiático - Asean (36,8%), União Europeia (32,1%) e China (28%).
MUITO A TRABALHAR
Ainda que a abertura dos portos brasileiros remeta a mais de dois séculos, o trabalho de desenvolvimento do comércio exterior brasileiro é um fato de certa forma recente, segundo Rita.
Começou a ganhar força na década de 1970, quando praticamente só eram permitidas exportações e havia excesso de regras e dificuldades para importar, conta. Só no início dos anos 90 o mercado se abriu para importações.
A partir desse momento, o comex brasileiro passou a crescer não só por conta da melhora da sistemática e da diminuição da burocracia governamental nas operações para o mercado externo, destaca, mas também do ponto de vista econômico, já que o país mostrou que tem um portfólio diverso e potencialmente exportável.
Em sua avaliação, é fato que existe uma "lista de commodities" que engrandece o superávit na balança comercial, e as exportações brasileiras ainda dependem muito desses itens. Exemplo disso é a participação em 2021 desses artigos, como aço (101,3%), produtos da indústria extrativa (62,4%) e agropecuários, como soja (35,3%).
Mas, mesmo ocupando uma fatia menor, o atual saldo positivo da balança mostra também que empreendedores estão atendendo o mercado internacional - vide a procura por produtos nativos, como açaí e cupuaçú, inclusive para a indústria cosmética, ou peças com design exclusivamente brasileiro, como moda praia e fitness.
Rita lembra que a ACSP, por meio da sua SP Chamber of Commerce, tem contribuído muito para disseminar estratégias de internacionalização e incentivar que pequenas e médias empresas iniciem essa atuação além das fronteiras, pois há um grande potencial a ser explorado no mercado externo.
"Isso mostra que buscamos cada vez mais a inserção de produtos brasileiros no mercado internacional - inserção essa que garante qualidade, preços competitivos e aprimoramento constante para aumentar sua aceitação."
Porém, mesmo afirmando que vê esse crescimento com alegria, Rita reforça que, para o Brasil intensificar sua participação nos fluxos de comércio e investimentos globais, "há muito ainda o que se trabalhar." Afinal, o share do país no comércio exterior não ultrapassa os 2%.
A ideia, conforme o balanço do comércio internacional, análise feita por Rita anteriormente para o Diário do Comércio, é tornar o comércio exterior brasileiro mais ágil, simples, moderno e menos custoso - pontos essenciais para garantir maior competitividade das empresas brasileiras no mercado externo.
"O diálogo entre empresas e governo tem de ser cada vez mais aberto, constante, próximo e requer posicionamento estratégico, firme, para sedimentar cada vez mais a importância do Brasil como player no comércio internacional."
FOTO: Freepik ARTE: Will Chaussê