MPEs devem metade do que faturam por mês

Pesquisa da fintech Intuit QuickBooks aponta que, com a pandemia, 68% dos negócios estão com as finanças comprometidas, e só 1 a cada 4 conseguiu crédito para ter fôlego extra na quarentena

Karina Lignelli
27/Nov/2020
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MPEs devem metade do que faturam por mês

Se a pandemia pegou o mundo de calças curtas, para os pequenos negócios a surpresa foi ainda maior. Muitos até precisaram recorrer ao crédito para fazer frente aos meses de quarentena. 

Isso porque a saúde financeira dessas empresas se complicou bastante desde o início da crise da covid-19: mesmo que apenas 19% delas estejam em listas de restrição ao crédito (com débitos acima de 90 dias de atraso), 68% estão em zona perigosa, pois suas dívidas equivalem à metade do que faturam por mês.  

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Os dados são de uma pesquisa da fintech americana Intuit QuickBooks, feita nos últimos 15 dias de setembro com 1.067 micros, pequenos e médios negócios no Brasil, sendo 55% do setor de serviços e 35% do comércio.  

O levantamento mostra ainda que 13,5% estão com faturamento comprometido, pois devem valor semelhante ao que costumam ganhar em 30 dias, e 12% têm dívidas de até três vezes o valor das receitas mensais.

Outros 3,5% se encontram em situação ainda mais delicada, pois devem um equivalente que varia entre 3 e 5 vezes o que faturam, chegando a seis vezes a receita para 3% das empresas entrevistadas. 

DIFICULDADE DE ACESSO 

O estudo da Intuit constatou também que, para tentar um fôlego extra, 21% dos empreendedores buscaram algum crédito nos últimos meses. Porém, desses solicitantes, apenas um a cada quatro foram contemplados. 

A explicação, segundo Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), é que os bancos ficaram mais seletivos após a pandemia, pois olham para a frente e avaliam o risco.

E no momento o horizonte não é muito favorável, já que o cenário é de alto desemprego e queda na renda. Por isso, eles se preocupam mais com as MPEs de serviços (bares, restaurantes etc), já que o consumo das famílias ainda está caindo (-36,4% em setembro, de acordo com o IBGE), destaca o economista. 

"Essa área de serviços exige consumo presencial. Também há outros setores de pequenos negócios do comércio, como confecções, onde o consumidor quer experimentar a roupa, e não apenas ver", completa. 

Mesmo com a aprovação da terceira fase do Pronampe, programa de crédito para micro empresas com aval do governo cuja liberação deve chegar a R$ 38 bi, um número bem reduzido delas conseguiu o empréstimo.  

Para Alfieri, o que se pode sugerir é que o governo continue a oferecer linhas de crédito, porém específicas e segmentadas para esses ramos de MPEs. "Mas, em síntese, só quando tiver a vacina esses setores vão voltar à normalidade - o que deve ocorrer no ano que vem", sinaliza.  

CUIDADO COM O 'TAPA-BURACO' 

Outro recorte da pesquisa da Intuit QuickBooks identificou que 72% das empresas consultadas mudaram a forma de lidar com a gestão financeira por causa dos efeitos da pandemia ou por seus reflexos na economia.

Enquanto 35% das entrevistadas passaram a utilizar planilhas para controlar o caixa, mais da metade (56,5%) fez funcionários acumularem funções para otimizar custos e processos internos. Apenas 5% optaram pela contratação de um especialista, ou delegaram a gestão financeira para uma companhia especializada.

Porém, antes de pensar na falta de garantias ou outras dificuldades de acesso ao crédito, o mais importante é o controle financeiro, afirma Lars Leber, gerente regional da Intuit no Brasil. Ainda mais após um período de medidas restritivas e faturamento reduzido. 

"O empreendedor precisa se preocupar em pagar funcionários, fornecedores e realizar a gestão do seu estoque, entre outras coisas", afirma. "O fluxo de caixa é uma ferramenta fundamental para uma boa gestão financeira e, nessa hora, o apoio de um contador consultivo pode fazer a diferença na saúde da empresa.” 

Além do controle financeiro (ou da falta dele), outra questão à qual os pequenos negócios devem ficar atentos é qual o momento certo para recorrer ao crédito. Especialmente em um cenário de pandemia.  

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Francisco Ferreira, fundador da fintech Biz Capital, afirma que o melhor momento para pedir um empréstimo é quando a empresa tem um objetivo concreto para o uso do dinheiro, com planejamento e metas claras. 

"Quando se tem um foco bem definido, o crédito cai como uma luva. Afinal, ele é o recurso financeiro que o negócio precisa naquela hora para cumprir uma finalidade importante e fazer a roda girar."

Capital de giro é um dos principais motivos que levam os pequenos empreendedores a solicitar crédito. Levantamento da BizCapital com mais de 2 mil MPEs realizado em julho último apontou que 54% dos comércios e prestadores de serviços pedem empréstimo por esse motivo. Na construção, sobe para 60%. 

O mais importante, porém, é ter destino certo para o dinheiro, e não utilizá-lo para outros fins, alerta Ferreira. "O empréstimo deve ser visto como provedor de crescimento, e por isso precisa ser planejado e estruturado para caber nas contas. A ideia é que ele ajude o negócio a lucrar, e não a se endividar ainda mais."

E também há momentos, como o atual, em que a empresa não deve recorrer ao crédito se for só para 'tapar buracos' no orçamento. "Nunca é aconselhável, e o ideal é não deixar sua empresa chegar nessa posição. Afinal, endividamento extremo e inadimplência podem virar grandes problemas para qualquer negócio."

FOTO: Thinkstock             INFOGRÁFICO: Will Chaussê

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