Brexit começa a mostrar os sinais de “tiro no pé” para Londres

Autoridade monetária do Reino Unido apela para flexibilização de controle de capitais e diminuição de impostos para enfrentar as previsões de queda do PIB. Mercado se prepara para o endurecimento das condições comerciais e financeiras

Estadão Conteúdo
10/Jul/2016
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Brexit começa a mostrar os sinais de “tiro no pé” para Londres

Multiplicaram-se os sinais de que a separação entre Londres e Bruxelas pode levar a economia britânica a uma espiral negativa. Os indícios contrariam os defensores da saída do Reino Unido da União Europeia, que cantavam vitória com a volta do principal índice da Bolsa de Londres, o FTSE 100, aos níveis pré-Brexit. 

As más notícias incluem os movimentos de seis companhias de gestão de ativos, que congelaram as movimentações de seus clientes em fundos imobiliários para impedir uma fuga em massa de recursos. 

Na mesma semana, o Banco da Inglaterra, a autoridade monetária britânica, publicou um relatório no qual afirmou que os efeitos práticos do referendo já começaram a aparecer. "Há evidência de que algum risco começou a se cristalizar. O atual cenário da estabilidade financeira do Reino Unido é desafiador", reconheceram os técnicos do banco.

A entidade planeja enfrentar a ameaça de recessão flexibilizando as normas de controle de capitais em bancos britânicos, depois de já ter indicado estar pronta a injetar £ 150 bilhões no mercado para compensar os efeitos do Brexit, se necessário. 

De sua parte, o secretário do Tesouro, George Osborne, anunciou que pretende reduzir de 20% a 15% o Imposto sobre Sociedades (IS), de forma a poder concorrer melhor com o mercado da Irlanda - país que faz parte da zona do euro e oferece um imposto de 12% para empresas que se instalam no país. A título de comparação, a França também reduzirá o IS, mas de 33% para 28%.

Nem a corrida ao imposto mais baixo, que ameaça transformar o Reino Unido em uma espécie de superparaíso fiscal, tem evitado o impacto negativo. Desde o Brexit, a libra esterlina enfrenta sua menor cotação frente ao dólar em cerca de 30 anos, e a desvalorização também acontece em relação ao euro. 

Com a flutuação negativa, a tendência é de que o Reino Unido perca de novo o título de quinta maior economia do mundo para a França, que havia sido ultrapassada em 2015. Se a cotação média do ano girar em torno da atual, hoje em 1,17 por libra, o PIB britânico será de 2,17 trilhões, atrás dos 2,18 trilhões do PIB francês.

Fora o lado folclórico da competição, o balanço das perdas começa a preocupar. "Não há dúvidas de que haverá um impacto negativo para a economia europeia no curto prazo. Mas o consenso é de alguns décimos de PIB, enquanto no Reino Unido as perdas serão maiores", diz Nicolas Veron, analista do Instituto Bruegel.

Para o banco francês BNP Paribas, a previsão de crescimento da economia britânica já precisa ser revisada para baixo. "O Brexit deverá amputar o crescimento britânico em 2016 e mais ainda em 2017. Em especial por causa do aumento da incerteza, de sua incidência negativa nas trocas comerciais e do endurecimento das condições monetárias e financeiras", entende Laurent Nahmias, economista sênior do banco. Para ele, o sistema financeiro será o mais atingido. 

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