Estratégia global do Rappi tem o Brasil como prioridade
Tijana Jankovic, vice-presidente global de negócios do aplicativo, disse, durante a 5ª edição do evento Liberdade para Empreender, que o consumidor brasileiro foi o que melhor entendeu e se fidelizou com a modalidade de entrega ultrarrápida
Após uma forte disputa pelos clientes de delivery de restaurantes com seu maior concorrente, o iFood, o aplicativo Rappi parece apostar em um outro nicho para avançar no Brasil. Desde que lançou o serviço de entrega ultrarrápida, o Rappi Turbo, a vice-presidente global de negócios da empresa, Tijana Jankovic, diz enxergar nos brasileiros o maior potencial para expandir a categoria dentre os nove países em que o negócio opera.
A investida do aplicativo colombiano em entregas de mercado, em até 10 minutos, no formato 24h, ganhou ainda mais vigor com as madrugadas. Há pouco mais de um ano, a cidade de São Paulo foi o ponto teste do modelo 24/7 (dia, tarde, noite), chamado de Rappi Turbo 24h. A partir de dezembro, outras duas capitais brasileiras também passam a oferecer o serviço: Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Tendo o pão francês como líder de vendas na capital paulista, no Rio, a expectativa é aproveitar a onda de fim de ano, quando a demanda por esse tipo de compra, especialmente, bebidas, é mais alta, diz a vice-presidente. Já na capital mineira, a expansão é justificada pela densidade populacional. Trata-se da terceira capital mais populosa do país.
De acordo com Tijana, o aplicativo está presente também na Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Peru e Uruguai. Todos esses países estão consolidados em uma unidade de negócios hispânica e, de forma estratégica, o Brasil é conduzido sozinho em outra, dada a relevância do país para a plataforma.
"Há três anos, começamos a desenvolver o que temos de mais inovador, que é a tecnologia que habilita o Rappi Turbo. Esse lançamento aconteceu ao mesmo tempo em cinco grandes países e, de longe, o mercado brasileiro foi o que mais entendeu a modalidade e se fidelizou de forma mais intensa", diz Tijana.
A executiva conversou com o Diário do Comércio durante a 5ª edição do evento Liberdade para Empreender – Ação de Mulheres, realizado na última segunda-feira (2), no Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo. O evento é uma realização do Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) junto com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Federação das Associações Comerciais de São Paulo (Facesp). Ana Claudia Badra Cotait, coordenadora do CMEC, conseguiu reunir um público de 1,8 mil mulheres.
Ao explicar a operação paulista, Tijana disse que o exemplo de São Paulo fez o Rappi entender o valor da disponibilidade e o quanto uma operação 24 horas pode ajudar a impulsionar as entregas tradicionais de mercado e também de delivery.
De acordo com a executiva, quem compra durante a madrugada acaba se tornando mais fiel ao aplicativo, acumulando de cinco a seis compras por mês frente a um comportamento de consumo de até três compras de um usuário matutino ou vespertino.
Com quase dez anos de mercado, 4 mil funcionários e muita concorrência, o que mantém o Rappi no páreo, segundo Tijana, é um empreendedorismo raiz, mesmo se tratando de uma empresa grande. E isso faz a empresa estar sempre à frente em inovação e oportunidades no mercado.
Em 2023, a compra da Box Delivery representou a maior aquisição da história do Rappi e levou para a companhia um modelo de negócio complementar, já que a empresa é especializada em entregas rápidas para grandes redes de restaurantes e varejo no país, tendo faturado R$ 200 milhões em 2022 e com 150 mil entregadores cadastrados. Na época, o número representava de 10% a 15% da base de motoboys entregadores no Brasil.
Essa intermediação de logística com uma empresa que já tinha boa reputação, principalmente com restaurantes, contribui, segundo Tijana, para o Rappi descolar cada vez mais da concorrência.
"Globalmente falando, o Brasil é o nosso principal investimento, a nossa maior ambição e prioridade. É só o começo, pois ainda vemos muita oportunidade", disse Tijana.
O estilo de vida, a velocidade em que as pessoas vivem, a adesão a novas tecnologias e a dificuldade de locomoção dentro das cidades são aspectos muito relevantes para a expansão do negócio, que agora quer se tornar referência também na entrega de produtos de beleza, de acordo com a executiva.
O Rappi, porém, não é o primeiro a tentar fazer esse modelo de entregas vingar entre os brasileiros. A Daki, startup que nasceu em 2021 com esse foco e recebeu mais de R$ 1 bilhão em aportes, precisou se reposicionar, segue em busca do breakeven e precisou desacelerar a expansão para priorizar uma operação mais saudável. Líder no delivery, o iFood também precisou voltar duas casas nesse projeto e recorrer a parcerias para manter o serviço em pé.
Nesse sentido, Tijana explica que o segredo está nas chamadas dark stores, mini armazéns localizados estrategicamente em bairros de alta densidade populacional. Esses espaços são abastecidos diariamente, ou até duas vezes ao dia, por centros de distribuição que despacham os itens para as lojas, atendendo um raio de domicílios para pronta-entrega e contam com entregadores disponíveis para fazer o trajeto de forma rápida.
Em São Paulo, são 20 lojas operando ao longo do dia. Deste total, cinco seguem em operação de madrugada em regiões como Vila Olímpia, Vila Madalena, Lapa, Santa Cecília e Carrão. Já no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, sete e cinco dark stores, respectivamente, são utilizadas para realizar entregas ultrarrápidas pelas cidades. À noite, o número cai para uma loja em cada cidade.
Fundado em Bogotá em 2015, o Rappi está no Brasil desde 2017, capitalizado por investimentos bilionários para fazer as entregas de refeições de restaurantes. Há mais de dois anos, a companhia alega que seu crescimento foi barrado pela dominância do iFood no setor (com mais de 82% do market share), por conta de contratos de exclusividade. O Rappi é o segundo colocado, com 9,1%. Em número de cidades, o Rappi está em terceiro lugar, com 140 municípios, atrás do Aiqfome (do Magalu), com 700, e do iFood, com 1,5 mil.
IMAGENS: Dani Ortiz