Eles quase faliram um negócio depois de um aporte milionário
Felipe e Thadeu Diz fundaram a Zee.dog, mas perderam as rédeas da empresa quando receberam um aporte de R$ 2 milhões. Veja como a empresa deu a volta por cima
Os riscos de ter, repentinamente, de contar com dinheiro abundante em caixa são muitos. Os irmãos gêmeos Thadeu e Felipe Diz, 32 anos, fundadores da Zee.Dog - marca de acessórios para animais de estimação - sentiram isso na pele.
Após receber um aporte milionário, a empresa beirou a falência porque os sócios achavam que estavam ricos.
Mas perceberam a tempo que o faturamento da empresa não crescia no mesmo ritmo dos custos fixos, e conseguiram dar a volta por cima.
Depois de uma série de medidas para melhorar a gestão do negócio conseguiram atingir um crescimento de 300% no faturamento.
Embora não revelem o valor atual, conseguiram faturar em um mês R$ 3,5 milhões, considerado o pico, no período que sucedeu às dificuldades iniciais, em 2013.
Mas eles não tinham ideia de que chegariam a esse ponto quando tiveram a ideia de montar o negócio.
Constataram que estavam diante de um nicho de mercado mal explorado, em 2009, quando se viram insatisfeitos com o que encontravam nas prateleiras de um pet shop na Califórnia, nos Estados Unidos.
Na época, eram estudantes de hotelaria e Thadeu queria comprar uma guia para o vira-lata que ele e o irmão tinham acabado de adotar.
"Percebemos que a experiência de compra de produtos pet era péssima. E se era assim nos Estados Unidos, no Brasil deveria ser pior", diz Thadeu.
Terminaram os estudos, e paralelamente cursaram aulas de marketing e empreendedorismo. De volta ao Brasil, em 2011, procuraram dois amigos de infância especializados em finanças.
Montaram um plano de negócios e levantaram US$ 10 mil por meio de um site de crowdfunding – financiamento coletivo – entre amigos e desconhecidos que apoiaram a ideia da Zee.Dog, uma loja de acessórios pet de luxo, como guias, coleiras, brinquedos, comedouros e outras coisas.
Juntos, estudaram um mercado que começava a despontar - mas que além de pequeno, era muito pulverizado.
O apelo do negócio era oferecer peças com design que conectassem os acessórios dos donos a tudo que seria utilizado pelos cachorros.
Ou seja, a bandana do cachorro combinando com o skate do dono. A coleira do animal com a mesma estampa da mochila da dona e por aí vai.
No final daquele ano, o quarteto passou a se dedicar exclusivamente à Zee.Dog, que já estava com seu e-commerce no ar.
Sobrevivendo com as economias que restavam e com as contas praticamente no vermelho, eles já consideravam a possibilidade de desistir quando conseguiram, em 2012, um aporte de R$ 2 milhões do fundo carioca DXA Investments.
Thadeu conta que a sensação era a de que tinham acabado de ganhar na loteria. Nos meses seguintes, os jovens empresários não economizaram.
Construíram um escritório próprio e deixaram o espaço onde trabalhavam dentro do fundo de investimentos, que lhes subsidiava, contrataram um número de funcionários muito além do que precisavam e abriram quiosques da marca em shoppings do Rio de Janeiro.
Em pouco tempo, o faturamento já não crescia como antes e eles começaram a usar o cartão de crédito pessoal para pagar alguns custos.
Naquele momento, entenderam que além de terem passado dos limites, não estavam preparados para assumir o comando da empresa sozinhos.
"O que sabíamos fazer bem era criar produtos. Por isso, contratamos uma ex-executiva da Nestlé, que ganha um salário maior que o meu para alavancar nossas vendas e enxugamos a equipe", diz.
Nessa reformulação também sentiram que necessitariam de novos fornecedores e os melhores estavam na China. Mesmo sem saber nada de mandarim, Felipe viajou para o país com a missão de fechar negócios.
"Uma das poucas pessoas que Felipe encontrou falando inglês se tornou nossa diretora de operações de exportações".
Com uma das colaboradoras fora do país, eles tiveram a ideia de ter um diretor de inovação na Espanha para estar mais próximo das tendências europeias e do mercado digital internacional.
No Brasil, a equipe do escritório foi reduzida a 12 funcionários.
De 2013 a 2014, a marca cresceu 300% e começou a exportar para 19 países da Ásia e Europa, e os itens passaram a ser vendidos também em outros pet shops, além de lojas próprias.
Em 2013, o mercado de pet decolou, demonstrando, de certa maneira, que a relação entre cachorro e dono se mostra mais forte do que a própria crise econômica.
Com 17 lojas físicas no país e duas nos Estados Unidos, eles já não revelam quanto faturam. "Mas, em 2013, por exemplo, chegamos a faturar R$ 3,5 milhões por mês".
Casos como o de Thadeu e Felipe, que de consumidores se tornaram empresários do setor pet explicam por que, apesar da recessão econômica , trata-se de um mercado que movimentou R$ 19,2 bilhões em 2016, de acordo com a Abinpet.
A entidade estima que existam mais de 25 mil pet shops no país. Líder em São Paulo, a Cobasi detém 5% do mercado com uma receita anual estimada em R$ 800 milhões.
Atrás dela, está a Petz, controlada por um fundo americano, que fatura R$ 500 milhões com 49 lojas.
Hoje, o Brasil é o segundo maior mercado em faturamento e em população de cães e gatos. Cerca de 44% dos lares brasileiros possuem animais de estimação. No entanto, segundo Thadeu, ainda são poucas as empresas com diferenciais estratégicos no setor.
A Zee.Dog, por exemplo, além de focar em itens de moda para os bichinhos, pratica o que muitos chamam de engajamento no varejo. A marca apoia instituições acolhedoras de cães e gatos e promove a adoção de animais.
"Ao tocar nessa questão, nos mostramos como uma marca engajada e fazemos de nossa marca um próposito. E isso fideliza clientes", afirma Thadeu.
Outra percepção dos fundadores sobre a experiência de compra veio a partir do volume de carrinhos abandonados.
Uma simples pesquisa online feita com uma parcela dos visitantes da página mostrou que muita gente desistia da compra por não saber o tamanho exato de cada peça para o animal de estimação.
Logo em seguida, os sócios catalogaram todas as raças de gatos e cachorros e disponibilizaram os tamanhos indicados para cada faixa etária na página da marca. "Transformamos uma dificuldade em conveniência e reduzimos o abandono de carrinhos em 30%".
Mesmo competindo com megalojas e estabelecimentos de bairro, Thadeu acredita estar mais próximo do consumidor no que diz respeito à qualidade e ao engajamento, mesmo oferecendo produtos com preços um pouco acima da média.
Nos próximos dois anos, ele e os sócios pretendem ganhar presença para disputar o feroz e competitivo mercado americano de produtos pet, que movimenta em torno de U$ 80 bilhões a cada ano.