Maquininha é o que não falta. Mas é preciso saber escolher
Com o fim da exclusividade para credenciadoras, a concorrência aumentou. Bom para o lojista, já que a taxa de desconto sobre as vendas diminuiu. Mas cuidado para não comprometer o capital de giro
Já José Carlos Zucheran, dono de um estabelecimento que é um misto de café e confeitaria de doces portugueses, é a favor de negociar. Mesmo que isso implique possuir mais de uma bandeira de maquininha na loja. Afinal, o importante é fidelizar o cliente.
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Com o avanço do dinheiro de plástico, receber os pagamentos via cartão de crédito ou débito se tornou prática corriqueira -principalmente no dia a dia dos negócios de pequenos comerciantes ou microempreendedores individuais (MEIs).
Os números dão uma ideia disso: um levantamento da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) mostra que, em 2017, havia 5,1 milhões de pontos com maquininhas de cartão ou terminais eletrônicos de vendas espalhados pelo Brasil, que movimentaram R$ 1,3 trilhão ao longo do ano.
O recente lançamento da “Bradesquinha”, a mais nova concorrente no mercado de aluguel e vendas de maquininhas de cartão, acirrou ainda mais a concorrência entre as credenciadoras após a quebra de exclusividade determinada pelo Banco Central em 2017. Até então, quem dominava eram a Cielo (Bradesco/Banco do Brasil) e a Rede (Itaú).
Hoje, com a entrada de players como Stone, PagSeguro, Sipag e SafraPay, entre outras, o panorama mudou. Se antes o comerciante precisava ter mais de uma maquininha – e custos muito altos – para receber do cliente, agora ele pode escolher.
Taxas abaixo da média, “adesão zero” ou isenção de aluguel são algumas das facilidades que as operadoras passaram a oferecer para tentar atraí-lo. Com isso, o desconto sobre as vendas, que às vezes ultrapassava 3% ao mês, caiu pela metade.
A postura mais agressiva dessas empresas – principalmente da Stone e da UOL/PagSeguro, com a Moderninha e a Minizinha, foram a solução para o pequeno não perder vendas, diz o economista Vítor França, consultor da Boanerges & Cia., consultoria especializada em varejo financeiro.
“O que incomodava era ficar preso ao aluguel da maquininha”, afirma. “Mas os novos entrantes começaram a ganhar mercado no rastro dos milhões de micro e pequenos empreendedores. Com isso, a relação custo-benefício melhorou.”
E melhorou mesmo: para entrar nos estabelecimentos, alguns deles passaram a oferecer taxas de desconto alternativas que chegam a 0,9% nas transações a débito, segundo Douglas Almeida, consultor de projetos de acesso ao crédito do Sebrae-SP.
“Imagine quanto esse comerciante economiza”, diz França. “E a vantagem não é só para ele: também é bom para o consumidor.”
A estratégia das novatas atraiu até o Bradesco para a briga. “Tanto que ele lançou uma 'cópia da cópia', bem empacotada, para atingir esse segmento com a força de vendas que ele tem. Bom para o lojista”, diz França.
PÚBLICO DISPUTADO
Receber pagamentos de todas as bandeiras de cartão com uma só maquininha representou grande avanço para o pequeno comerciante diminuir custos e aumentar as vendas.
Tanto que o assédio das credenciadoras para ver quem oferece condições mais vantajosas é uma constante no dia a dia de lojas como a Tipinhos, segundo a comerciante Tereza Mattos.
"Elas até brigam entre si para tentar entrar com a maquininha", diverte-se. Mas os tempos de refém de dois alugueis e dos maus serviços prestados diante da concentração de mercado, ou da necessidade de ter conta em determinados bancos para ter acesso ao serviço ficaram para trás.
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Atualmente, Tereza trabalha só com a Getnet, do Santander e, por ser correntista do banco, não paga aluguel. Também negociou a taxa de desconto, que fica abaixo de 2%, pois é vinculada a metas de faturamento. Ou seja, quanto mais se vende a débito e a crédito, menor a taxa. "Hoje, sobra mais dinheiro no meu caixa", comemora.
Pesquisar e avaliar qual das maquininhas se encaixa melhor em seu negócio força as credenciadoras a baixar a taxa e rever seus modelos. É o que afirma Douglas Almeida, consultor do Sebrae-SP.
"Há também mais opções que não dependem de maquininhas, como a conta digital, da Next, ou o link de pagamento de empresas como PagSeguro/UOL ou conta.MOBI", diz. Esse último, inclusive, pode ser enviado pelo Whatsapp.
Mas, há alguns casos específicos, como restaurantes e lanchonetes, que preferem ter até duas ou mais maquininhas de cada operadora: além de tentar driblar uma possível perda de sinal, já que muitas operam com chip de celular, a ideia é dar mais agilidade aos pagamentos em horários de pico.
Outra motivação é oferecer uma opção a mais para os clientes: na Maria Cristina Doces, localizada no Centro da capital paulista, o proprietário José Carlos Zucheran tem uma maquininha da Stone, pelo custo menor, e outra da Cielo, que aceita bandeiras internacionais, como Amex e Diner's Club.
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Já em sua fábrica de doces artesanais, localizada na Zona Norte e que conta com uma loja anexa, Zucheran opera com uma da Getnet.
"Meu produto é de giro rápido, e pelo menos 80% das vendas passam por maquininhas. Então, não dá para ter uma só", afirma. Os custos das três representam entre 1,3% e 2% do seu faturamento.
O ideal, segundo Zucheran, é sempre negociar bem as taxas. Mas custo não é sua maior preocupação. "O importante é oferecer um produto que fidelize o cliente", diz.
Como, em geral, não mais há necessidade de ter mais do que uma maquininha, é interessante sempre conversar com vários bancos e credenciadoras, para comparar condições de isenção de aluguel e redução de taxas. Inclusive de antecipação de recebíveis, segundo Vítor França, da Boanerges & Cia.
Isso porque, diante da quebra e aumento da competição, as empresas querem mais é ganhar mercado. “Às vezes, o lojista trabalha há anos com a mesma, e não percebeu que há gente nova”, afirma. “Mas vale a pena conversar, pois dá para baixar e muito os custos da venda com cartão.”
QUANTO MENOS GASTAR, MELHOR
Apesar de o momento ser bom, é preciso alguns cuidados. E um dos principais diz respeito ao que parece ser a maior facilidade oferecida quando se fala em maquininha de cartão para o lojista no aperto: a antecipação de recebíveis.
Almeida, do Sebrae-SP, dá um exemplo. Imagine que o lojista parcele a compra do cliente em quatro vezes, mas usa a antecipação para pagar o fornecedor à vista ou em 15 dias, no máximo.
“Se o empresário não tem dinheiro na conta para pagar os boletos, nem pensa: pega a maquininha e manda antecipar tudo o que tem”, diz.
Em geral, a antecipação tem taxa adicional média de 2% ao mês. Se o lojista vendeu R$ 1,2 mil em seis parcelas, paga a taxa multiplicada pelo número de vezes. “Faz uma grande diferença, e a conta não costuma fechar”, afirma.
Quando acontece com certa frequência, muito provavelmente o lojista também não contabilizou essa antecipação no preço do produto, afirma o especialista.
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É quando a situação complica, já que, a taxa média de 12% e 15%, ele perde na venda por conta da antecipação. “Não tem caixa que aguente”, diz.
Se a antecipação for realmente necessária, o ideal é prever esse parcelamento no capital de giro. Ou optar por outras formas de recebimento bem menos custosas e que não dependam de maquininhas, como já citado anteriormente.
"Tem um monte de fintech chegando para aumentar ainda mais a competição. Quer cenário melhor que esse?”