Como o pequeno varejo eletrônico pode driblar o reajuste dos Correios
A alta de até 51% nos preços de fretes prejudica diretamente micro e pequenos e-commerces que correm risco de perder competitividade
Ao mesmo tempo em que lidam com a queda no poder de compra, desemprego, taxas e impostos, os micro e pequenos empreendedores vão ter de conviver com mais um agravante: vender pela internet ficou mais caro desde a última terça-feira (06/03).
No final de fevereiro, os Correios anunciaram o reajuste das tarifas nas entregas de encomendas por Sedex ou PAC em todos o país.
A notícia de que o aumento dos serviços seria entre 8% e 51% ante iinflação anual ficou em torno de 3% foi recebida com protestos pelos e-commerces brasileiros.
Antônio Figueiredo, um dos sócios da Sapato Grande, questiona a ação dos Correios. Hoje, 100% das entregas realizadas pela loja virtual são feitas pela empresa estatal. Deste total, 20% chegam ao destino final com atraso.
Além dos atrasos, muitas mercadorias ainda travam em alguns pontos do país, como é muito comum no Rio de Janeiro, de acordo com o empresário.
Há também episódios em que os produtos simplesmente somem no trajeto. Não é possível encontrá-las nem mesmo pelo código de rastreio.
No final, todos esses transtornos vão parar na conta do empreendedor. Tal ineficiência levou Figueiredo a retirar a opção de frete grátis em compras acima de R$ 200 que seu site oferecia. Somente a cidade de São Paulo permanece com o benefício.
O Mercado Livre, que possui o maior contrato de serviços de encomendas com os Correios, também foi informado de que teria seus valores reajustados em média em 29%.
Em seguida, o site de venda e compra de mercadorias lançou uma campanha contra o reajuste alegando que mais de 110 mil famílias têm as vendas no marketplace como sua principal fonte de renda.
Em nota, a plataforma aponta que diversas rotas entre cidades fora dos grandes centros teriam um aumento de até 51% no valor do frete.
Segundo as estimativas da empresa, a postagem de um objeto que pese até 500 gramas, via PAC, e tenha como origem São Paulo-SP e destino Brasília-DF, passaria a custar, de R$14 para R$15 (8%).
Já o envio de um produto de até 500 gramas que saia de Caxias do Sul-RS e seria enviado, via PAC, para Recife-PE passará a custar de R$ 54 para R$ 82 - 51% a mais.
Além de conseguir uma liminar que suspendeu o aumento das tarifas nas entregas de encomendas por Sedex ou PAC, a plataforma também conseguiu impedir a cobrança de taxa extra para entregas no Rio de Janeiro por conta de problemas com a segurança pública.
Embora tenha sido comemorada por empresários do segmento, a suspensão se aplica, exclusivamente, ao Mercado Livre. Outros marketplaces também não serão tão prejudicados, uma vez que possuem logística própria ou parte das entregas terceirizadas por empresas privadas.
Enquanto isso, seguindo o exemplo de colegas do ramo, Figueiredo está em busca de outras opções logísticas.
Na opinião de Paulo Henrique do Carmo, diretor de operações da Invento Sistemas, empresa especializada em e-commerces, o empresário está certo.
OUTRAS POSSIBILIDADES
O mercado de entrega de encomendas para o e-commerce é enorme. Em 2017, foram mais de 106 milhões de pedidos em lojas virtuais.
Embora tenha muita capilaridade, o desempenho dos Correios para quem não tem acesso às tabelas de precificação mais baixas ou negociações personalizadas não corresponde ao valor cobrado pela companhia.
No entanto, o especialista explica que para negócios de pequeno porte, os preços dos Correios (mesmo com o reajuste) costumam ser inferiores aos cobrados pelas empresas terceirizadas.
Por se tratar de um item tão decisivo para o consumidor, Carmo diz que não há muito a ser pensado na hora de escolher uma transportadora. O preço, sem dúvida, é o item mais importante a ser considerado.
Por isso, ele aconselha a estudar bem os pontos do país, onde as entregas feitas pela estatal costumam funcionar bem e oferecem preços menos abusivos, como, por exemplo, a região metropolitana de São Paulo, que abrange até cidades do interior.
O mesmo pode ser feito com transportadoras locais e que ofereçam preços mais baixos.
"O importante é reconhecer essa abrangência de acordo com a sua localização para trabalhar melhor esse público. Ou seja, vender mais para quem está mais perto", diz.
Por outro lado, Carmo destaca que a praticidade também conta como um dos motivos para comprar pela internet. Ou seja, há também quem pague por comodidade e agilidade.
Quem mora no Nordeste, por exemplo, já está habituado a pagar fretes mais altos, especialmente, por produtos que não existem na região.
O mesmo vale para quem comercializa produtos pelas redes sociais, de acordo com Cynthia Akao, especialista em vendas pelas redes sociais.
Cynthia diz que para quem é microempreendedor, a solução é disponibilizar o máximo de opções de frete possíveis e deixar que o próprio consumidor escolha sua melhor opção.
Outra possibilidade é direcionar automaticamente o consumidor para o site das próprias transportadoras.
Ela destaca que ao contrário dos Correios, as transportadoras não possuem restrição de pesagem com as encomendas, por isso podem ser uma boa opção para quem vende produtos mais pesados ou que ultrapassem as dimensões estabelecidas pela estatal.
Porém, dependendo da abrangência da loja virtual, e caso o endereço da encomenda a ser entregue for próximo ao empreendedor, é mais interessante diminuir os custos e o prazo de entrega com a utilização de um motoboy ou veículo próprio.
"A opção de retirada também pode ser uma alternativa, onde o comprador realiza toda a transação financeira pelo site e retira a mercadoria pessoalmente, especialmente, para itens com menor valor agregado", diz.
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