A pandemia e o desafio das novas cidades

Covid-19 está modificando a forma de pensar a estrutura urbana, impactada por novos modelos de relações pessoais e profissionais

André de Almeida
28/Mai/2020
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A pandemia do novo coronavírus não está afetando somente a saúde pública e a economia do país, fatores em torno dos quais se concentram os principais debates e análises.

A covid-19 também está modificando as relações pessoais e profissionais, o que impacta e trará reflexos no mercado imobiliário, no sistema viário e na forma de se pensar a cidade, agora e em um momento pós-pandemia.

Esses assuntos, entre outros, foram debatidos durante reunião por videoconferência promovida pelo Conselho de Política Urbana (CPU) e pelo Núcleo de Estudos Urbanos (NEU) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Para o coordenador honorário do NEU, Josef Barat, a pandemia está mudando radicalmente a forma como as pessoas estão se relacionando e trabalhando.

“O home office e o comércio eletrônico ganharam destaque, trazendo reflexos no comércio, na indústria e no segmento de serviços”, afirma Barat. “Isso tudo afetará a configuração da cidade, tanto do ponto de vista da mobilidade, quanto da infraestrutura”, diz.

ACELERAÇÃO DE PROCESSOS

Na opinião do coordenador-executivo do NEU, Valter Caldana, a crise sanitária está acelerando processos de mudanças que já vinham acontecendo na sociedade, como o trabalho remoto, a necessidade de se formular novos programas habitacionais e de reinvenção e inovação do comércio de rua.

“Na esfera local, teremos mudanças nos ambientes de trabalho, nas moradias e nos espaços coletivos de lazer. A crise vai acelerar esse processo na medida inversa da velocidade do advento do tratamento ou vacina da covid”, explica Caldana.

De acordo com o urbanista, a sociedade vinha de um momento de retomada dos espaços públicos, de reconquista da cidade. “Com a pandemia, isso de alguma forma vai ser questionado, assim como a questão da densidade habitacional”.

A aversão ao contato social causada pelo medo da contaminação, segundo o membro do NEU José Alberto Manaus, vai demorar para ser esquecida. “Esse isolamento pode levar a um espalhamento das fronteiras urbanas e à revisão da política de infraestrutura urbana”, conta.

Do ponto de vista do transporte, na visão de Mauro Calliari, também integrante do NEU, “o distanciamento social está causando uma mudança na direção errada, do transporte coletivo para o carro. Não há nenhum plano da secretaria de transportes para o pós-pandemia”.

MERCADO IMOBILIÁRIO

O trabalho remoto é apontado pelos especialistas como catalisador de outra tendência observada durante a pandemia, que é a desocupação de edifícios de escritórios.

Segundo o vice-presidente de Relações Municipais da ACSP e coordenador-geral do CPU, Antonio Carlos Pela, o mercado imobiliário passa por um momento de indefinição e terá que se reestruturar.

Pela cita como exemplo o segmento de lajes corporativas. Antes em expansão, agora os novos lançamentos são uma interrogação. “Ninguém sabe o que vai acontecer com esses escritórios”, afirma.

Outro segmento com dificuldades apontado pelo coordenador-geral do CPU é o de pequenos apartamentos, geralmente próximos de estações de metrô. “Esses imóveis eram vendidos ou alugados facilmente. Daqui pra frente será uma incógnita. Muitos contratos estão sendo cancelados”, aponta.

“O povo brasileiro é criativo e o Brasil é um país privilegiado. Estamos passando por uma forte turbulência e dentro de algum período certamente começaremos a nos equilibrar novamente”, conclui Pela.

 

IMAGEM: Pixabay

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