Efeitos da greve ainda são sentidos no comércio paulista
Setor de supermercados estima perdas de R$ 2,4 bilhões em produtos perecíveis. No Ceagesp, movimento tem recuperação, mas ainda está longe da média semanal de recebimento de mercadorias de 60 mil toneladas

A situação de desabastecimento continua nos supermercados. De acordo com Carlos Correa, superintendente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), em nove dias de greve dos caminhoneiros, os supermercados de todo país deixaram de vender R$ 2,4 bilhões em produtos perecíveis.
O superintendente da Apas e representantes de cadeias de produção de alimentos se reuniram com o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), para relatar a situação do abastecimento. Caminhões com mercadorias enfrentavam bloqueios em rodovias do Estado. O governador, segundo Correa, se comprometeu a voltar a conversar com esses manifestantes para desobstruir esses pontos.
A prova de fogo para os supermercados será nos próximos dias, quando a população recebe o salário e vai às compras do mês, geralmente itens de maior volume, como arroz, feijão e óleo, por exemplo. "Se não conseguirmos fazer a reposição dos estoques, a ruptura (falta de um determinado produto na prateleira) será maior", disse o executivo.
Uma pesquisa feita pela Neogrid, empresa especializada em cadeia de suprimentos, em 25 mil lojas de supermercados espalhadas pelo País, mostra que o índice de falta de produtos que estava em 7,1% no dia 21 de maio, quando a greve começou, subiu para 8,6% no dia 26. Os produtos mais críticos são feijão, farinha, arroz e vegetais.
CAMINHÕES VOLTAM AO CEAGESP
Nesta época do ano, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) costuma comercializar entre 60 mil e 65 mil toneladas de alimentos por semana. Na primeira semana de greve, foram comercializadas 33.839 toneladas. Em relação a semana imediatamente anterior a greve, quando o volume registrado foi de 63.258 toneladas, houve queda de 46,5%.
Agora, os efeitos da paralisação dos caminhoneiros, aos poucos, começam a se reverter. O movimento no Ceagesp melhorou na manhã desta quarta-feira (30/05). Até as 9h, havia entrado mais de 500 caminhões vindos especialmente do interior paulista. Na terça-feira (29) tinham entrado cerca de 200, quando o normal são 2 mil por dia.
Flávio Godas, economista da Ceagesp, informou que a maior dificuldade é a chegada dos caminhões com produtos vindos fora do Estado de São Paulo. O que a central está recebendo é a produção proveniente do cinturão verde de São Paulo, como folhas, pimentão, pepino, tomate e chuchu, por meio de caminhos alternativos.
Na terça, o fluxo de caminhões na Ceagesp foi 10% de um dia de movimento normal. Entraram 115 veículos vindos principalmente do interior de São Paulo e do Cinturão Verde da Grande São Paulo. Na percepção de Flávio Godas, houve alguma melhora na oferta de verduras. "Senti um pouco mais de confiança dos produtores de regiões mais próximas, mas o problema persiste para aqueles que têm de percorrer longas distâncias, especialmente de fora do Estado", explicou.
Godas disse que o balanço da comercialização, que começa ao meio dia, será divulgado no fim da tarde desta quarta. Segundo o último dado divulgado, os atacadistas deixaram de comercializar cerca de 29.419 toneladas na semana passada. O fluxo financeiro caiu R$ 72 milhões, cerca de 45,5%, passando de R$ 158 milhões para pouco mais de R$ 86 milhões.
CORREIOS
O ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) disse nesta quarta-feira, 30, que os serviços dos Correios afetados pela greve dos caminhoneiros estão sendo retomados, mas evitou dar um prazo para a normalização das entregas.
"Como todos os setores da economia brasileira, os serviços estão sendo restabelecidos paulatinamente. É evidente que existe um acúmulo de serviços que não foram prestados por conta das circunstâncias, mas, com o envolvimento de todos os trabalhadores, nossa expectativa é que o atraso seja recuperado nos próximos dias", afirmou o ministro no intervalo do Fórum Brasil de Investimentos, realizado pelo governo federal na zona sul da capital paulista.
Kassab disse que é difícil falar em quanto tempo os serviços serão normalizados. Prometeu, porém, que isso deve ocorrer rapidamente.
"Quando você dá um prazo, você é obrigado a cumprir porque as pessoas contam com esse prazo. Prefiro, com a responsabilidade que tenho, dizer que será o mais rápido possível", afirmou o ministro.
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