Indústria da moda preocupada. Com isolamento, não se compra mais vestuário

Pesquisa do Instituto de Estudos de Marketing Industrial aponta que 67% dos brasileiros não pretendem comprar mais roupas e calçados durante a crise da covid-19. Recuperação deve seguir mudanças de hábito do consumidor e soluções multicanal

André de Almeida
12/Mai/2020
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A pandemia do novo coronavírus está impactando fortemente o mercado de moda no Brasil, incluindo os setores de vestuário e calçados.

De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos de Marketing Industrial (IEMI), 67% dos entrevistados não pretendem comprar roupas e calçados durante a crise da covid-19. E para este grupo, 57% deles afirmaram que nada os motivaria a mudar de ideia.

“O fechamento do comércio está impactando o consumo de vestuários e calçados e deverá continuar a exercer influência sobre esse mercado por um período que irá muito além do término da pandemia”, afirma Marcelo Prado, diretor do IEMI.

Na opinião de Prado, como esses são bens cujo consumo está atrelado fortemente à renda e ao emprego, em um prazo de seis meses a um ano sofrerão com a queda da demanda agregada no país, como resultado desse período de restrições.

RECUPERAÇÃO

A mesma preocupação é compartilhada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Fernando Pimentel. No entanto, o dirigente acredita na recuperação do setor.

“A indústria têxtil brasileira é importantíssima para o país e está entre as cinco maiores do mundo. Durante a pandemia, conseguimos mudar o processo produtivo para atender as necessidades médicas como poucos setores fariam. Nesse momento, toda a cadeia tem que se unir”, disse Pimentel, durante evento on-line promovido pela ABIT.

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Em 2019, as famílias brasileiras consumiram R$ 231,3 bilhões na indústria do vestuário. Desse total, R$ 227,3 bilhões (98,3%) foi por meio do varejo físico, enquanto que R$ 4 bilhões por meio do e-commerce.

Na indústria do calçado, por sua vez, o consumo no varejo no ano passado foi de R$ 55,4 bilhões, com 97,8% em vendas físicas e 2,2% em lojas virtuais.

“Por serem produtos de demanda universal, que levam os consumidores às compras quatro vezes ao ano em média, acreditamos numa recuperação das vendas”, afirma Marcelo Prado. “Deverá haver uma mudança de hábitos que poderá acelerar a expansão do consumo on-line”, completa.

MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

O diretor criativo da São Paulo Fashion Week (SPFW), Paulo Borges, acredita que a pandemia será um divisor de águas e que certamente haverá mudanças no comportamento dos consumidores.

“Uma crise também é uma oportunidade. Haverá mudanças de comportamentos e de valores no mundo, que não voltará a ser o que era antes da covid-19. Mas como a indústria da moda é criativa, ela vai superar as dificuldades”, afirmou Borges.

Segundo o diretor da SPFW, “nessa nova era, teremos que ser mais feliz com menos coisas, e isso impactará a indústria da moda, que provavelmente reavaliará a necessidade de lançamentos de tantas coleções”.

Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Estilistas (ABEST), Paulo Lourenço Bartholomei, após a pandemia, em um curto e médio prazo, surgirá novos padrões de consumo.

“Haverá uma diminuição da ostentação e os influenciadores digitais com maior aceitação não serão mais aqueles que ostentam, mas os que tenham conteúdo. Marcas com responsabilidade social serão mais aceitas e sairão fortalecidas. De forma geral, os empresários e as marcas terão mais sensibilidade na hora de oferecer produtos aos clientes”, destacou.

PERSPECTIVAS PARA A RETOMADA

Após o fim da pandemia, na retomada das atividades, o estudo do IEMI aponta que as lojas físicas terão que adotar garantias de proteção contra a contaminação e promover ofertas que gerem estímulo à demanda, como descontos, prazos, serviços e prêmios, com destaque para a oferta de crédito, em maior número de parcelas.

Da mesma forma, será fundamental que a loja ofereça soluções integradas (multicanal) onde, cada vez mais, o que o consumidor encontrar na loja on-line, possa ser retirado no ponto de venda e vice-versa. “A tendência é as marcas venderem mais e melhor fazendo uso intensivo e coordenado da internet, com as suas lojas físicas e as redes sociais”, explica Prado.

Quanto às previsões, partindo da premissa que o comércio nos principais centros de consumo permanecerá fechado até o final de maio, o IEMI estima que as vendas anuais de vestuário acumulem uma perda de 15,6% em 2020, quando comparadas com 2019.

Isso trará um impacto muito forte na indústria. Segundo projeções da entidade, no acumulado de 2020 a produção de vestuário terá uma queda de 17,9%, no volume de peças, considerando-se o mesmo cenário de restrição do funcionamento do comércio.

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