Ainda dá tempo de mudar o Brasil

Somos um país jovem e, portanto, dá tempo de migrar para melhores modalidades de transporte e avançar em muitos outros quesitos

Alencar Burti
07/Jul/2018
  • btn-whatsapp
Ainda dá tempo de mudar o Brasil
Recebemos no fim de maio, na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o engenheiro português Fernando Nunes da Silva.
 
Ele, que é professor de Engenharia Civil da Universidade de Lisboa e foi secretário de Mobilidade Urbana e Infraestrutura da Câmara Municipal de Lisboa, participou como palestrante convidado de reunião do nosso Conselho de Política Urbana. A apresentação teve como tema a gestão da mobilidade urbana e os desafios do século 21 para cidades mais qualificadas e humanizadas. 
 
Silva revelou como Lisboa conseguiu alcançar os recentes avanços e melhorias, como as ligações que desviaram tráfego do centro histórico da capital de Portugal e o desenvolvimento de um conjunto de infraestruturas de apoio à mobilidade dos pedestres na região. 
 
Ele não pôde deixar de fazer menção aos efeitos da paralisação dos caminhoneiros para a mobilidade urbana brasileira. Disse que quando nos deparamos com situações críticas como escassez de combustível nos damos conta de que desaprendemos a usar outros modos de transporte e somos dependentes da modalidade rodoviária. Depender disso, e também de uma única categoria de trabalhadores, nos leva a um brutal poder de chantagem do grupo. 
 
A turbulência nas rodovias reverberou no Balanço de Vendas da ACSP, que registrou que na segunda quinzena de maio o comércio varejista paulistano viu seu movimento cair 6,1%, após subir 4,1% na quinzena anterior. A confiança do brasileiro já estava estagnada e deve piorar.
 
A atividade econômica vinha fraca e o cenário se agravou diante da paralisação somada à expectativa pela corrida eleitoral e à alta do dólar. 
 
A situação do Brasil de refém do transporte rodoviário resulta de um erro estratégico que o governo cometeu na década de 1950, ao priorizar o asfalto e não investir em ferrovias e transporte de cabotagem, que poluem menos, são mais baratos e rápidos. Foi uma decisão incompreensível, pois se trata de um país de dimensões continentais e favoráveis a todos os tipos de transporte. 
 
O engenheiro português também abordou a evolução da mobilidade urbana de grandes metrópoles mundiais, comparando o tempo de deslocamento no final do século 20 (60 min./dia) com a atualidade, em que o tempo passa de 90 min./dia. Para ele, no futuro a mobilidade urbana será partilhada e sob pedido, sem necessidade de carro próprio; corroboram isso experiências na Alemanha mostrando que, com a mudança, o tráfego nas cidades pode cair até 20%. 
 
O Brasil precisa se preparar. A mobilidade vai avançar, usar tecnologia da informação e comunicação de ponta. Precisamos seguir exemplos internacionais.
 
Somos um país jovem e, portanto, dá tempo de migrar para melhores modalidades de transporte e avançar em muitos outros quesitos.
 
Mas isso depende de governantes que assumam responsabilidades e, ao menor sinal de crise como a que vivenciamos nos últimos dias de maio, se antecipem e ajam. 
 
Em seu texto "Política", Aristóteles analisou que “a observação nos mostra que cada Estado é uma comunidade estabelecida com alguma boa finalidade, uma vez que todos sempre agem de modo a obter o que acham bom.
 
Mas, se todas as comunidades almejam o bem, o Estado ou comunidade política, que é a forma mais elevada de comunidade e engloba tudo o mais, objetiva o bem nas maiores proporções e excelência possíveis”. 
 
Que procuremos excelência acima de tudo neste 2018 eleitoral, com consciência e lucidez acerca de nossa responsabilidade como eleitores – e cobremos depois.
 
Que continuem os julgamentos e punições de quem furtou o erário. Que os eleitos visem ao bem do País (e não ao interesse próprio ou de seus partidos) e representem os eleitores, fazendo jus aos cargos. Que o novo governo opte sempre pelo caminho da negociação e do bom senso, visando ao bem-estar da população, pois essa é sua maior razão de ser.

O Diário do Comércio permite a cópia e republicação deste conteúdo acompanhado do link original desta página.
Para mais detalhes, nosso contato é [email protected] .

Store in Store

Carga Pesada

Vídeos

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Conversamos com Thaís Carballal, da Mooui, às vésperas da abertura de sua primeira loja física

Entenda a importância de planejar a sucessão na empresa

Especialistas projetam cenários para o pós-eleições municipais