Internacionalização volta ao radar do franchising
Com a diminuição de casos de covid e a reabertura de fronteiras, redes iniciam ou retomam estratégias para diversificar mercados - como a Casa do Construtor, que chegará a 10 lojas só no Paraguai
Em cenários de crise, é comum que as empresas diversifiquem os mercados, e com o franchising não é diferente. Com a reabertura das fronteiras após o período crítico da pandemia, diversas redes retomaram ou decidiram colocar em prática seus planos de internacionalização no curto, médio e longo prazo.
Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) dão uma ideia disso. Em 2021, esse movimento avançou 12,27% na comparação com 2020, subindo de 163 para 183 marcas nacionais que optaram por fincar suas bandeiras em outros países. O número de novos mercados também cresceu nessa comparação, de 106 para 114.
Entre os 10 principais destinos para criar uma base e, quem sabe, expandir a partir dali, estão no pódio Estados Unidos, que aumentou de 61 para 69 redes de 2020 para 2021, Portugal, de 41 para 51, e Paraguai, de 36 para 44.
Mas fica uma pergunta: em cenário ainda instável, o ambiente é propício para alçar esse tipo de voo? Lyana Bittencourt, CEO do Grupo Bittencourt, especializado em franquias, afirma que sim: o momento é bom devido à retomada gradual do pós-pandemia.
"Mesmo com alguns poucos países tendo casos de covid-19, a tendência é de queda, e a vacinação, em grande parte deles se mostrou um sucesso e a melhor resposta no combate ao vírus."
Porém, a especialista alerta que é preciso alguns cuidados. Ao entrar em um novo mercado, é preciso realizar estudos sobre legislações pertinentes, agências reguladoras, autorizações e burocracia antes de implantar o negócio.
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Também é importante iniciar a expansão de maneira regular no mercado de destino para otimizar tempo e custo, afirma. Além das questões legais e regulatórias, avaliar a relação comercial entre os países é fundamental.
"Alguns adotam regras de proteção ao consumo de produtos locais, que podem tirar a competitividade do seu produto ou serviço."
Estudar a cultura, o idioma e o mercado locais também são essenciais, diz Lyana. Por isso a maioria opta pelo mercado americano ou os de língua latina.
Sempre é bom ter um plano de longo prazo que considere, além dos custos, a estrutura de pessoal necessária para a empreitada. Assim como preparar-se para a complexidade do abastecimento, a estruturação da equipe de apoio internacional, a movimentação de recursos entre países e seus impactos sobre os impostos.
"Com esses pontos levados em conta, a expansão é mais um passo sólido para negócios que não veem as fronteiras como limitações, e sim como conexões e novas possibilidades", sinaliza a especialista.
Confira algumas redes que têm direcionado suas estratégias ao mercado global:
Calçados Bibi - Exportando para mais de 70 países desde a década de 1970, e com lojas no exterior desde os anos 1990, a marca de calçados infantis conta que manteve os planos de expansão internacional traçados antes da pandemia.
Com foco principal na América Latina e Portugal, a Bibi já tem oito lojas no Peru, seis no Equador, uma na Guatemala e inaugurou a primeira no Chile agora em maio - país que recebeu o primeiro e-commerce internacional na pandemia.
Agora, a marca mantém o objetivo estratégico de ter ao menos 100 lojas Bibi nestes mercados até 2030. Só em 2022, estão previstas 10 inaugurações.
O processo será facilitado pelas parcerias comerciais de longa data, segundo o gerente de exportação Mateus Giaretta. "Esses parceiros, que atuam por meio das exportações da marca nos cinco continentes, tornaram-se franqueados nos países onde expandimos pelo modelo de franchising", explica.
Casa do Construtor - Presente no Paraguai desde 2018, onde iniciou sua expansão, a rede especializada em locação de equipamentos para construção civil, pequenos reparos, manutenção, limpeza pesada e jardinagem volta a se concentrar na estratégia de diversificar mercados.
Com três unidades no país, sendo a mais recente em Assunção, comandadas pelo primeiro franqueado internacional, Gino Pavetti Villalba, a Casa do Construtor agora se prepara para abrir mais sete lojas por lá nos próximos três anos.
O projeto de chegar em pelo menos 10 países da América do Sul, onde a rede está em busca de parceiros de negócios, deve se concretizar em breve, diz o coordenador de negócios internacionais da rede Ronaldo Rizzi.
"Este projeto foi interrompido no período pandêmico, porém retomado com foco total neste ano", diz. "Já vemos os primeiros frutos surgindo, com perspectivas de abertura das primeiras unidades no Uruguai e Colômbia já no início de 2023."
Em 2021, a marca cresceu 54%, faturou mais de R$ 500 milhões e fechou com 415 unidades em operação.
CleanNew - Estar em todos os continentes, como diz o CEO Fritz Paixão, é a meta da rede especializada em higienização de blindagem de estofados, que voltou da pandemia com tudo: presente nos Estados Unidos, Argentina e Colômbia, onde já tinha seis unidades, em abril último entrou na Europa via Madrid e Mallorca.
Na Espanha, aliás, contará com o argentino Pablo Mazzoni, que saiu do seu país natal com a família para ser máster franqueado da rede.
Seguirá para os Emirados Árabes Unidos no 2º semestre, abrindo unidades em Dubai, Abu Dhabi, Kuwait e Arábia Saudita. Depois, já no primeiro semestre de 2023, deve chegar a Bahrein, Angola, Moçambique, Itália, Equador e Uruguai.
Diferentemente de outras redes, que começam a se expandir em países de língua latina ou demandam estudos complexos para avaliar a aderência ao mercado, o modelo de negócio da CleanNew se adequa a qualquer cultura ou país pela inovação e pela busca dos clientes por esse tipo de produtos e serviços, afirma o CEO.
Com 40 unidades no Brasil, a rede prevê abrir mais 12 operações em 2022, e encerrar o ano com faturamento de R$ 40 milhões.
iGUi - Considerada a maior fabricante de piscinas em poliéster reforçado com fibra de vidro, a rede já era consolidada internacionalmente antes da crise da covid. Com 285 unidades espalhadas em 54 países, a marca tem 40 fábricas instaladas nos Estados Unidos, Argentina, Paraguai, México e Portugal.
Entrou no Canadá em 2021 e, segundo o CEO e fundador Filipe Sisson, esse posicionamento estratégico contribuiu para que continuasse a crescer em meio a um cenário difícil, beneficiada pela maior permanência das famílias em casa, e pela alta do setor de casa e construção, essencial na pandemia.
De acordo com Sisson, somente no exterior, o faturamento da iGUi em 2021 foi superior a R$ 215 milhões. Desde 2015, ocupa o topo do ranking da Fundação Dom Cabral (FDC) como a franquia mais internacionalizada do país, e é chancelada na categoria Mega do "Certificado de Franquia Internacional" da ABF com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
SPA EXPRESS - A rede de tratamentos cosméticos e relaxamento em domicílio se prepara para a sua primeira incursão no mercado externo via Los Angeles, nos Estados Unidos, neste segundo semestre de 2022.
De acordo com a CEO Luciana Piquet, este piloto deve abrir uma nova fase para rede que, além do mercado americano, deve chegar à Europa ainda este ano.
"A operação será um projeto-piloto para entender como será a recepção do público norte-americano aos nossos serviços e ao modelo de negócio de spa em domicílio", afirma. "Contudo, estamos confiantes no resultado positivo."
Em 2021, a SPA Express faturou R$ 5,2 milhões, atendeu mais de 10 mil clientes e hoje tem 46 unidades franqueadas em 40 cidades brasileiras. Para 2022, a expectativa é ampliar a expansão e alcançar R$ 7,6 milhões em faturamento.
IMAGENS: Estudio Gui Ottaviani (Casa do Construtor)