Boulevard do Brás abre caminho para mudança de perfil das ruas comerciais

Projeto do calçadão da rua Tiers, previsto para iniciar em abril e bancado por comerciantes locais, dá impulso a outros planos de requalificação de vias famosas, como a Ipiranga com a São João e a 12 de Outubro

Karina Lignelli
01/Fev/2022
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Boulevard do Brás abre caminho para mudança de perfil das ruas comerciais

Imagine andar pelo Brás em um calçadão exclusivo para pedestres, com paisagismo, iluminação em led, proteção do sol e da chuva e até espaço reservado para ambulantes regularizados e organizados? 

Essa é a proposta do boulevard da Rua Tiers, projeto de requalificação que abrange cinco quarteirões do bairro (espaço de 600 metros de extensão que liga as ruas João Teodoro e Conselheiro Dantas), e que será bancado por comerciantes da região filiados à Fevabrás (Federação dos Atacadistas e Varejistas do Brás). 

Com início das obras previsto para abril e término até o Natal, o empreendimento de custo estimado em R$ 15 milhões foi autorizado pela prefeitura de São Paulo, que assinou em agosto último termo de cooperação com a Fevabrás para realizar o projeto, coordenado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (Smul).  

A proposta também promete transformar uma das ruas mais movimentadas do polo de compras e o seu entorno em modelo urbanístico de conforto e segurança para as mais de 1 milhão de pessoas que circulam por lá diariamente, diz Gustavo Dedivitis, presidente da Fevabrás, que representa shoppings e grandes lojas locais. 

"O objetivo é transformar o Brás em exemplo positivo e possibilitar que outras classes sociais venham conhecer o bairro, ressignificando todo o perímetro para requalificar uma região que hoje está uma bagunça."

Mesmo sendo uma iniciativa privada, o futuro calçadão da Rua Tiers pode dar um 'start' em um projeto maior da prefeitura paulistana para requalificar outras vias famosas e temáticas da cidade.  

Conforme informado em nota pela Smul, que está como responsável pela elaboração desses projetos urbanísticos, a proposta é fazer intervenções pontuais em oito vias - assim como deve ser feito no Brás - que incluem reforma de calçada, modernização da iluminação, paisagismo e troca do mobiliário urbano.  

A mais adiantada delas é a Esquina Histórica (Ipiranga x São João), cuja licitação da obra foi concluída em dezembro. Já a General Osório (Rua das Motos) e 12 de Outubro estão em fase de estudo de viabilidade. 

As demais estão em estágio inicial de avaliação: Rua dos Eletrônicos (Santa Ifigênia), Rua das Noivas (São Caetano), Rua das Ferramentas (Florêncio de Abreu), Rua Capitão Tiago Luz/Largo da Matriz (Santo Amaro) e Largo da Matriz Freguesia do Ó. 

"O objetivo é potencializar as vocações já existentes dessas vias para estimular a economia local, promover o turismo e oferecer espaços mais dinâmicos e seguros à população", informa a Secretaria.    

Antônio Carlos Pela, coordenador do Conselho de Política Urbana (CPU) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), da qual é vice-presidente, acompanha de perto os projetos de requalificação de vias. Ele diz que sua efetivação deve beneficiar não só lojistas, mas consumidores e até ambulantes legalizados.  

Em sua avaliação, a iniciativa recente da prefeitura de pensar em modelos de revitalização de ruas de comércio é um avanço. Mas destaca a atuação dos lojistas que se uniram para investir no projeto do Brás. 

"O investimento é grande, e não sei se os empresários de outras regiões estão capitalizados para isso. Quem sabe agora a prefeitura estimule formas de criar financiamentos para obras do tipo?", sugere. "A ACSP, por meio da CPU, dá todo o apoio, pois o benefício não será só para o comércio, mas para toda a cidade."  

BOM PARA TODOS?  

A requalificação de ruas comerciais por iniciativa dos próprios lojistas pretende promover o resgate e a valorização da vocação de cada região da cidade. Daí a importância da parceria entre poder público e as entidades empresariais, "que representam quem vive e empreende nessas localidades", informa a Smul. 

Mas, no caso específico do calçadão da rua Tiers, o anúncio, feito no fim de 2021, período de reabertura total do comércio desde o início da pandemia, aconteceu em meio a denúncias de cobranças irregulares de espaços e manifestações de camelôs para a prefeitura fornecer mais TPUs (Termos de Permissão de Uso).  

Sem dar maiores detalhes sobre a área destinada aos ambulantes legalizados no projeto, Gustavo Dedivitis, da Fevabrás, afirma que o espaço final deve abrigar a todos, pois será uma área de convivência. 

"Estamos conversando com todas as entidades, e os legalizados estarão inseridos no projeto pois fazem parte do comércio de rua", explica. "Obviamente que, como federação, não temos ingerência na regularização de ambulantes. Mas temos argumentado junto à prefeitura para fazer um calçadão modelo nesse sentido." 

A requalificação da região, que tem potencial para atrair um novo público, de acordo com Dedivitis - que diz que o comércio do Brás é "padrão Faria Lima" - foi bem recebida por outra associação de lojistas do bairro, a Alobrás. 

Segundo o presidente Lauro Pimenta, proprietário da Dejelone Jeans, além de atrair um público que não costuma frequentar a região, mas que virá atraído por segurança, conforto e higiene, a acessibilidade é importante para minimizar a concorrência desleal e o desentendimento entre lojistas e comércio ambulante. 

"O boulevard deve despertar o debate: como tirar essa pessoa em busca de ganha-pão da rua de maneira a contribuir com a cidade e ajudar a acabar com a bagunça [em regiões de comércio]? Falta coordenação e acessibilidade, mas ao requalificar o espaço urbano, o ambulante se sentirá mais inserido na sociedade."

Mas há posturas diferentes. Para Jean Makdissi, segunda geração à frente da Intima Store e conselheiro da Alobrás, a iniciativa privada de construir o boulevard onde há quatro ou cinco shoppings melhorará o trânsito de pessoas e ampliará a atratividade do bairro, fazendo os lojistas se destacarem frente à concorrência. 

Por outro lado, para lojistas de rua distantes desse quadrilátero, como os presentes em vias também famosas no bairro, como Maria Marcolina ou Oriente, o calçadão pode deslocar o público e diminuir o fluxo nas vias. 

Em sua avaliação, as lojas de rua tem essa característica comercial um pouco diferente das dos shoppings, já que muitos oferecem produtos de menor valor agregado, menos elaborados e sem a mesma qualidade. 

"Sem contar o fato de que às vezes há uma informalidade muito maior do que nas lojas de rua, que não têm mais isso", destaca. "É com essa informalidade que vem a concorrência desleal, por isso o lojista de rua precisa cada vez mais melhorar o atendimento e qualidade dos seus produtos para não ser ultrapassado."

Além do aterramento dos fios aéreos e troca do asfalto por um passeio de 9 mil m2 para pedestres, o projeto arquitetônico prevê cobertura de aço com vigas transversais, para manter claridade e ventilação. "Ele não será à prova de chuva, mas trará mais conforto e segurança para o público", afirma Dedivitis. 

Com análise sobre o impacto urbanístico da obra feita pela Smul, a Subprefeitura da Mooca será responsável por acompanhar a construção do boulevard. Já a manutenção e a segurança serão pagas pelos lojistas.  

 

IMAGENS: Fotos Públicas e Divulgação     FOTOMONTAGEM: Will Chaussê

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