A estratégia da Daiso Japan para 'não participar da crise'

Depois da chegada discreta a São Paulo, a varejista japonesa, fundada por um ambulante, se propõe a não elevar os preços de itens importados vendidos a R$ 6,99

Mariana Missiaggia
03/Out/2015
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A estratégia da Daiso Japan para 'não participar da crise'

No início da década de 1970, quem via o ambulante Hirotake Yano vendendo uma infinidade de bugigangas nas principais ruas de Tóquio, no Japão, provavelmente não imaginava que daquela barraca despontaria uma empresa multinacional, a Daiso Japan.

Para aumentar o número de itens oferecidos, Yano mudou seu ponto comercial para um carro. Era tanto movimento, que não havia tempo suficiente para etiquetar todos os produtos. O jeito foi vender tudo pelo mesmo preço. Em pouco tempo, ele inaugurou a primeira loja, a segunda, a terceira. Já são 4 mil e crescendo...

YANO, FUNDADOR DA DAISO JAPAN, COMEÇOU COMO AMBULANTE

NO BRASIL

O conceito de loja preço único chegou ao Brasil há 15 anos. A abertura do mercado nacional a produtos importados de toda parte do mundo fez desse modelo de negócio um sucesso no país. 

Sucede que o número de lojas desse tipo caiu vertiginosamente, até a chegada da Daiso Japan – a maior rede de varejo conceito preço único do mundo- que resgatou uma tendência que surgiu nos Estados Unidos, na década de 1960. 

Com um faturamento de R$ 8 bilhões por ano, a varejista inaugurou a sua primeira loja brasileira, na rua Direita, no centro de São Paulo, em 2013. Hoje, já são sete lojas.

Diferentemente do mercado japonês, onde a marca se confronta com três concorrentes diretos (Aeon, Mitsukoshi, e The Daiei), no Brasil a Daiso lidera praticamente isolada no segmento, formado por pequenos comércios de itens diversificados. 

Com 4 mil lojas em 29 países, a chegada da Daiso ao Brasil foi silenciosa. Não houve publicidade, ou sequer divulgação na imprensa. Mesmo assim, as primeiras semanas foram marcadas por filas de duas horas de espera.

Além das criativas invenções japonesas, há também o preço -R$ 6,99, um achado para a maioria dos consumidores que ali encontra produtos de banho, higiene, papelaria, lavanderia, limpeza, jardinagem, utensílios de cozinha, eletrônicos, e artigos de pesca.

São 7 mil itens nas lojas brasileiras, apenas 10% do total de itens vendidos no Japão. 

Os obstáculos para que uma gama maior de itens desembarque nas prateleiras da filial são velhos conhecidos dos empresários brasileiros: elevados impostos sobre importados, deficiência dos serviços alfandegários para conferência e liberação de containêres, e a alta do dólar. 

ANTICRISE

A valorização da moeda americana levou a rede a divulgar uma campanha com o slogan "a Daiso não participará da crise". Quando a empresa abriu as portas em São Paulo, há dois anos, a cotação do dólar estava a R$ 2.

Hoje, mesmo com a marca dos R$ 4, a loja não reajustou os seus preços, e se esforça para manter o valor base de R$ 6,99.

PAULISTA, GERENTE DA DAISO: RISCOS CALCULADOS

“Temos uma meta estipulada com riscos calculados", afirma Reginaldo Gonçalves Paulista, 46 anos, gerente-geral. "Queremos diminuir o custo de vida do consumidor brasileiro, ampliar os postos de trabalho, e ajudar a economia do país.”

No momento, a maior preocupação é fidelizar o público brasileiro e tornar a marca nacionalmente conhecida com a inauguração de unidades no interior de São Paulo, e outros estados.

“Entendemos que não é hora de pensar em lucros, mas sim, em formar uma parceria com o cliente, que por um pequeno valor encontra em nossas lojas algo diferente para si ou até mesmo um presente”, diz.

Para compensar a alta do dólar, Paulista relata que todos os custos operacionais das lojas estão sendo revistos. Ele destaca a importância da negociação com os locadores de imóveis, prestadores de serviços, e parceiros, além do trabalho de motivação com os colaboradores da Daiso para que eles se sintam seguros em relação a crise.

INTERIOR DA LOJA DAISO BY HIROTA

A primeira parceria com outra varejista no Brasil já rende bons frutos. Parceiros da Daiso desde 2011, os supermercados Hirota já inauguraram 6 lojas Daiso by Hirota, em São Paulo, onde o supermercado se torna um revendedor dos produtos Daiso.  O vínculo faz parte do plano de expansão da marca. 

A estratégia parece funcionar. No início de 2016, a rede abrirá sua oitava loja – a primeira fora da capital, em Barueri, na Grande São Paulo. No mesmo período, a marca também deve começar as operações de venda online.  

Outra lição que a multinacional parece já ter aprendido é a de gerenciamento de estoque. Os pedidos são feitos diariamente por um sistema online que permite uma conexão direta com os fornecedores da Daiso. “Embora seja um processo internacional, o grande inimigo do negócio está mesmo no Brasil – a burocracia.” 

DAISO JÁ TRABALHA COM NOVOS PREÇOS

PREÇO ÚNICO

Apesar do discurso otimista, Paulista admite que trabalhar com preço único não é tarefa fácil. “Estamos nos esforçando porque se trata de um conceito inicial da Daiso do Japão. No entanto, mesmo lá esse conceito está aos poucos se desvanecendo.” 

Os primeiros sinais já aparecem em alguns produtos com etiquetas de preços diferenciados. “Com o decorrer do tempo, estamos colocando produtos com valores diferenciados”, afirma o gerente.

Algumas porcelanas, por exemplo, são vendidas a R$ 7,99 e R$11,99. Por outro lado, itens com menor valor agregado, como biscoitos, são vendidos a R$ 3,99 por unidade.

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