Como as entregas do comércio eletrônico podem impactar as cidades

Previsão de que os serviços “last mile” cresçam 78% até 2030 nas cem maiores cidades do mundo pode resultar num aumento médio de 11 minutos na duração dos trajetos urbanos, segundo o relatório “O Futuro do Ecossistema da Última Milha”

Mariana Missiaggia
05/Fev/2020
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A hipótese de que as cidades serão invadidas por um intenso tráfego de entregas orientado pelo comércio eletrônico e aplicativos está cada vez mais perto de se tornar real. Um relatório divulgado no recente Fórum Econômico Mundial (WEF), na Suíça, aponta que em três anos muitas cidades podem entrar em um verdadeiro colapso.

A análise, elaborada pelo Fórum Económico Mundial, pela McKinsey & Company e pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), revela que, para lidar com esse crescimento nas entregas, serão necessários 36% mais veículos nos centros das cidades até 2030.

O material teve a contribuição de empresas como a DHL, Uber, Unilever e Walmart e tenta indicar algumas possibilidades tecnológicas que, se implementadas rapidamente, podem ajudar a reduzir a emissão de gases e a evolução dos congestionamentos. 

O estudo analisou a aplicação de 24 tecnologias, como, drones, robôs, sistemas, como o clique e retire para concentrar pedidos, bem como outras alterações funcionais - mudanças nos horários de entrega, intervenções nos semáforos, além de obras estruturais nas principais ruas e avenidas. O material sinaliza que, num cenário de crescimento do comércio eletrônico, o setor terá mesmo de recorrer a toda a tecnologia possível para controlar as emissões e os tempos de trânsito.

De acordo com o relatório “The Future of the Last Mile Ecosystem” (em português, “O futuro do Ecossistema da Última Milha”), as entregas de curta distância, de última milha ou de última perna, como costuma ser chamada no Brasil, aumentarão 78% até 2030. Com isso, as emissões produzidas por essas entregas nas áreas urbanas vão aumentar em mais de 30%, até 2030, nas cem principais cidades do mundo, atingindo emissões de 25 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Junto com esse aumento, também é esperado que os congestionamentos aumentem mais de 21%, tornando o trajeto diário de cada passageiro, pelo menos, 11 minutos mais demorado.

O estudo revela que a última milha não é apenas a parte mais cara da cadeia de suprimentos, mas também um elemento-chave do mercado de comércio eletrônico, já que cada vez mais os clientes esperam entregas no mesmo dia e horários estimados de chegada precisos.

O WEF argumenta que, como as cidades possuem prioridades diferentes, e muitas vezes até competitivas, o melhor caminho a seguir seria criar soluções que, combinadas, melhorem o congestionamento, a poluição e diminuam o custo unitário das entregas.

Nesta análise, publicada pelo WEF, as opções que teriam o maior impacto na redução de emissões de dióxido de carbono incluem o uso de veículos mais ecológicos, o redirecionamento dinâmico – que permite encontrar a melhor maneira de ir de um ponto a outro através de atualizações que reduzem a quilometragem e o tempo de viagem – e entregas por meio de robôs automatizados, drones e armários compartilhados. O relatório aponta alguns exemplos de intervenções e resultados que incluem, por exemplo, veículos elétricos a bateria que podem reduzir as emissões de dióxido de carbono em 16%. A entrega durante a noite ou em horários adjacentes pode reduzir o congestionamento do trânsito em 15%.

Outra conclusão apontada no relatório é o fato de que a procura e a oferta de opções de entrega cada vez mais rápidas crescerem a um ritmo superior ao das outras opções de entrega tradicional. Atualmente, as entregas realizadas no mesmo dia ou instantâneas são as que mais crescem, avançando, em média, 36% e 17%, respetivamente.

“A exigência do consumidor pela conveniência das compras on-line e da entrega rápida leva as empresas a correr para satisfazer essa demanda com opções de entrega cada vez mais sustentáveis“, diz Christoph Wolff, chefe de mobilidade do World Economic Forum.

Wolff cita que as entregas do e-commerce já geram pressão nos padrões de trânsito das cidades, devido a atuação de algumas empresas. O caso do Walmart está entre os exemplos citados – a companhia oferece a opção de entrega no mesmo dia para 75% da população dos Estados Unidos. A Amazon já faz entregas a quase 80% dos seus clientes em 24 horas. Na China, as entregas no mesmo dia e as entregas instantâneas já representam mais de 10% do total de pedidos. A adesão cada vez mais recorrente a essas opções gera uma pressão particularmente forte sobre um trânsito urbano já intenso.

PRA QUEM QUER REDUZIR O CUSTO DAS ENTREGAS LAST MILE

Logística multimodal - Uma opção explorada para conciliar o tráfego urbano e qualidade de vida é a adoção de uma estratégia multimodal com vários distribuidores. As lojas Monoprix, em Paris, por exemplo, combinam transporte ferroviário, entrega por caminhões movidos a gás equipados com dispositivos antirruído com veículos elétricos. Já as lojas Franprix, do grupo Casino, recebem entregas no centro da capital francesa através do rio Sena, especialmente para a entrega de materiais pesados.

Geolocalização - Além de deixar o cliente mais satisfeito, o investimento em tecnologias permite maior velocidade na entrega ajuda a empresa a agilizar processos e ganhar mais tempo. O recurso de geolocalização, por exemplo, possibilita a otimização e o aprimoramento de outras ferramentas utilizadas no processo de transporte. O cliente pode acompanhar a trajetória do produto até a sua chegada, a empresa descongestiona as linhas do SAC para esse tipo de informação e passa mais credibilidade com um controle mais preciso do tempo e trajeto de suas entregas.

FOTO: Pixabay

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