Elas criaram uma empresa que nasceu (e cresceu) na contramão
Contra todas as estatísticas, Olívia e Luísa Jock (na foto) fundaram um negócio de sucesso, mesmo desconhecendo lições básicas de gestão
Quais são as chances de uma empresa prosperar sem que os sócios tenham uma boa noção de gestão? Poucas.
De acordo com a mais recente pesquisa do IBGE, mais da metade das empresas fecham as portas após os primeiros quatro anos. A falta de capital e a gestão do negócio costumam ser o tendão de Aquiles desses empreendedores.
Mas há algumas empresas que conseguem desafiar as estatísticas e continuar crescendo, mesmo com percalços pelo caminho.
É o caso da Casaquetem, loja online que vende objetos de decoração. A artista plástica Luísa Jock, de 34 anos, trabalhava em uma agência de publicidade, quando decidiu montar um site.
O plano era vender peças interessantes que ela garimpava em lojas, como almofadas, vasos, quadros e porta-retratos.
Luísa herdou o gosto por objetos interessantes da mãe, que também teve uma loja de decoração. Por isso, não é de se estranhar que ela convidou a irmã, Olívia Jock, 36, formada em psicologia, para ser sua sócia.
“Temos gostos muito parecidos. Nossos pais sempre nos incentivaram a gostar de arte. E, aos poucos, fomos tomando gosto pela decoração”, afirma Olívia.
A loja online Casaquetem foi ao ar em novembro de 2012. Pouco tempo depois, Isabela Piva, prima e arquiteta, entrou na sociedade.
INTUIÇÃO ACIMA DOS NÚMEROS
No começo, as irmãs acreditavam que a Casaquetem era um projeto paralelo. A ideia era conciliar o site com suas atividades profissionais. Mas, a empresa foi crescendo e elas tiveram que abandonar seus trabalhos para se dedicar exclusivamente ao e-commerce.
“Quando começamos, achei que ia ser muito fácil, por isso fomos fazendo tudo intuitivamente”, afirma Luísa. “Não fizemos um grande investimento, decidimos dar passos curtos. Foi tudo às cegas, mas foi dando certo.”
Mas manter uma loja online deu mais trabalho do que elas imaginavam. O primeiro problema foi a plataforma, feita exclusivamente para a Casaquetem, que não atendia todas as necessidades de um e-commerce.
Olívia ri ao lembrar que, quando o site foi lançado, não tinha o botão de compra, que permitia a realização das vendas. Hoje, as irmãs se divertem com os erros de principiante que cometeram.
Elas também não tinham muita noção de marketing digital, gestão ou finanças. “Empreendemos na raça e erramos muito”, diz Olívia.
Foi nadando contra a corrente e sem seguir as lições dos livros de administração, que elas conseguiram expandir a empresa.
Hoje, elas não dependem de ninguém. As três sócias e duas funcionárias fazem tudo sozinhas: desde as fotos dos produtos, passando pelo controle do estoque, até o fluxo de caixa.
Elas não fizeram cursos, foram aprendendo na marra.
“Meu conselho para quem está pensando em empreender é invista em formação”, diz Luísa. “Batemos muito a cabeça porque não sabíamos o básico. Tivemos muita sorte de dar tudo certo”, acrescenta Olívia.
LOJA FÍSICA
Com a experiência adquirida no e-commerce e com alguns bazares que organizavam ocasionalmente, elas perceberam era hora de abrir uma loja física. Os clientes também pediam por um espaço em que pudessem tocar os produtos.
A primeira loja foi aberta Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, em maio do ano passado. “Foi a grande transformação e nosso maior passo”, afirma Luísa.
Hoje, as vendas do espaço físico representam 70% do faturamento da empresa.
O que distingue a Casaquetem da concorrência é a seleção de produtos. As sócias têm um olho clínico para escolher produtos que agradam aos consumidores aficionados por decoração e design.
Elas pesquisam referências na internet e em revistas, mas quase todos os objetos são do gosto pessoal das empreendedoras. “Temos muito dificuldade de colocar na loja algo de que não gostamos, mesmo que esteja na moda”, afirma Luísa.
Só uma boa curadoria, no entanto, não explica o sucesso da Casaquetem. A divulgação dos produtos também ajuda a trazer bons resultados. A principal ferramenta são as redes sociais, principalmente o Instagram.
Diariamente, aparecem clientes na loja comentando as peças que viram na internet.
A parceria com blogueiras também ajuda a divulgar os produtos. Outra forma de chamar atenção para empresa é fornecer objetos para editoriais de revistas e programas de televisão, como o Decora e Mais Cor Por Favor, do canal GNT.
O próximo passo é usar esse bom gosto das sócias para criar uma linha própria de produtos. Elas já fizeram as primeiras experiências. Criaram alguns objetos em parcerias com marcas e designers.
No ano passado, as vendas cresceram 43% em relação a 2015. As sócias afirmam que não sentiram os efeitos da crise econômica na empresa.
Para 2017, a meta é aumentar as vendas em 75%. A previsão para a loja física é ainda mais otimista: crescer 90% em relação ao ano passado.
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FOTOS e VÍDEO: Thaís Ferreira/ Diário do Comércio