Empresários na vanguarda

‘Algumas empresas descobriram o significado econômico da produção de biometano e já integram a B3, a Bolsa de São Paulo’

José Renato Nalini
25/Mar/2024
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Empresários na vanguarda

A maior urgência do planeta é a descarbonização. Já não é possível acreditar em futuro da humanidade, se não houver imediata conversão de hábitos nefastos em condutas consequentes. O uso do combustível fóssil é mortal. Todos sabem disso, mas nem todos atuam de acordo com essa compreensão a respeito da gravidade da doença do mundo.

Dentre os que compreendem, estão aqueles que, a despeito da omissão ou hesitação dos governos, fazem a sua parte para melhorar o mundo. É a descoberta de que aquilo que chamamos “lixo” pode nos salvar. O descarte de resíduos sólidos orgânicos, esgoto, esterco, os subprodutos vegetais do agronegócio, são geradores de biometano. Um substituto saudável para o venenoso combustível fóssil.

Toda a sobra orgânica, se não for tratada, vai contaminar o ambiente e prejudicar a saúde das pessoas e do planeta. Mas se for processada num compartimento adequado, emitirá biogás. Este passa por uma purificação mediante outro processo e se converte em biometano.

Pouca gente sabe que biometano é um gás da mesma natureza do gás natural de petróleo. Pode substituir o diesel em ônibus e caminhões e a gasolina nos automóveis. Só que a diferença é que chama a atenção e faz com que ele seja muito atraente nesta primeira metade do século XXI: seu uso reduz as emissões de gás carbônico em 80%. 

Algumas empresas descobriram o significado econômico da produção de biometano e já integram a B3, a Bolsa de São Paulo. O setor já participou da COP 28, a recente Conferência do Clima realizado em Dubai. Uma delas é a Orizon Valorização de Resíduos, cujos dezesseis aterros sanitários foram transformados em ecoparques em onze estados. A Orizon se utiliza de tecnologia de compostagem acelerada e produz fertilizante, faz triagem mecânica para reciclados, equipamentos para a transformação de resíduos em pallets de combustível e também para captar o biogás do aterro. Isto pode ser transformado em energia elétrica ou em biometano.

Outra empresa é a Gás Verde, do grupo Urca Energia, considerada a maior produtora de biometano da América Latina. Seu aterro em Seropédica-RJ, abastece a totalidade da fábrica da Ambev em Cachoeiras de Macacu, também no Rio.

O grupo COSAN, de Rubens Ometo, atua também nessa área. A Compass, que é distribuidora de gás, tem se interessado pelo biometano e celebrado parcerias. Há 542 usinas de biogás autorizadas a produzir energia elétrica e sete de biometano, registradas na Aneel e ANP – as agências de energia elétrica e petróleo. Pode ser que o número seja ainda maior, de acordo com a CIBiogás – Centro Internacional de Energias Renováveis. Para esta entidade, em 2022 já se encontravam em atividade no Brasil quase mil usinas. 

A JBS comunicou ao mercado internacional, durante a COP-28, que já investiu na captura de biogás em catorze fábricas nos Estados Unidos e Canadá. No Brasil, instalou biodigestores em nove fábricas da Friboi. O processo adota o conceito de economia circular, com utilização dos gases emitidos na produção para gerar energia nas unidades e abastecer os veículos da empresa. Essas notícias foram objeto de reportagem de Alexa Salomão na FSP de 8.1.2024 e animam os ecologistas e demais preocupados com o estado patológico da nossa atmosfera. 

Também a Nestlé vai adotar o biometano de cana-de-açúcar e de aterros sanitários como combustível para caldeiras e fornos, no lugar do GLP. O projeto piloto está em Araçatuba, com previsão de ampliação para Caçapava e Marília. A Scania trocou o gás natural por biometano em suas operações e trabalha para substituir o combustível em seus produtos. 

Israel, sempre à frente na engenhosidade, por sua empresa HomeBiogás, criou um sistema compacto que transforma restos de comida e qualquer tipo de excremento em biofertilizante e gás para fogão. Isso pode funcionar em escolas, fazendas, hotéis, pequenas indústrias e até em canis de cães. O importante seria investir em novas pesquisas, inclusive a partir destas, para que os estudantes das escolas públicas e particulares pudessem criar similares, talvez mais singelos, mas igualmente funcionais. 

O que interessa é conscientizar a sociedade em geral de que o rumo da utilização indiscriminada de combustíveis fósseis, venenosos e finitos, deve ser objeto da maior preocupação de parte não só do Estado – em suas múltiplas configurações – mas também da sociedade. E, dentro desta, destaca-se a empresa, instituição que sobreviveu às hostilidades criadas pelo mercado e pelo governo, e que dá o exemplo de resiliência e profunda crença nos destinos do Brasil. De um país liberado da crescente emissão de gás carbônico, fenômeno que pode encerrar de vez a aventura humana sobre o planeta. 

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IMAGEM: Freepik

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