Livro tenta desvendar a alegria (e a angústia) de ser brasileiro

Escrita pelo cientista político Rubens Figueiredo, publicação procura entender, com dados e humor, como o Brasil pode ser bem classificado nos rankings internacionais de felicidade, mesmo com uma qualidade de vida que deixa a desejar

Karina Lignelli
22/Nov/2024
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Livro tenta desvendar a alegria (e a angústia) de ser brasileiro

O brasileiro precisa ser estudado. A frase, que sintetiza como os "reis dos memes" driblam as agruras cotidianas ou fazem piada de si mesmos, citada dia sim, dia não tanto em redes sociais como em programas de TV, dá uma ideia do que levou o cientista político Rubens Figueiredo a escrever "Sofrendo feliz da vida - a alegria e angústia de ser brasileiro" (Ed.MM, 2024). 

Uma renda tão mal distribuída, que faz com que os ganhos da população mais pobre do Vietnã sejam 20% mais altos (mesmo que o Brasil seja uma economia mais avançada). Cinquenta milhões de brasileiros que vivem sem saneamento básico decente. Estado caro e gigantesco que privilegia os ricos e é ineficiente. Uma sociedade com os maiores índices de homicídios do mundo. População mais ansiosa e com alto índice de hipertensos.

Mas... mesmo com indicadores de IDH, educação, saúde, corrupção, desigualdade e facilidade para fazer negócios que deixam a desejar, o Brasil é bem classificado nos rankings internacionais de felicidade.

Qual a razão para que, mesmo vivendo mal, sejamos felizes?, questiona o autor. Desfilando referências baseadas não só em dados sócio-político-econômicos, mas também na cultura popular - e citando grandes mestres, de Ariano Suassuna a Tom Jobim, a "filósofos" contemporâneos, como Zeca Pagodinho e Tim Maia, ambos com suas tiradas bem-humoradas (e inacreditáveis) -, Figueiredo procura desvendar de onde vem tanta animação.  

Quando se examinam levantamentos internacionais que medem a felicidade dos povos, verifica-se que, apesar de nossos indicadores sociais serem "horríveis", o brasileiro é feliz, reforça.

"Mais do que isso: uma pesquisa da Ipsos mostra que o brasileiro é feliz mesmo estando insatisfeito no plano amoroso, profissional, de moradia, de segurança... Por outro lado, existem estudos consagrados que mostram que a desigualdade de renda gera atrito social e infelicidade. Vamos na contramão de tudo isso!", se espanta. 

Seriam então fatores históricos, de miscigenação ou culturais (ou de falta de cultura), que fazem com que o brasileiro, mesmo na maior dificuldade, não deixa de fazer seu churrasco, tomar uma cervejinha nem esquecer as mazelas com futebol? A resposta não é tão simples, já que é razoável supor que a felicidade tenha relação com a qualidade de vida e, em grandes agregados sociais, era de se esperar que essa evidência ficasse mais forte, explica o autor.

Ou ainda, será uma espécie de "zeitgeist eterno" dos brasileiros: sempre esperar o melhor, viver sonhando - questões que Figueiredo também aponta no livro? Talvez a miscigenação cultural e de raças seja uma das respostas -, a ponto de um cientista político americano, Samuel P. Huntington, dizer que "não fazemos parte da civilização ocidental", destaca o autor.

"O brasileiro é único. Nós somos misturados. E os ingredientes dessa mistura também, portugueses e africanos já vieram miscigenados. Brasileiro é bem-humorado, afetivo, resiliente. E não levamos o Brasil muito a sério. Adoramos fazer gozação de nós mesmos", diz, lembrando que, não por acaso, cerca de 70% dos filmes nacionais de maior bilheteria são comédias.

A certa altura do livro, Figueiredo aborda até como um estrangeiro não-intelectual analisa nosso povo, pegando os exemplos de um alemão e uma russa. "É sensacional. Eles dizem que temos o que eles não têm: leveza, proximidade das pessoas, carinho. Rimos das nossas dificuldades. A russa Olga disse até que se transformou como ser humano depois de morar aqui três anos. Ficou mais 'melosa' (começou e desejar que todos 'dormissem com os anjos'). E mais diplomática, querendo saber mais as histórias de sua família", diverte-se. 

Em resumo: mesmo com uma sociedade hoje dividida por "certezas", com espaço para eclosão e permanência do conflito, além de polarização e cisões em movimentos identitários ("'A luta antirracista não é um empreendimento contra o racismo; é em favor da luta'", diz, citando o filósofo baiano Thiago Ribeiro), temos "uma escola de samba dentro da gente batendo bumbum paticumbum prugurundum que nos impulsiona". E a realidade é algo secundário, analisa, após fazer referência ao emblemático samba-enredo campeão da Império Serrano de 1982.  

Nas palavras do cientista político Sérgio Fausto, na quarta capa, o leitor não encontrará resposta definitiva sobre a questão, mas "boa prosa, onipresente senso de humor e observações perspicazes."

Ou, como diz a jornalista Denise Campos de Toledo, na orelha, o livro nos faz reavaliar o que temos feito por nossa própria felicidade. "Será que estamos fazendo o melhor?", questiona. Vale a leitura (e uma boa sessão de autoanálise).

Outras personalidades, como Michel Temer, Andrea Matarazzo, Antonio Lavareda, Eduardo Oinegue e Gaudêncio Torquato também comentam a obra e o autor na quarta capa. "Sofrendo feliz da vida - alegria e angústia de ser brasileiro" será lançado na próxima segunda-feira, 25/11, com sessão de autógrafos do autor na Livraria da Vila da Alameda Lorena, 1.501, das 18h às 22h.

 

IMAGENS: Divulgação

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