ACSP faz homenagem a entidades ligadas à revolução de 1932
A Faculdade de Direito da USP, a Sociedade Veteranos de 1932 e a União dos Escoteiros do Brasil receberam o Colar Carlos Souza Nazareth
Por meio do seu Comitê de Civismo e de Cidadania (COCCID), a Associação Comercial de São Paulo condecorou, nesta segunda-feira, 4 de julho, três entidades que, de alguma forma, estão ligadas ao movimento revolucionário de 1932, rememorado no dia 9 de julho em todo o Estado.
As instituições receberam o Colar Carlos Souza Nazareth, oferecido pela Associação Comercial de São Paulo para entidades, personas e instituições que colaboram com o Brasil. A cerimônia de entrega da comenda foi realizada na plenária da ACSP.
Neste ano, foram homenageadas a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, localizada no tradicional Largo São Francisco, além da Sociedade Veteranos de 1932 — MMDC — e da União dos Escoteiros do Brasil.
Além dos representantes das entidades homenageadas, a mesa foi composta pelo primeiro vice-presidente da ACSP, Roberto Matheus Ordine, pelo vice-presidente da ACSP e coordenador do COCCID, Samir Nakhle Khoury, pela professora Edmara de Lima e pelo advogado Pedro Paulo Penna Trindade, que também discursaram.
Pelas instituições homenageadas, receberam a condecoração o presidente da Sociedade Veteranos de 1932 – MMDC -, Carlos Alberto Maciel, o presidente da União dos Escoteiros do Brasil, Rodrigo Ramos, e o Diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP), Professor Celso Campilongo.
O vice-presidente Samir Nakhle Khoury, coordenador do COCCID fez um breve histórico do Colar Carlos de Souza Nazareth explicando os símbolos da comenda pela qual tantas personalidades já foram homenageadas.
Para ele, “a comenda tem um valor imensurável, pois contém uma história de vida de alguém que lutou pela democracia e acabou sendo exilado por isso”, afirmou.
O presidente da União dos Escoteiros do Brasil, Rodrigo Ramos, agradeceu: “Nos últimos 100 anos, os escoteiros do Brasil têm contribuído para a educação de jovens, por meio de um sistema de valores baseado na Promessa e na Lei Escoteira. É uma honra para nós recebermos essa homenagem. Estamos sempre alerta”, disse.
Para receber a condecoração, o Diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco trouxe para a cerimônia o estandarte com o símbolo da instituição, que foi levantado pelos revolucionários paulistas em 1932. “Temos uma grande proximidade com a Associação Comercial de São Paulo. Durante o movimento de 1932 lutamos lado a lado pela democracia”, lembrou ele.
Representando a Sociedade Veteranos de 1932 - MMDC -, Carlos Alberto Maciel Romagnolli compareceu à cerimônia com o uniforme usado pelos revolucionários paulistas na revolução, homenageando os que lutaram pela liberdade e por uma constituição durante o regime.
Ele também se lembrou da importância da figura de Carlos de Souza Nazareth na revolução de 1932. “Precisamos preservar os ideais daquela época”, disse.
QUEM FOI CARLOS DE SOUZA NAZARETH
Simbolizando a luta pela liberdade e pela construção de um futuro justo, a honraria do colar carrega o nome de Carlos de Souza Nazareth, que foi presidente da ACSP durante a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, que marcou os esforços paulistas em busca de uma nova Constituição e da democracia.
Em 1932, sob a presidência de Carlos de Souza Nazareth, a ACSP participou das tentativas de diálogo com o governo ao lado de outras lideranças, reivindicando respeito a SP e à autonomia do estado - o que vinha sendo negado pelo então presidente Getúlio Vargas, que revogou a Constituição e centralizou a administração política e econômica do país.
Quando ficou evidente que não havia possibilidade de acordo com Getúlio, a Associação, acompanhando o sentimento geral da população paulista, engajou-se na campanha pela defesa de uma Constituinte imediata, que culminou na deflagração da Revolução.
A entidade assumiu funções de suporte ao movimento: cuidou das finanças, da intendência e do abastecimento; colaborou para o alistamento; ajudou na captação e distribuição de donativos. Fez também a campanha "Ouro para o bem de SP", cujos recursos remanescentes foram doados à Santa Casa de Misericórdia.
Vencido no campo militar, devido à superioridade de recursos do governo federal, o Estado de SP foi vitorioso no plano moral por lutar pelo Estado e pelo Brasil. Por ter assumido a responsabilidade pela participação das classes empresariais paulistas na Revolução, Carlos de Souza Nazareth foi preso e exilado. Mas viu seus ideais vencerem, quando em 1934 foi convocada a Constituinte, pela qual ele tanto lutara.
SOBRE A IMPORTÂNCIA DE SE REVERENCIAR OS HERÓIS DE 32
Em sua fala, a professora Edmara de Lima, integrante do COCCID, abordou a necessidade de se transmitir aos jovens os ideais da revolução de 32. Para isso, precisariam ser transmitidas às novas gerações as história de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo e de outros nomes envolvidos nesse momento da história paulista e nacional.
Confira abaixo a íntegra do discurso de Edmara:
"A Associação Comercial de São Paulo, a cada ano no mês de julho traz as memórias do Movimento Constitucionalista de 32 à lembrança dos paulistas, pois sob a presidência de Carlos de Souza Nazareth, cumpriu com hombridade o seu papel de mentora do empresariado bandeirante.
Nos tempos que correm, necessitamos dos heróis do passado e do presente para que o futuro seja mais auspicioso.
Kieran Egam, pontífice da psicologia do desenvolvimento, mostra a necessidade da infância e da juventude de cultuar o heroísmo. E diante de sua tese, podemos perguntar que modelos de heróis são oferecidos a nossos filhos e netos. Quem são os personagens que ocupam o imaginário das gerações que hoje constroem sua hierarquia ética e moral.
Nossos meninos desconhecem a história de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Nossas escolas já não incluem os poemas de Guilherme de Almeida nos seus currículos. Nossos jovens empresários desconhecem a biografia de Nazareth. Nosso estado não cultiva a memória dos constitucionalistas e se esqueceu da importância daqueles que deram a vida para nos deixar um legado democrático.
Precisamos reviver o espírito de 32, o ideal que mobilizou este estado a defender a honra da constituição brasileira. Precisamos de homens e mulheres, que vivendo estes ideais, não tenham vergonha de serem chamados de utópicos. Precisamos dos modelos heroicos dos jovens constitucionalistas.
Reverenciar este movimento é preciso! Reverenciar a coragem, a fé na brasilidade, a honra demonstrada nos combates físicos e morais que se desenrolaram no solo paulista.
Reverenciar estes heróis e estes ideais é não permitir o seu esquecimento, é abrir possibilidades de compartilhá-los com as novas gerações, é buscar no passado a força para se viver o presente.
Constituição e hombridade são a herança maior desse momento histórico, que necessita ser revivido, para que suas lições não sejam esquecidas e se incorporem à memória coletiva das novas gerações.
O general Brasílio Taborda, revolucionário constitucionalista, comandante da praça de Santos escreveu para O Mundo Ilustrado estas linhas: "A revolução paulista de 32 foi mais do que uma luta armada em prol de um ideal político. Foi uma epopeia cívica, foi um terremoto de civismo.”
O terremoto a que se referiu Taborda não foi um fenômeno físico, mas emocional. Nossos jovens continuam buscando causas e quando não as encontram nos livros didáticos ou nas aulas de seus professores, se envolvem em lutas vazias, que nada constroem, mas que conseguem as luzes da mídia que perpassa exemplos da destruição do patrimônio público em nome de propostas estéreis que não refletem cidadania ativa e profícua.
Gostaria que os acordes de Paris Belfort ressoassem nos jovens corações paulistas, com a mesma intensidade com que ecoou em 32; mas ninguém pode amar o que desconhece.
Encerro esta mensagem fazendo uma convocação: que passemos aos jovens os relatos desta epopeia cívica, que nossos filhos e netos possam testemunhar nas suas escolas e grupos, a vivência do patriotismo verdadeiro, real mola da atuação política eficaz, patriotismo que nos faça considerar o bem comum, o patriotismo que incendiou São Paulo em 1932."
IMAGEM: Daniela Ortiz/ACSP