Cheiro de bom negócio: Centro de SP vira oásis dos perfumes árabes

Com fragrâncias exóticas, duradouras, frascos luxuosos e preços acessíveis, exemplares do Asad, Lattafa, Orientica e Al Haramain somem das prateleiras de lojas da região do Bom Retiro, Brás e 25 de Março em questão de horas

Cibele Gandolpho
04/Abr/2025
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Cheiro de bom negócio: Centro de SP vira oásis dos perfumes árabes

Os perfumes árabes têm se tornado uma verdadeira sensação no Brasil nos últimos anos. Da noite para o dia, surgem lojas vendendo essas fragrâncias exóticas e duradouras, principalmente no Centro de São Paulo. Os empreendedores estão lucrando com a febre que já tomou conta das redes sociais.

A perfumaria árabe é uma das mais antigas do mundo, com raízes profundas em países como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Omã. Embora sejam consumidos por séculos, foi apenas nos últimos anos que eles começaram a ganhar popularidade fora do Oriente Médio.

De acordo com especialistas, o crescimento do mercado global de perfumes, avaliado em US$ 51,89 bilhões em 2023, tem sido impulsionado pela busca por fragrâncias autênticas e exclusivas, como as encontradas na perfumaria árabes.

O Brasil é o terceiro maior consumidor de perfumes do mundo e o primeiro da América Latina, de acordo com pesquisas da Euromonitor International e da plataforma Statista.

O mercado de perfumes no Brasil é altamente dinâmico, com marcas locais e internacionais em constante crescimento. Ficamos atrás apenas da França, o berço da indústria de perfumes de luxo, e dos Estados Unidos, que têm um mercado mais homogêneo, entre marcas de luxo e também mais acessíveis à população. Em quarto, atrás do Brasil, vêm justamente os Emirados Árabes Unidos.

Em 2019, a visibilidade de um perfume árabe no programa Big Brother Brasil, da TV Globo, ajudou a consolidar a popularidade dessa perfumaria entre os brasileiros, um movimento que se intensificou com o trabalho de influenciadores e especialistas nas redes sociais.

Oásis no Centro de São Paulo

É comum andar pelas regiões da 25 de Março, Brás e Bom Retiro e encontrar vários pequenos comércios com prateleiras cheias dos famosos perfumes Asad, Lattafa, Orientica e Al Haramain, transformando a região no oásis dos perfumes árabes.

Segundo a perfumista Angélica Di Matteo, tem muita gente ganhando dinheiro em São Paulo com essa febre. “Não acredito que seja uma tendência passageira. Ela veio para ficar. O que vemos hoje é uma revolução no mercado de perfumaria global por conta dessa experiência sensorial única que os perfumes árabes oferecem.”

Os preços das fragrâncias variam entre R$ 150 e R$ 600. Há também fragrâncias exclusivas, por até R$ 3 mil. Mas é preciso tomar cuidado com as réplicas. Elas estão aos montes no mercado e as embalagens são muito parecidas. Há até vídeos no TikTok ensinando os consumidores a diferenciar a verdadeira da falsa.

Para garantir que se está comprando um produto original, é importante se certificar da origem. Segundo Ivana Menezes, diretora comercial da BR Brand Imports, uma empresa brasileira que importa e distribui produtos de beleza, perfumaria e cosméticos em todo o Brasil, fazer essa checagem não é difícil.

“Todo perfume trazido ao mercado brasileiro de forma legal possui o número de registro da Anvisa, assim como lote, validade, dados do importador, etc. Todas essas informações estão disponíveis na etiqueta de tradução que fica colada na caixa do perfume”, conta Ivana.

Muitos lojistas também vendem pelo TikTok ou pelo WhatsApp para todo o Brasil. É o caso da Shaydar Perfumaria, no shopping All Brás, no Brás, que exibe diariamente promoções das fragrâncias e disponibiliza o celular da loja para pedidos.

Os perfumes amontoados na prateleira são o fundo para os vídeos do TikTok. A loja até ensina como identificar os produtos originais por meio das embalagens. Reposições chegam todos os dias e é possível provar os perfumes de mostruário. Os posts chegam a bater 25 mil visualizações só no Instagram.

No shopping Market Paulista, que fica na Avenida Paulista, 1.941, Bela Vista, há a loja Arabia Night, uma das mais procuradas e lotadas. O preferido das mulheres, o Sabahal Al Ward, custa R$ 255. Já o Fakhar Lattafa tem valor a partir de R$ 239,90, que varia conforme o tipo de pagamento. No PIX é mais barato. Já para homens, o Sceptre Bronzite custa R$ 199,90, o The Kingdom, R$ 190, e o famoso Asad, sai por R$ 219,90 no Pix (R$ 300 no cartão).

Na Niche House, que fica na rua Comendador Afonso Kherlakian, 79, na região da 25 de Março, os destaques ficam com três fragrâncias com bastante procura, com tons florais. O perfume Yara Rose combina uma mistura de flores e acordes orientais e custa R$ 169. O Shahd mescla mel, flores e toque de madeira pelo preço de R$ 165. Já o Sabahal Al Ward sai por R$ 169.

A Sabrina Perfumes, na rua Barão de Duprat, 351, dentro do Castelo Shopping, atua também como distribuidora de perfumes árabes, com mínimo de seis peças, e envio para todo o Brasil.

Uma vendedora de uma dessas lojas, que não quis se identificar, contou que a demanda é tão grande que todas as remessas de caixas que chegam diariamente acabam em horas, principalmente se for divulgado no TikTok ou no Instagram.

“A loja fica mais cheia na hora do almoço e aos sábados. As pessoas já chegam sabendo o que querem, com o nome na ponta da língua, prova de como esses perfumes estão conhecidos. Mas há também quem chegue pedindo para conhecer a novidade”, explica.

Da esquerda para a direita, Lattafa Afeef; Lattafa-Fakhar Rose; Lattafa Yara; e Orientica Royal Amber (Imagens: reprodução)

 

Importação

Vários empreendedores brasileiros estão empenhados em trazer perfumes dos países árabes para o mercado nacional.

Segundo Ivana Menezes, da BR Brand Imports, a empresa iniciou suas importações de perfumes árabes em junho de 2024. “Nossa primeira marca árabe, a Style & Scents, chegou ao mercado brasileiro no meio do ano passado. Em setembro do mesmo ano, introduzimos a Khadlaj e, agora, no começo de 2025, chegou nosso mais novo lançamento, a Lou de Pre”, conta.

Fundada em 2010, a BR Brand tem parcerias com fornecedores com contratos que garantem exclusividade no mercado brasileiro. A logística, de acordo com Ivana, opera em um armazém no Espírito Santo, de 48 mil m² e 17 mil posições de pallets, com filial comercial em Alphaville, em São Paulo.

“O sucesso com as vendas de perfumes árabes foi tão grande que hoje a categoria ‘Perfume’ representa 80% do nosso faturamento.”

Arte milenar

Segundo a perfumista Angélica Di Matteo, desde o século VII os árabes dominaram técnicas de destilação e extração de óleos essenciais, desenvolvendo fragrâncias sofisticadas que refletem a rica cultura e tradição da região.

“Diferentemente das fragrâncias frescas e leves comumente encontradas nos perfumes ocidentais, as opções árabes têm como característica principal a projeção marcante e a longa duração.”

Ela conta que ingredientes raros como o oud, o âmbar, o almíscar, o jasmim, a mirra (que antes era usada na mumificação), o óleo de gálbano, a baunilha, o chocolate e o caramelo são essenciais nas fórmulas dos perfumes árabes, criando composições intensas, complexas e que demoram a sair da pele.

“Além disso, a forma como essa riqueza olfativa se mistura com elementos da natureza é que faz dos perfumes árabes um produto muito atraente”, explica Angélica.

No mercado, há duas versões de perfumes árabes, uma mais intensa, à base de óleo, e outra mais líquida, feita com álcool, água e fragrância (mais semelhante aos perfumes ocidentais).

“Os perfumes árabes são mais potentes por causa da concentração de fragrância, conhecida como Eau de Parfum. Os modelos tradicionais carregam entre 10% e 14% de fragrância, enquanto os árabes podem ter concentrações que superam os 20%”, conta a perfumista.

Entre os ingredientes mais emblemáticos deste tipo de fragrância do Oriente está o oud, uma madeira rara e de alto valor, também conhecida como “ouro líquido”. Extraído da árvore aquilaria, o oud é valorizado por seu aroma amadeirado, profundo e levemente doce, e é um dos principais responsáveis pela intensidade e longevidade das fragrâncias árabes.

Sua popularidade já ultrapassou as fronteiras do Oriente Médio, com marcas ocidentais, como Armani e Gucci, começando a incorporá-lo em suas fórmulas.

Os frascos: uma experiência de luxo

Além da composição única das fragrâncias, outra característica que torna os perfumes árabes ainda mais especiais é a apresentação. Com frascos adornados com metais refinados, pedras preciosas e detalhes luxuosos, esses produtos são considerados verdadeiras obras de arte.

Os frascos, muitas vezes inspirados pela cultura da joalheria no Oriente Médio, contribuem para a imagem de sofisticação e luxo que os perfumes árabes transmitem.

“Podemos dizer que a embalagem é um dos pontos altos dos perfumes árabes porque tudo o que é árabe parece estar ligado ao luxo excessivo e status”, afirma Angélica.

Inspiração nacional

A indústria brasileira está de olho na alta demanda. A Hinode, por exemplo, fundada em 1988 com uma pequena linha de cosméticos, lançou duas fragrâncias criadas em Dubai: o Inebriante Oásis e o Inebriante Zayd.

O Inebriante Oásis Elixir For Her, para mulheres, tem ameixa, jasmim da Índia, rosa, Ylang-ylang, mirra e âmbar na composição. Já o Inebriante Zayd Elixir For Him, para homens, conta com notas de bergamota, pimenta rosa, olíbano, patchouli, âmbar e amyris. Os perfumes têm preço sugerido de R$ 369,90 e podem ser encontrados no e-commerce da marca ou com consultores autorizados da Hinode.

“Somos a primeira empresa brasileira a desenvolver uma fragrância árabe criada na cidade de Dubai, e isso reforça o quanto a Hinode é uma marca com um olhar atento às tendências globais”, destaca Sandro Rodrigues, CEO do Hinode Group.

Com escritórios em oito países da América Latina, incluindo Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e México, a Hinode tem sede em Barueri, no interior de São Paulo.

Os perfumes foram desenvolvidos em parceria com a casa de fragrâncias da Dsm-Firmenich, sob a assinatura do perfumista grego Ilias Ermenidis.

Sabrina Pinho, Head de Marketing Global da Hinode, conta que a ideia de produzir perfumes inspirados no Oriente surgiu porque perceberam que era um território ainda pouco explorado pelos grandes players do mercado.

Ela também aponta a popularidade dos perfumes árabes em alta por conta das redes sociais e de influenciadores, contribuindo para a sua aceitação e demanda no Brasil.

“Para a linha Inebriante, conseguimos trazer práticas sustentáveis na extração de ingredientes como jasmim da Índia, ylang-ylang das Comores, patchouli da Indonésia e guaiacwood do Paraguai.”

 

IMAGEM: Freepik

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