Anestesia geral?
A grande imprensa, hoje uma mídia olhando mais seu próprio umbigo, silencia de forma traiçoeira aos princípios libertários
Depois de meio século de vida profissional como jornalista, em pleno ano de 2021 fico com um nó na cabeça. O que vale hoje em dia? Estamos todos anestesiados?
Sempre pratiquei e – felizmente - pratico até hoje neste Diário do Comércio (são 39 anos de publicação desta coluna) jornalismo informativo e quando opinativo, caso da coluna, baseado em fatos e não em minha interpretação dos fatos.
Daí a pergunta inicial. Serve para o jornalismo atual e também para a vida nacional.
Os grandes veículos de comunicação se tornaram ou braços de partidos políticos ou órgão de defesa doutrinária deste ou daquele viés ideológico e partidário, sem assumir essa definição. Querem ainda mostrar-se como independentes e isentos quando fazem proselitismo, manipulação, interpretação e desinformação. Estou procurando exceções, como a deste jornal.
No caso da política, leio e releio a Constituição e ela diz taxativamente que o regime brasileiro é o presidencialismo. Inclusive, foi ratificado por plebiscito popular. Nem estou afirmando que é o melhor, mas a Lei Maior do país diz que é presidencialismo.
Leio, então, um membro do Supremo Tribunal Federal, aliado a outros pares seus e ao presidente da Câmara dos Deputados, afirmarem que no Brasil de hoje estamos num semipresidencialismo, como onde o Supremo exerce o papel de poder moderador.
Procurei em vão esta prerrogativa na Constituição Federal e nada encontrei.
Fica um nó em minha cabeça.
Pela mesma Constituição, o papel do STF é o de proteger e fazer cumprir a própria Carta Magna. Esta diz que o Brasil é presidencialista.
O que o STF e o Parlamento, com apoio de partidos políticos, estão fazendo, não é violar a Constituição, ao definirem de per si uma alteração no regime de governo do país? Sem um voto, sem um mandato, apenas por assim entenderem, por ser vontade própria alienada do que pensa a população?
Somente com estas duas questões coloco perante o leitor (alguns fiéis de quase 4 décadas) o porque das dúvidas que me assolam a esta altura da jornada.
STF, poder moderador?
Câmara e Senado aceitam? Apoiam? Partidos políticos aplaudem?
Tudo isto sem uma proposta de alteração da Constituição que tenha tramitado de forma legal? Tudo isto sem ouvir o que a população pensa a respeito?
Alguma coisa está profundamente errada, fora do lugar e tem cheiro de golpe branco de estado.
E complica de vez quando a antes chamada de grande imprensa, hoje uma mídia olhando mais seu próprio umbigo, silencia de forma traiçoeira aos princípios libertários, legais e formadores, quando se omite ou apoia de forma velada ou ostensiva.
É a reação em conluio do chamado “sistema” contra um governo legitimamente eleito, com uma proposta definida e clara, de buscar acabar com a corrupção e os conchavos espúrios da vida pública?
Ando tentando entender, embora a resposta esteja cristalina à frente de todos, e como Rui Barbosa, chego a duvidar de mim mesmo, de 50 anos de jornalismo honesto, de crença na decência do homem público pátrio. Ah. Sim, do homem e da mulher, porque agora até a língua estão mudando nos artigos e no comum de dois.
Cícero disse no antigo Senado romano: Ó tempores Ó mores.
O que ele diria vendo o Brasil de hoje?
Estranho silêncio obsequioso das pessoas de bem, que pensam, discernem, ao aceitar que aos poucos, o gramscismo vá se infiltrando e dominando o país. Até dominar também sua população e dizimar de vez nossa liberdade.
**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio