Mundo tenta assimilar impacto da decisão de referendo britânico
A União Europeia tem pressa e já marcou reunião para a próxima semana sem a presença do Reino Unido. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tratou a situação como um divórcio não amigável
Líderes mundiais começaram a sexta-feira (24/06) tentando assimilar os impactos da decisão da maioria do povo britânico de deixar a União Europeia (UE). Logo após o resultado do referendo, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou que renunciará ao cargo.
Autoridades francesas, italianas e alemãs lamentam a saída do Reino Unido da UE. O Papa Francisco disse que o referendo expressa a vontade do povo e requer grande responsabilidade para garantia do bem-estar dos britânicos.
Por aqui, o presidente interino Michel Temer negou que haja qualquer impacto direto no Brasil, mas admitiu que a decisão dos britânicos “quebra a possibilidade de uma unidade mais acentuada entre os Estados.”
O premier italiano, Matteo Renzi, disse que a Itália continua comprometida com a União Europeia. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel e o presidente da França, François Hollande, lamentaram o resultado do referendo.
O líder italiano destacou, no entanto, que mudanças são necessárias. "A Europa é nossa casa, o lar de nossos filhos e netos. Mais do que nunca estou convencido de que precisamos de renovações", disse em coletiva de imprensa.
O italiano não acredita que o referendo cause instabilidade no continente. "Estou aqui para dizer que a Itália vai fazer sua parte. O governo e as instituições financeiras estão em condições de garantir estabilidade e segurança", disse Renzi.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, por sua vez disse que o bloco é forte o suficiente para lidar com a situação. Ela declarou que a Alemanha tem um interesse especial e uma responsabilidade com o sucesso da UE e que as autoridades europeias precisam tentar uma relação próxima de Londres no futuro.
A chanceler também lembrou que o Reino Unido continua membro da UE com "todos seus direitos e obrigações" até que as negociações sejam concluídas.
Merkel revelou que um encontro com o presidente da França, François Hollande, e o premier da Itália foi agendado para a próxima segunda-feira (27/06) em Berlim para debater a questão.
François Hollande lamentou "profundamente" a decisão pela saída do Reino Unido e disse que o bloco deverá fazer mudanças para continuar avançando. "A votação britânica é um duro teste para a Europa", concluiu.
Em breve pronunciamento televisionado, Hollande disse que este é o momento para reforçar importantes políticas, como de segurança e defesa, proteção das fronteiras e criação de empregos.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que respeita a decisão do povo britânico de deixar a União Europeia e afirmou que tanto o Reino Unido quanto a UE vão continuar sendo parceiros indispensáveis dos EUA.
"A relação especial entre EUA e Reino Unido é duradoura e a filiação do Reino Unido à Otan continua sendo uma pedra fundamental da política econômica, exterior e de segurança dos Estados Unidos", destacou o presidente norte-americano.
UM PASSO À FRENTE
Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia se reunirão na próxima terça-feira (28/06) na cúpula do bloco ainda com representação dos 28 países membros, mas na quarta (29/06) já terão um encontro informal na sede do Conselho Europeu sem o Reino Unido e seu primeiro-ministro, David Cameron.
A presidência do Parlamento Europeu disse querer a saída britânica o mais rápido possível. “Não faz sentido esperar até outubro para tentarmos negociar os termos de sua saída. Gostaria de começar imediatamente”, disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
“A UE buscará uma abordagem razoável. Não é um divórcio amigável, pois não era uma relação sólida de amor”, afirmou Juncker.
MERCADO
O Fundo Monetário Internacional (FMI) propõe transição suave para a saída do Reino Unido da União Europeia. Em uma tentativa de acalmar os mercados financeiros ao redor do mundo, a diretora do fundo, Christine Lagarde, divulgou comunicado em que afirma que os bancos centrais do Reino Unido e da Europa vão atuar para evitar volatilidade financeira nos mercados.
Nesta sexta-feira, os mercados financeiros em todo o mundo amanheceram agitados com o resultado do referendo. No Brasil, o Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas e de maior valor de mercado) registrava queda de 3,5% às 16h30, aos 49.797 pontos.
O Banco Central (BC) informou, por meio de nota, que está monitorando continuamente os efeitos da decisão dos britânicos de deixar a União Europeia nos mercados global e doméstico. O BC afirmou que adotará as medidas adequadas para manter o funcionamento normal dos mercados financeiro e cambial.
"A economia brasileira tem fundamentos robustos para enfrentar movimentos decorrentes desse processo, especialmente um relevante montante de reservas internacionais, o regime de câmbio flutuante e um sistema financeiro sólido, com baixa exposição internacional”, informou o BC em nota.
BRASIL
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, José Serra, ministro das Relações Exteriores, disse que a saída do Reino Unido da União Europeia pode ser boa para o Brasil.
Segundo ele, a pecuária e o agronegócio podem se beneficiar. Entretanto, o ministro ressaltou que a decisão é negativa do ponto de vista geopolítico. Ele acredita que a decisão dos britânicos vai alimentar os movimentos nacionalistas dentro da Europa.
O Ministério da Fazenda divulgou nota afirmando que o Brasil tem fundamentos econômicos sólidos e dispõe de instrumentos para lidar com turbulências na economia internacional.
Segundo o ministério, “o país tem expressivo volume de reservas internacionais e o ingresso de investimento direto estrangeiro tem sido suficiente para financiar o déficit (resultado negativo) nas contas externas. Esses dois fatores ajudam a conter pressões para a elevação da cotação do dólar.”
*Com agências
IMAGEM: Agência Brasil