"Eles não aceitavam que eu fosse a líder"

No Dia Internacional da Mulher, conheça a história da executiva da Kodak Alaris que não se intimidou com ambientes dominados por testosterona

Thais Ferreira
08/Mar/2017
  • btn-whatsapp
 "Eles não aceitavam que eu fosse a líder"

A executiva na foto acima conseguiu resultados invejáveis.

Em apenas um ano, dobrou o faturamento de seu setor e aumentou a participação da empresa no mercado de scanners de 10% para 21%, tornando a marca líder desse segmento. 

Por trás desses números, do tailleur preto e do batom vermelho está Vanilda Grando, diretora de desenvolvimento de negócios da área de scanners e softwares inteligente da Kodak Alaris, mãe de duas filhas e esposa. 

Além de longas horas de trabalho árduo, o sucesso da executiva foi alcançado graças à sua habilidade de perceber quais são as necessidades dos clientes. 

Mas como ninguém alcança nada sozinha, ela também contou uma equipe, que sofreu algumas alterações quando assumiu o cargo. 

“Quando cheguei eram apenas homens. Equilibramos os gêneros e tivemos bons resultados”, afirma Vanilda. 

Situações como essa são corriqueiras. Apesar dos avanços nos últimos anos, a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho ainda é gritante. 

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana devido à dupla jornada, de tarefas domésticas e trabalho remunerado.

Além disso, o rendimento médio dos trabalhadores brasileiro é 24% maior do que o das trabalhadoras. A disparidade é ainda maior em cargos de gerência ou direção: a média é 32%. 

O problema também é mais acentuado em alguns setores, como o de tecnologia: apenas 20% dos profissionais que atuam nesse mercado são mulheres.

VENCENDO BARREIRAS

Vanilda faz parte dessa minoria. Ela nasceu e cresceu em Pérola – cidade do interior do Paraná, localizada a 120 quilômetros da fronteira com o Paraguai.

No pequeno município só existiam duas opções de cursos de formação: contabilidade ou pedagogia. Ela optou pelo primeiro. 

Ainda na juventude trabalhou como caixa de uma empresa que vendia produtos agrícolas. Mas nos dois primeiros meses decidiram trocá-la de setor.

Ela não parava no posto, pois estava sempre interagindo com os clientes ou vendedores. “Nesse momento decidi que queria trabalhar com vendas”, afirma Vanilda.

Após se formar, ela percebeu que a “cidade joia do Paraná”, como é conhecida, ficou pequena para seus sonhos e ambições.

Com 20 anos, chegou a São Paulo com a missão de estudar e se sustentar. Nessa épocam foi vendedora de quase de tudo: de móveis planejados até material de caça e pesca. 

Nessa última loja, o ambiente era dominado por homens, tanto na frente como atrás do balcão.

 “Os clientes não queriam comprar com uma mulher. Toda vez que queriam informações dos produtos procuravam um homem, mesmo que eu soubesse tudo sobre o assunto”, diz Vanilda. 

Era o começo de uma carreira que muitas vezes foi marcada por atitudes machistas.  O problema se intensificou quando ela começou a trabalhar em empresas de tecnologia – um setor ainda dominado por homens. 

Anos mais tarde, já em cargos de liderança, a situação se repetia. “Em reuniões com clientes, percebi que as perguntas eram direcionadas para membros da minha equipe, que eram homens, e não para mim”, afirma. 

Vanilda não abaixou a cabeça. Aos poucos, foi mostrando que tinha uma aptidão pouco encontrada no setor: a habilidade de perceber quais era as necessidades da empresa e oferecer o produto mais adequado e que reduzisse gastos desnecessários. 

De acordo com a executiva, ter todas as informações técnicas é importante, mas escutar e entender são fundamentais. 

Vanilda Grano, da Kodak Alaris: venceu barreiras e chegou a um cargo de liderança

KODAK ALARIS

Quando recebeu a proposta de trabalhar na Kodak Alaris, em 2010, Vanilda já ocupava um cargo de similar numa outra companhia.

Os salários também eram parecidos.  A decisão de mudar veio de uma percepção: na empresa em que estava nenhuma mulher conseguia chegar aos cargos mais altos. 

Outra situação bastante comum não só no Brasil. De acordo com estudo “The female millennial: a new era of talent”, da consultoria PwC, as mulheres ocupam menos de 5% dos cargos de CEOs no mundo.

Na Kodak Alaris, Vanilda percebeu que conseguiria ascender. E foi o que aconteceu. Ela conquistou os resultados apresentados no primeiro parágrafo desta matéria.

Pouco tempo depois, foi promovida e assumiu o desenvolvimento de negócios da área de scanners e softwares inteligentes em toda a América Latina. 

Nos últimos 10 anos, ela percebeu que as atitudes relacionadas a preconceito de gênero estão se tornando menos frequentes.

O problema, porém, ainda está bastante disseminadonos outros países em que trabalha, como o México.

"Muitos se recusavam fechar negócio sem a validação de um homem", afirma. "Eles não aceitavam que eu fosse a líder."

Vanilda acredita que o preconceito nas empresas está relacionado com a cultura e com os discursos.

“Desde pequenas ouvimos que videogames são coisas de meninos”, diz. “Por isso, acabamos acreditando que apenas eles entendem de tecnologia.”

Apesar de todos os números desfavoráveis para as mulheres, a executiva afirmaa que esse cenário está mudando e que o setor de tecnologia é muito promissor para o sexo feminino.

“As mulheres devem transformar sua sensibilidade com pessoas para se destacarem no setor”, afirma Vanilda. Fórmula que ela sempre seguiu e ainda segue. 

FOTO: Divulgação

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Especialistas projetam cenários para o pós-eleições municipais

Especialistas projetam cenários para o pós-eleições municipais

Para Ricardo Nunes, melhorar a desigualdade só com investimento em diversas frentes

Entrevista com Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária