É hora de virar a página

O impeachment de Dilma e a ascensão de Michel Temer à presidência representa o fim de um ciclo de treze anos de um projeto de poder absoluto, de um grupo político que entendia o Estado como agente do desenvolvimento e tutor do setor privado

Marcel Solimeo
02/Set/2016
Economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo
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Consumado o “impeachment”, apesar da absurda decisão do Senado de manter os direitos políticos de Dilma Roussef, Michel Temer assumiu como presidente efetivo do Brasil. 

Esse fato representa não apenas uma substituição de pessoas no comando do país, mas, também, o fim de um ciclo de treze anos de um projeto de poder absoluto, de um grupo político que entendia o Estado como agente do desenvolvimento e tutor do setor privado, criando mais empresas estatais, aparelhando as empresas reguladoras, intervindo excessivamente na economia, aumentando a burocracia e inibindo a atividade produtiva.

O Brasil, na definição de Roberto Campos, se assemelhava mais a uma “economia de comando” do que de mercado

Na área internacional, além de uma política externa terceiro-mundista, participou da criação do Foro de São Paulo e da Unasul para unir a esquerda latino-americana, desvirtuou o Mercosul apoiando a entrada da Venezuela e financiou em condições subsidiadas os países bolivarianos.

Mais do que o estrago na economia, a atuação desse grupo nesse longo período, seguiu a estratégia traçada por Gramsci de enfraquecer as instituições para facilitar a tomada de poder. 

Assim, a educação e a cultura foram aparelhadas, adotou-se em substituições à luta de classe marxista, o estimulo artificial ao confronto entre minorias e a maioria (negros versus brancos, indígenas contra ruralistas, homossexuais e hetero, sem terra e proprietários, etc).

Atacou-se de todas as formas a família, (casamento gay, aborto, exacerbação da sexualidade com a educação sexual precoce nas escolas, etc) e se procurou enfraquecer o arcabouço legal, com o conceito de legitimidade substituindo o de legalidade, a vitimização do criminoso, a exacerbação unilateral dos “direitos humanos” e muitas outras formas de corroer os costumes e relativizar os crimes.

Para tudo isso era preciso assegurar apoio de outros grupos, seja cooptando-os com benesses (no caso dos empresários com créditos subsidiados, estímulos fiscais, oligopólio de grandes obras) e para os políticos, recursos financeiros para campanhas ou uso próprio. 

Os crimes praticados no mensalão e aqueles investigados Lava Jato resultam do projeto político baseado na ideia de que “os fins justificam os meios” principalmente porque não compactuam com a ética e moral burguesas, não considerando, portanto, ilícito se apropriar de recursos públicos (ou alheios). 

Usaram de maneira inteligente os programas sociais criados pelo governo anterior, conquistando a simpatia das massas.

O ingresso de enorme volume de recursos do exterior, via preços elevados dos produtos primários, combinado com expansão do crédito e redução dos juros, permitiram o aumento do consumo, incorporando milhões de brasileiros ao mercado. 

Com a queda da receita externa, contudo, apelou-se para uma política fiscal expansionista e irresponsável para tentar manter o consumo, do que resultou a maior recessão e desemprego da história.

Com essas considerações, não se pretende fazer uma análise exaustiva, seja de natureza política ou econômica dos últimos treze anos, mas apenas chamar a atenção de que a longa permanência desse grupo do poder, sem praticamente enfrentar oposição em relação a sua estratégia de enfraquecimento das instituições, o que permitiu a penetração ideológica de muitas de suas posições, principalmente entre os jovens, e a infiltração de seus militantes em inúmeros órgãos do governo (FUNAI,INCRA, ministérios da educação, cultura, direitos humanos, etc.) o que vai ser muito difícil de erradicar.

Mais importante, contudo, é ter a consciência de que, se a sociedade não se mobilizar para que o país tome o rumo correto tanto na economia como na política, pode-se correr o risco de um retorno desse grupo ao poder, mesmo que não necessariamente com o mesmo comando e os mesmos métodos, mas, certamente, com a mesma ideologia. 

Precisamos adotar as medidas corretas com urgência e preparar o país para poder fazer as escolhas certas em 2.018, o que vai exigir mobilização de todos os que não desejam que o Brasil seja de novo conduzido na direção contrária aos seus valores e aos seus interesses.

 

 

 

 

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