Eduardo Leite estima que reconstrução do RS terá custo inicial de R$ 19 bilhões
Mas o valor pode ser bem maior, segundo o economista Claudio Frischtak, que calcula em R$ 100 bilhões o investimento necessário para recuperar o Estado
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), divulgou a primeira estimativa preliminar do custo para a reconstrução inicial de grande parte do território após a maior tragédia ambiental do Estado: R$ 19 bilhões.
O desastre ambiental e a crise humanitária seguem em curso, com quase 1,5 milhão de afetados e aumento do número de municípios atingidos dia a dia, com 425 das 497 cidades gaúchas impactadas. Ao menos 164,5 mil gaúchos estão desalojados.
"Os cálculos iniciais das nossas equipes técnicas indicam que serão necessários, pelo menos, R$ 19 bilhões para reconstruir o Rio Grande do Sul. São necessários recursos para diversas áreas", anunciou em rede social. "Insisto: o efeito das enchentes e a extensão da tragédia são devastadores. Nas próximas horas, vamos detalhar as ações projetadas que contemplariam as nossas necessidades", continuou.
O cálculo não inclui todos os danos materiais dos atingidos, dentre empresas, residências e outros espaços. Na prática, o impacto será ainda maior para uma recuperação. A sucessão de chuvas extremas, deslizamentos, vendavais e enchentes bloquearam centenas de vias, rodovias, pontes e acessos diversos pelo Estado. A destruição deixou municípios praticamente inteiros debaixo d'água.
Onde as cheias baixaram, a devastação começa a ficar ainda mais evidente, como no Vale do Taquari, porém há previsão de novos temporais e repique nas cheias a partir de sexta-feira, 10. Grande parte dos municípios vivem crise no abastecimento de água, energia e mantimentos.
CUSTO PODE CHEGAR A R$ 100 BILHÕES
Para especialista, o custo da reconstrução ficará mais claro após o fim da tragédia ambiental, quando as águas baixarem e toda a destruição estiver mais evidente. Serão necessários estudos e levantamentos variados para identificar os impactos, assim como para avaliar mudanças e adaptações para evitar que situações tão graves se repitam.
Cálculos preliminares do economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter B, indicam que a reconstrução exigirá ao menos R$ 92 bilhões ou 0,8% do PIB. O especialista destaca que o Rio Grande do Sul tem cerca de 5% da população brasileira, e que o estoque de infraestrutura do País chega a 36% do PIB.
"O Estado deve refletir a média do País ou pouco menos, algo em torno de 1,5% do estoque (da infraestrutura). Se metade foi destruída ou danificada ao ponto de ter de ser reconstruída, podemos então indicar que o custo seria cerca de 0,8% do PIB ou R$ 92 bilhões", afirmou.
Como as novas obras terão que levar em consideração o risco climático, o gasto tende a ser maior. "O custo de reconstruir com maior resiliência (às chuvas) é possivelmente maior do que o foi no passado. Além disso, nem toda infraestrutura urbana que foi fortemente afetada está refletida naquele nível de estoque, a exemplo de vias urbanas e prédios públicos. Logo, o número pode ser maior do que R$ 92 bilhões", afirmou.
Ele entende esse número como um ponto de partida, um dado que indique o tamanho do desafio que será a reconstrução após a tragédia. "É uma estimativa em termos de ordem de magnitude. Só saberemos de fato quando as águas baixarem e se puder fazer uma avaliação criteriosa", afirmou.
Segundo ele, o governo federal precisará remodelar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para direcionar parte dos recursos para o estado. Além disso, as emendas parlamentares terão que se concentrar no essencial, com análises baseadas no custo-benefício de cada projeto. "Neste momento, precisamos nos afastar do populismo fiscal e do patrimonialismo com dinheiro público", afirmou.
IMAGEM: Gustavo Mansur/Palacio Piratini