"A falta de concorrência faz uma empresa adoecer"

Manuella Curti, herdeira e presidente do Grupo Europa, explica porque disputar o mercado de purificadores de água com multinacionais como Brastemp e Electrolux é positivo para o negócio: "Se olhar para elas como ameaça, fecho as portas"

Mariana Missiaggia
01/Nov/2017
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"A falta de concorrência faz uma empresa adoecer"

Quando assumiu a diretoria geral do Grupo Europa, em 2010, a advogada Manuella Curti, 33 anos, deu início a uma nova cultura de gestão horizontal na empresa, que opera no mercado de filtros e purificadores de água, estimado em cerca de US$ 1 bilhão a cada ano.

A perda repentina do pai, fundador da companhia, e também do irmão, que vinha sendo preparado para dar suceder  no comando dos negócios da família, mostrou a ela que uma liderança centralizada pode levar uma empresa à ruína do dia para a noite.

Já nos primeiros dias de trabalho, a executiva diz que entendeu o quanto uma companhia depende das pessoas que fazem parte dela e por isso, resolveu ouvi-las.

Hoje, ela acredita ter escolhido o melhor caminho. “Eu não sabia administrar uma empresa, mas acredito que as pessoas carregam dentro de si o poder de transformar a partir de si mesmas o seu entorno”, diz.

Durante a 5º Semana de Negócios e Empreendedorismo (SNE), promovida pela Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic), Manuella contou, em entrevista ao Diário do Comércio, como está lidando com a concorrência, inovação e as transformações que se mostraram necessárias, como o lançamento de um e-commerce. 

Há mais de 35 milhões de brasileiros sem saneamento básico. Como é vender purificador de água nesse cenário?

Nossos produtos não se prestam a tratar água que não seja pré-tratada. Portanto, um aparelho nosso não deve ser utilizado numa área sem saneamento básico. Mas, de uns anos pra cá, temos olhado para algumas questões para entender como podemos apoiar projetos no que tange ao direito à água.

Outro dado que exploramos é que, seja qual for a crise, a água sempre será necessária. O desafio é entender qual a demanda que se apresenta com base no comportamento do consumidor, mas também olhando para o meio-ambiente e contribuir de forma positiva num aspecto mais amplo.

Entendemos que há muito a ser feito em relação à água para suprir as necessidades e superar expectativas.

Mesmo sendo uma empresa de vanguarda, o Grupo Europa é muito dependente de tecnologia e inovação. Como o tema é tratado, na prática?

Assim como a sustentabilidade e a responsabilidade social, a inovação não é um departamento, mas deve permear a empresa como um todo. Temos uma disciplina enorme para que nas tomadas de decisão esses conceitos apareçam de forma consistente. Para nós, a inovação pode nascer de várias formas e em qualquer departamento.

Nós desenvolvemos a tecnologia base de tratamento de água que temos até hoje: um sistema de tratamento físico e químico da água. Nosso produto é o de maior eficiência, autonomia e durabilidade.

Porém, o que considero mais importante é que temos um olhar muito atento para as tecnologias disponíveis no mundo e fazemos um trabalho de curadoria para o mercado brasileiro.

Com relação ao desenvolvimento estamos muito plugados em parceiros que têm estudos científicos e que conectam isso com as necessidades do mercado.

O potencial da categoria de purificadores de água atraiu multinacionais. Como é concorrer com marcas como Brastemp e Electrolux?

Acho ótimo. Acredito que a falta de concorrência faz uma empresa adoecer. Prefiro concorrer com quem vai elevar minha régua e desafiar nossa evolução constante a concorrer com empresas irresponsáveis, que não pagam impostos e jogam o preço lá embaixo.

Se eu olhar para eles com olhar de ameaça, eu fecho as minhas portas. É uma multinacional com muito dinheiro. Porém, como empresa brasileira e menor que a Whirlpool temos muitas possibilidades, como, por exemplo, de nos movimentar com uma rapidez maior e de inovar de uma forma muito diferente.

Quando a Brastemp entrou no mercado, eles já entraram com o nome purificador de água – um segmento que inauguramos em 1984, quando ninguém falava nisso. A utilização desse termo me deixou muito surpresa, mas temos que ficar lisonjeados porque ajuda a divulgar o segmento.

Mais de 50% dos brasileiros tomam água de torneira, temos muito público para conquistar ainda. Não tenho um olhar de escassez, tenho um olhar de abundância.

Mas, fatalmente, vocês perderam uma fatia do mercado...

Nosso mercado é muito fragmentado. Hoje, a liderança nacional é do Grupo Europa. Considerada uma divisão estadual, perdemos em alguns pontos e ganhamos em outros.

A Brastemp, por exemplo, tem uma presença massiva em São Paulo. Centro-Oeste, Sul e Nordeste têm realidades diferentes. Não temos uma preocupação especifica com o concorrente A, B ou C.

Temos uma rede exclusiva de distribuição em quase todos os Estados. São 400 pontos de venda e nossa marca é muito forte de uma maneira geral. Por enquanto, isso é suficiente.

O Grupo Europa tem uma tradição muito forte de revendedores e representantes e agora, vocês chegaram ao e-commerce. Como foi essa transição?

É um desafio, mas a oportunidade é gigante. Inauguramos nosso canal no início de 2016. Éramos muito analógicos, então não adiantava ter uma loja virtual se o nosso pensamento não era digital.

Também era importante chegar ao online sem perder a nossa essência e sem prejudicar nossos representantes. Por isso, os representantes recebem uma remuneração extra pelas vendas do e-commerce, de acordo com o raio em que aquele produto é vendido.

Além disso, eles acompanham esse cliente, que a cada um ano precisa, no mínimo, trocar o elemento filtrante. O consumidor pode lembrar isso ou pode ser lembrado por alguém. Nossos distribuidores estão sendo treinados para lidar com esse cliente do e-commerce.

 

FOTO: Divulgação ACIC

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