Exportações à Liga Árabe crescem 25,8% no semestre e somam US$ 11,2 bi
Maiores altas são de açúcar, frango e minério, segundo dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira
O Mundo Árabe se consolida cada vez mais como um importante parceiro comercial do Brasil. As exportações brasileiras para os mercados da Liga Árabe, que abarca 22 países, cresceram 25,8% no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2023, chegando a US$ 11,2 bilhões. Os números têm peso ainda maior se comparados às exportações globais do país. Nos seis primeiros meses de 2024, as vendas do Brasil para o mundo tiveram alta de apenas 1,4%, indo para US$ 167,6 bilhões.
Os dados fazem parte de relatório elaborado pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, com sede em São Paulo. O estudo mostra, ainda, que o Brasil pagou US$ 4,8 bilhões por produtos importados do bloco árabe no primeiro semestre (queda de 8%), o que resulta num saldo comercial positivo de US$ 6,4 bi para os cofres nacionais.
A tradução dos números indica que, juntas, as nações da Liga representam o terceiro maior parceiro comercial do Brasil no planeta, perdendo apenas para China e Estados Unidos. No primeiro semestre deste ano, as exportações para os chineses somaram US$ 52 bilhões e para os norte-americanos, US$ 19 bi. “Isso mostra a grande força do Mundo Árabe nos negócios globais do Brasil e a resiliência econômica da região”, disse o presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Osmar Chohfi.
Trata-se de um mercado gigantesco a ser atendido. Unidas, as nações pertencentes à Liga possuem 465 milhões de habitantes espalhados pelo Oriente Médio e pelo norte da África – mais do que o dobro da população do Brasil (215 milhões).
Os dados dos primeiros 6 meses de 2024 reafirmam o movimento do ano passado. Em 2023, do total de US$ 340 bilhões exportados pelo Brasil, quase a metade (47,7%) foi negociada com China, Estados Unidos e Liga Árabe, nessa ordem.
Foram US$ 106 bilhões com o gigante asiático, US$ 37 bi com os norte-americanos e US$ 19 bi com os árabes, totalizando US$ 162 bi. Entre os integrantes do bloco, os cinco principais parceiros comerciais do país são Emirados Árabes Unidos, que importou US$ 2,5 bilhões de produtos brasileiros, Egito (US$ 1,7 bi), Arábia Saudita (US$ 1,5 bi), Argélia (US$ 1,3 bi) e Iraque (US$ 690 milhões).
A alta das exportações para os árabes foi puxada mormente pelo açúcar (US$ 3,1 bi), carnes de frango e bovina (US$ 2,7 bi) e minério de ferro (US$ 1,7 bi). Desse pacote, a maior alta em relação a 2023 foi da carne bovina (105,8%).
Segundo o presidente da Câmara Árabe, alguns fatores explicam o crescimento das exportações do Brasil aos países do bloco. Um deles é a postura amigável e respeitosa do Governo Federal em relação às nações árabes, o que produz confiança mútua para a realização de negócios. Outro é o fato de haver, no Mundo Árabe, grandes hubs que reexportam produtos comprados do Brasil. É o caso dos Emirados Árabes Unidos.
AÇÚCAR
Em relatório, a Câmara Árabe destaca o caso do açúcar, do qual os emiradenses são os maiores compradores da produção nacional na Liga. Apenas no primeiro semestre deste ano, os Emirados Árabes compraram 1,4 milhão de toneladas do açúcar brasileiro, num total de US$ 673 milhões (alta de 333% em relação ao mesmo período de 2023). “Parte desse volume é reexportado para outros países da Liga Árabe”, afirmou Osmar Chohfi.
Principal hub de exportação da Liga, os Emirados têm na triangulação de mercadorias um componente importante do seu sistema econômico, suportado por 46 zonas francas, de processamento e de vendas, que fazem do país um grande exportador de alimentos para o mundo islâmico.
Ao mesmo tempo em que celebra os números, o presidente da Câmara Árabe alerta para a baixa prevalência de produtos brasileiros nos segmentos de valor agregado. Ele cita justamente o caso do açúcar exportado aos Emirados Árabes. De acordo com Chohfi, boa parte do produto é matéria-prima que tem como destino uma das maiores usinas de açúcar do planeta, em Dubai. “Ali, o açúcar bruto comprado do Brasil é refinado, embalado e exportado para outros países da Liga Árabe, da África e também do Leste Europeu”, disse. Ele também destaca as vendas de gado em pé para a região.
Segundo o presidente da Câmara Árabe, na prática, esse sistema funciona apenas como fornecimento de matéria-prima brasileira para frigoríficos árabes participarem de mercados demandantes do produto, vendendo a carne bovina já com valor agregado. “Alguns países têm enfrentado essa situação estabelecendo subsídios para a produção de valor agregado”, disse. “Isso já é feito no financiamento do agronegócio, vendo nesse esforço um investimento na própria competitividade”, afirmou Chohfi, que enxerga um novo cenário se formando nesse sentido.
DIPLOMACIA
De acordo com a Câmara Árabe, recentes incursões da diplomacia brasileira nos países do bloco têm criado “um ambiente propício a investimentos bilaterais”. Na teoria, esse ambiente pode incrementar o fluxo de produtos de valor agregado entre as duas regiões, “modificando paulatinamente o atual perfil de comércio”.
Como exemplo, a entidade cita a Embraer, que já divulgou a intenção de aumentar sua presença na Arábia Saudita, em função de eventuais vendas do cargueiro militar KC 390. Para tanto, a companhia brasileira precisará transferir parte da fabricação dessa aeronave para o país árabe.
Outra iniciativa destacada pelo presidente da Câmara Árabe é a atitude da BRF de integrar uma joint-venture na Arábia Saudita, com o objetivo de atuar no mercado de alimentos halal – produtos que seguem regras de fabricação específicas para os muçulmanos.
Há, ainda, os casos da JBS, que montou uma fábrica de empanados de frango também na Arábia Saudita, e da empresa Nebras Power, do Catar, que se associou à brasileira CEI Energética, com sede em Belo Horizonte, para produção de energia verde. “O Brasil está conseguindo ampliar a exportação de valor agregado também por causa dessas parcerias”, disse Chohfi. “Acreditamos que isso vai se intensificar daqui para frente e de forma cada vez mais recíproca.”
Os produtos brasileiros mais comprados pelos países da Liga Árabe
Açúcar | US$ 3,1 bilhões |
Carnes (de frango e bovina) | US$ 2,7 bilhões |
Minério de ferro | US$ 1,7 bilhão |
Soja | US$ 811 milhões |
Milho | US$ 532 milhões |
Os 5 maiores compradores de produtos brasileiros no Mundo Árabe
Emirados Árabes Unidos | US$ 2,5 bilhões |
Egito | US$ 1,7 bilhão |
Arábia Saudita | US$ 1,5 bilhão |
Argélia | US$ 1,3 bilhão |
Iraque | US$ 690 milhões |
IMAGEM: Paulo Pinto/AE