Alexandre Allard, idealizador da Cidade Matarazzo, recebe Prêmio Rodovalho
Seu megaprojeto de luxo está repaginando uma área de 150 mil metros quadrados antes abandonada na região da Paulista


Quando decidiu empreender na região da Avenida Paulista com o projeto verde conhecido como Cidade Matarazzo, o francês Alexandre Allard foi chamado de maluco e visionário. Para muitos, era muita ousadia querer transformar um local abandonado há mais de 20 anos, preservar construções antigas, como o Hospital Matarazzo, construir uma torre de 32 andares, uma verdadeira floresta vertical com árvores de até 14 metros de altura, que hoje compõem um cenário da cidade de 150 mil metros quadrados, alimentada por energia limpa, abrigando hotel de luxo, apartamentos, restaurantes, centros de cultura e eventos e um verde exuberante proporcionado pela plantação de mais de 10 mil árvores.
“A Cidade Matarazzo é um grande lugar dedicado a abrir os olhos e conscientizar a sociedade brasileira sobre o tema da regeneração do meio ambiente. O Brasil não tem ideia do que representa para o mundo”, diz o empresário, escolhido para receber o Prêmio Antônio Proost Rodovalho.
Em entrevista ao Diário do Comércio, Allard aborda a burocracia enfrentada para tirar do papel o sonho de construir um modelo de cidade inteligente, e revela os bons resultados alcançados com a primeira fase já concluída do projeto.
DC - Por que a escolha do Brasil, e especificamente São Paulo, para abrigar o empreendimento verde conhecido como Cidade Matarazzo?
Decidi fazer um projeto para ajudar o Brasil a entender que ele é muito importante para o planeta. E São Paulo é a sua capital econômica. O desafio mais importante é mudar a maneira de ver e de pensar das elites econômicas do país. É preciso pensar na preservação como um caminho possível. E isso é uma mudança cultural, econômica, de modelo de desenvolvimento. O projeto mostra a possibilidade de seguir pelo caminho da preservação. Era um local abandonado há mais de 20 anos que ninguém queria comprar por causa da necessidade de preservar e hoje, veja, é o mais valioso do país.
DC - Com o empreendimento, você demonstra que o respeito ao meio ambiente e à história pode ser compatível com o desenvolvimento econômico. Acha que os empresários, de forma geral, têm essa consciência verde?
A preservação do meio ambiente infelizmente ainda é encarada como um repelente aos investimentos. Tanto que fui chamado de maluco francês, no início, quando decidi investir na Cidade Matarazzo. É importante fazer as coisas acontecerem porque ajuda as pessoas a entenderem que esse caminho é de grande valor. O projeto significa a materialização de uma visão e com isso abrimos uma porta, um caminho. O meu objetivo primordial com o empreendimento é inspirar as pessoas.
DC- Quanto já foi investido no projeto e quais os resultados com a primeira fase já concluída?
Os investimentos somam R$ 2,7 bilhões. E os resultados são excepcionais. Já conseguimos vender todas as unidades residenciais 50% mais caro do que se paga no Itaim. Quebramos todos os recordes em transações imobiliárias. Vendemos nossos apartamentos oito vezes mais caro do que os apartamentos do outro lado da rua. O verde, então, é algo que pode ser vendido, sim. Nossos restaurantes - são três em funcionamento - festejaram recentemente a conquista de 350 mil clientes depois de nove meses de abertura. Os clientes gostam, voltam e convidam amigos para conhecer. No hotel, considerado o mais luxuoso na história do Brasil, cujo preço é 50% maior que o hotel mais caro na cidade, conseguimos ter um caixa positivo depois de 63 dias de inaugurado. Trata-se de uma estrutura com mais de 500 funcionários e, portanto, com um custo fixo altíssimo.

DC - Como foi lidar com a burocracia para conseguir as licenças necessárias para a execução das obras?
A burocracia é um legado brasileiro bem conhecido, que gera incertezas aos investidores. Enfrentá-la foi certamente o maior desafio do projeto. Por conta da burocracia, as obras ficaram paralisadas muitas vezes. Sem ela, a primeira fase teria sido concluída três anos antes. O maior problema relacionado está na incapacidade de mensurar o tempo em que as coisas vão acontecer, especialmente quando envolve investimentos de bilhões de reais. Infelizmente, a burocracia é a maior responsável pela paralisia da criatividade do país e pode levar à simplificação extrema dos processos empresariais.
DC - Você acaba de chegar do Egito, onde foi realizada a COP 22. Como a Cidade Matarazzo pode ajudar nas discussões sobre as mudanças climáticas?
A Cidade Matarazzo é um grande lugar dedicado a abrir os olhos e conscientizar a sociedade brasileira sobre o tema da regeneração do meio ambiente. O Brasil não tem ideia do que representa para o mundo. É a nação mais verde do planeta. O dinheiro necessário para fazer essa regeneração não está disponível e é muito caro quando está disponível. Por isso temos o projeto Aya - edifício que reúne ONGs e empresas para criar, financiar e executar a transformação verde -, que vai ajudar a trazer dinheiro do mundo. No passado, dos US$ 500 bilhões emitidos em fundos verdes, só 1,5% foi direcionado para a América Latina, sendo apenas 0,6% para o Brasil. O país precisa receber pelo menos US$ 50 bilhões. O trabalho do Aya vai ajudar a agilizar a chegada desse dinheiro, pois reúne empreendedores, desenvolvedores e fornecedores de solução para o florescimento da economia verde. As empresas que não entrarem no caminho da regeneração do meio ambiente vão desaparecer nos próximos 10 anos.
DC - Como você se sente com a homenagem da ACSP, por meio do Prêmio Antônio Proost Rodovalho?
É uma honra receber essa premiação, considerando que não sou brasileiro. É um importante reconhecimento e recompensa para toda a equipe envolvida nesse projeto, que há 12 anos trabalha incansavelmente, enfrentando várias dificuldades. A premiação é uma boa notícia. O Brasil é um país difícil, mas quando conseguimos realizar e empreender, temos o reconhecimento, o que não ocorre em outros lugares. A Cidade Matarazzo só aconteceu por causa de um amor incondicional ao Brasil. A cultura do País e a sua natureza são ativos valiosos não só para o Brasil, mas para todo o planeta.
SOBRE O PRÊMIO Criado em 1992 pela ACSP a pedido da Companhia Melhoramentos, o Prêmio Antônio Proost Rodovalho reconhece iniciativas de empresários que envolvem soluções criativas para problemas econômicos, sociais, políticos e relacionados ao meio ambiente. O prêmio recebe o nome do fundador da Melhoramentos e da ACSP. A homenagem ganhou a forma de um troféu que reproduz o busto do empreendedor Rodovalho, feito pelo escultor Luis Morrone. |
IMAGEM: Bob Wolfeson