Fome de açúcar: o boom de guloseimas na pandemia

Ingredientes para receitas e produtos prontos entraram para lista de compras habitual. Bolos simples, menores e mais baratos têm sido a escolha preferida dos consumidores para presentear

Mariana Missiaggia
31/Ago/2020
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Com os dias infinitos de isolamento, comer e cozinhar tem sido uma terapia. O tempo livre, a ansiedade e o maior tempo gasto em família são alguns dos gatilhos que têm levado muita gente a se aventurar na culinária ou a comprar doces prontos com maior frequência.

Levantamento do Grupo Pão de Açúcar mostra que o brasileiro se entregou aos doces nos últimos meses. As vendas de indulgências de marca própria cresceram 37% entre março e junho, na comparação com o mesmo período do ano passado. Doces e sobremesas tiveram aumento de 96%.

Com base nas vendas on-line de supermercados, a Nestlé, maior fabricante de leite condensado do país, observou um aumento de 50% na comercialização do produto desde o início da quarentena.

As vendas de Nutella, por exemplo, aumentaram 312% entre a primeira semana de março (pré-pandemia) e a primeira semana de abril, já durante o isolamento social, de acordo com a Horus, empresa que coleta dados de 300 mil consumidores no Rio de Janeiro e na cidade de São Paulo.

A busca por guloseimas também cresceu nos aplicativos delivery. Números do iFood mostram que as compras de doce e bolos aumentaram 61%, entre fevereiro e março deste ano. Os itens de padaria tiveram incremento ainda maior, de 78%. Outras guloseimas, como açaí e sorvetes, também tiveram elevação de 60% e 56%, respectivamente.

Para quem produz, surgiu também uma nova oportunidade. Bolos simples, menores e mais baratos têm sido a escolha preferida dos consumidores para presentear. Essa dinâmica fez com que pequenos confeiteiros buscassem novas alternativas para conectar seus produtos aos consumidores.

A plataforma Vem de Bolo, que começou a operar em 2019 e trabalha atualmente com 60 boleiras cadastradas, nasceu com o propósito de ajudar o pequeno e médio empreendedor a desenvolver o seu próprio negócio de confeitaria.

Este ano, o marketplace viu a demanda disparar por conta da quarentena. O número, que era de 30 mil visitantes únicos por mês, em média, chegou a 150 mil.

"Em um mês e meio vendemos mais do que todo o volume do ano passado", diz Gabriel Saud, fundador da Vem de Bolo.

No caso da Vem de Bolo, o crescimento acelerado do volume de vendas na pandemia exigiu muita agilidade de resposta. A startup conseguiu se adaptar rapidamente realocando os seus investimentos graças ao modelo de venture builder utilizado, que permite construir, validar e operar negócios inovadores para grandes empresas em uma estrutura separada e independente.

Saud diz que como o custo de aquisição de cliente caiu cinco vezes, já que o consumidor está vindo mais organicamente, a startup conseguiu usar esse recurso para contratar um time responsável por melhorar a experiência do usuário, para torná-lo recorrente mesmo depois da quarentena.

"Mudamos de servidor, para suportar o novo patamar de acessos e desenvolvemos serviços novos".

A estratégia já fazia parte do plano de negócios deste ano, mas foi rapidamente antecipada para atender a um novo perfil de demanda.

PÃODEMIA

Além de procurar receitas, as pessoas estão postando mais o resultado delas nas redes sociais. Ao que tudo indica, esse comportamento foi responsável pela chamada “pãodemia”.

Brioche, francês, de longa fermentação - produzir o próprio pão virou mania nas redes sociais, e carreira para alguns novatos, como o casal Bia Gualberto e Túlio Vidal, que criaram a Artesanal Pães, no Campo Belo, em São Paulo, no meio da pandemia.

Veterinária, Bia não gosta de cozinhar, trabalha com exames laboratoriais para pets e não foi afetada, profissionalmente, pelo isolamento social. Fotógrafo, Túlio teve muitos trabalhos cancelados e começou a ficar em casa.

Foi quando passou a se dedicar mais à gastronomia e, em especial, à produção de pães artesanais, um hobby eventual desde o ano passado. Com tempo para estudar e experimentar, seus pães foram ficando cada vez melhores. No início, eram presentes para amigos e vizinhos, com cartõezinhos com mensagens positivas que ajudavam a melhorar o ânimo das pessoas durante a pandemia.

Mas o pessoal gostou, começou a fazer encomendas, recomendar para amigos e a demanda foi aumentando. Em maio, o casal resolveu investir pra valer no negócio, comprando um forno profissional e uma máquina específica para massas de pães.

“Temos uma padaria dentro de casa, com produção crescendo, e esperamos daqui uns meses abrir uma pequena loja para atender o público aqui no Campo Belo”, diz Bia.

O negócio começou a operar em abril e, desde então, suas vendas, crescem a cada mês passando de menos de 100 unidades em abril para mais de 400 pães no mês passado, e com as encomendas aumentando em agosto – boa parte disso são de pães de fermentação natural, que deram início ao negócio.

Todas as vendas foram realizadas pelo delivery, graças à divulgação de amigos e pelas redes sociais. O próximo passo já está decidido: o casal vai montar um food truck numa Kombi, especializado em pães artesanais.

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