Até o lixo virou mídia para a propaganda

Máquinas e sistemas de logística reversa garantem que empresas cumpram a lei ao mesmo tempo em que criam relacionamento com o consumidor, geram fluxo e captam dados de consumo

Italo Rufino
18/Abr/2019
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Até o lixo virou mídia para a propaganda

Recentemente, os alunos das universidades Anhembi Morumbi e FMU passaram a trocar lixo por créditos no Bilhete Único. Quer dizer, lixo não, embalagens recicláveis.

Há um mês, foram instaladas nessas escolas máquinas em que as pessoas podem depositar embalagens de aço, alumínio, vidro e plástico em troca de uma série de benefícios.

Batizados de Retorna Machine, os equipamentos, dotados de softwares e tela touchscreen, funcionam como um programa de fidelidade.

Os resíduos depositados viram pontos que podem ser convertidos em desconto na conta de energia elétrica da Enel; crédito nos cartões de transporte metropolitano; recarga de celulares pré-pagos das principais operadoras do país e pontos no programa de fidelidade da Livraria Saraiva.

Para ter acesso aos benefícios, basta que o aluno cadastre seu nome, e-mail e CPF diretamente nas máquinas ou no site ou aplicativo da Triciclo, empresa que desenvolve as Retorna Machines.

Por meio dos canais, o consumidor também acessa o saldo e faz a conversão. Por exemplo, uma lata de alumínio rende 15 pontos. Já a soma de 100 pontos equivale a 27 centavos na conta da Enel e 35 centavos no Bilhete Único, Cartão Bom e recarga de celular. Na Livraria Saraiva, 5 pontos é igual 1 ponto no programa de fidelidade.

E como as empresas podem tirar proveito desse lance?

FELIPE CURY, DA TRICICLO: CONTRATOS COM 50 EMPRESAS

As Retorna Machines instaladas nas universidades são patrocinadas pela Cargill, dona das marcas Liza, Pomodoro e Tarantella.

De acordo com Marcio Barela, coordenador de sustentabilidade da Cargill, o principal motivo da indústria é conscientizar o consumidor e incentivar a reciclagem.

“O desafio para aumentar a reciclagem é mudar o comportamento das pessoas”, diz o executivo. “A Retorna Machine, por meio da tecnologia, traz um incentivo a mais para os consumidores reciclarem”.

Além das duas máquinas nas universidades, a Cargil possui mais quatro nos atacadistas Tenda e Makro e uma na estação de Metrô República, da Linha Amarelha (ViaQuatro).

As máquinas são personalizadas com os símbolos das marcas da Cargill. Nas telas, são exibidos vídeos educativos e promocionais.

Hoje, as máquinas patrocinadas pela Cargill possuem quase 800 usuários cadastrados.

Desde dezembro, quando os primeiros equipamentos foram instalados, foram recolhidas mais de 5.100 embalagens.

MEIO DE COMUNICAÇÃO

Por ser envelopada de acordo com o patrocinador e poder exibir mensagens promocionais, as máquinas também servem como um veículo de mídia.

A ideia é investir para criar lembrança de marca e também para fomentar a imagem de negócio ambientalmente sustentável.

Outras táticas de comunicação podem ser usadas.

A incorporadora BKO instalou uma máquina num shopping center próximo a um terreno onde estava em construção um novo empreendimento.

Além dos pontos, a máquina gerava um voucher que dava direito a um brinde para quem visitasse o estande do empreendimento.

Num ponto de venda, as máquinas também podem atrair mais fluxo e, consequentemente, aumentar as vendas. Uma análise realizada pela Triciclo comparou o desempenho de uma máquina que foi transferida de uma unidade de um supermercado para outra na mesma região.

Os relatórios apontaram que 10% dos consumidores que utilizavam a máquina na primeira unidade passaram, após a mudança, a frequentar a segunda. Isso significa que parte dos consumidores escolhem o ponto de venda devido a máquina.

O mesmo supermercado também fez parceria com a Coca-Cola para envelopar a máquinas com as cores vermelhas da marca.

Ao mesmo tempo, foi criada uma promoção na qual a cada latinha de refrigerante depositada, o consumidor ganhava um voucher com desconto de 10% na compra de outra lata no mesmo estabelecimento.

“Essas ações aproximam o lojista da indústria e gera mais vendas tanto para a fabricante quanto para o varejo”, afirma Felipe Cury, sócio da Triciclo.

LOGÍSTICA REVERSA

As Retorna Machines foram desenvolvidas pela Triciclo para contemplar as exigências da Lei Nacional de Resíduos Sólidos, que determinou a Logística Reversa: um instrumento que obriga as indústrias a viabilizarem a coleta de resíduos para reaproveitamento em ciclos produtivos ou destinação ambientalmente adequada.

RETORNA MACHINES RECOLHERAM QUASE 6 MILHÕES DE EMBALAGENS

Neste caso, a Triciclo atua como um prestador de serviço. A empresa desenvolve, implementa e opera as máquinas, que são patrocinadas por outras empresas.

Hoje, são 32 máquinas em operação – mais 25 serão instaladas nos próximos meses.

Funciona assim: quando a máquina está próxima da capacidade máxima, uma equipe da Triciclo faz a coleta e envia o material para um galpão da empresa.

Lá é feita a triagem (separação em alumínio, plástico, vidro e aço) e classificação (como diferenciação entre plástico verde e transparente, que possuem valores de mercado distintos).

A Triciclo, então, prensa o material e envia os fardos para recicladores, cooperativas ou indústrias – o aço, por exemplo, é destinado a Gerdau.

Para fechar o ciclo, a Triciclo gera relatórios de quantos quilos de cada material foram coletados e destinados corretamente.

É elaborada uma documentação, composta por notas fiscais, que garantem a rastreabilidade dos resíduos. Os documentos são encaminhados para as empresas patrocinadoras das máquinas, que os utilizam para compor seus relatórios ambientais.

Para um lojista que deseja uma máquina, o custo varia de acordo com a localidade do estabelecimento, quantidade de equipamentos e tempo de contrato.

Numa simulação feita por Cury, o aluguel de 10 máquinas, instaladas na Grande São Paulo, num contrato de 12 meses, custa R$ 3,5 mil reais mensais por máquina.

Em funcionamento desde 2016, a Triciclo já recolheu 5,932 milhões de embalagens.

A empresa atendeu cerca de 50 empresas, entre elas Carrefour, Unilever, Brasil Kirin, Coca-Cola, Tetra Pak, Bauducco, Chevrolet e Drogaria São Paulo.

Embora não seja o foco das clientes, as Retorna Machines possuem um detalhe que pode ser bem valioso.

Como as máquinas identificam o código de barras, é possível obter dados sobre quais embalagens estão sendo devolvidas de acordo com marca, tamanho do frasco e ponto de recolhimento.

Isso pode revelar o comportamento de consumo numa determinada região, caso a máquina esteja instalada num supermercado, local onde as pessoas também fazem a compra.

IMAGENS: PixaBay e Divulgação

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