4° Liberdade para Empreender joga luz sobre a moda circular

Com mais relevância do que nunca, os brechós ganharam espaço como avesso da produção de luxo e tornaram-se uma ótima oportunidade de negócio tanto no presencial como no on-line

Mariana Missiaggia
01/Dez/2023
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4° Liberdade para Empreender joga luz sobre a moda circular

Repaginados com uma linguagem moderna, fashionista e uma curadoria inteligente, os brechós têm se multiplicado a cada esquina. Com vitrines bem elaboradas e um trabalho intenso nas redes sociais, esse nicho reacendeu a compra e venda de roupas usadas como uma forte tendência de consumo para o presente e futuro.

Essa agitação em torno da chamada moda circular foi um dos destaques do 4º Encontro Liberdade para Empreender, do Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), que reuniu histórias de empreendedoras bem sucedidas.

Durante o encontro, que aconteceu na última terça-feira (28) na sede do Clube Atlético Monte Líbano, em São Paulo, e reuniu mais de 1 mil empresárias, a presidente do CMEC, Ana Claudia Badra Cotait, mediou painéis com diversas personalidades e lideranças femininas que se destacam no mundo dos negócios, como Alessandra Alkmim, consultora da Brechó, embaixadora Moda Brechó Sebrae; Ana Teresa Saad, CEO da Clo-Rent; Bia Perotti, consultora de moda; e Helena Celeste Vieira, sócia proprietária do Nosso Armário Brechó de Estilo.

O JOGO VIROU

Os efeitos da pandemia, as notícias envolvendo o aquecimento global, os índices de poluição via indústria têxtil e a economia financeira são fatores que trouxeram, de fato, o resale para a realidade da moda. Há pouco mais de um ano, a marca de moda espanhola Balenciaga, em parceria com a plataforma Reflaunt, passou a revender produtos doados por clientes, que ganham crédito para novas peças. 

Gucci, Jean Paul Gaultier, Mulberry, Zara são outras grifes que apostaram no mercado de peças usadas com seu próprio espaço de revenda em vez de abrir mão dessa receita para terceiros. Ao decidirem comercializar suas próprias relíquias, essas lojas reinventam cada item encontrado - bolsas e sapatos são restaurados, as roupas customizadas e tudo leva o tão famoso certificado de origem.

De acordo com a consultoria norte-americana Boston Consulting Group, promover a venda de itens seminovos, ou mesmo antigos, não afeta a venda de coleções novas. Pelo contrário: reforça a marca e pode servir como incentivo para a compra de itens atuais. Nos Estados Unidos, a previsão é que esse mercado cresça até 20% ao ano nos próximos cinco anos.

Da esquerda para direita: Bia Perotti, consultora de moda, Helena Celeste Vieira, da Nosso Armário Brechó de Estilo, Alessandra Alkmin, consultora da Brechó, e Ana Teresa Saad, CEO da Clo-Rent, compartilharam suas experiências com moda circular no encontro do CMEC

 

Nesse movimento, quase que de repente o second-hand surgiu como algo bem alinhado ao conceito de ESG e na contramão da desenfreada produção de luxo, tornando-se uma ótima oportunidade de negócio. Os números do início deste ano mostram que o Brasil abriga mais de 118 mil brechós, crescimento de 30,97% ao longo dos últimos cinco anos, de acordo com o Sebrae.

Ao mediar a discussão sobre moda circular durante o Liberdade para Empreender, Alessandra Alkmim, presidente do Conselho da Mulher Empreendedora da ACMinas, contextualizou o momento. Segundo ela, a geração Z, de nascidos entre 1995 e 2015, está mais atenta às questões do meio ambiente, e é a grande responsável por arrancar qualquer resquício de preconceito que ainda pudesse existir em relação ao hábito de comprar em brechó.

Como jovens nativos digitais, esse público sabe pesquisar e pode consumir onde quiser. Por isso, os canais digitais tiveram e têm sua importância nessa mudança de paradigma. Ter o apoio de redes sociais e de venda e atendimento via chat on-line pode ser decisivos para esse tipo de negócio, segundo Alessandra.

UM CLOSET NA NUVEM

Ana Teresa Saad, cofundadora da Clo.Rent, uma plataforma de aluguel de roupas com curadoria personalizada, está prestes a lançar a Finti, seu novo negócio também na área de second hand - em um formato que, segundo a empresária, economiza tempo, dinheiro e oferece facilidades que o varejo físico não consegue alcançar.

"Criamos um guarda-roupa digital dentro de uma rede social, onde você pode ver o acervo dos seus amigos, pesquisar o que tem de bom por lá e até fazer uma oferta por algum item. A ideia também é poder trocar, pedir algo emprestado, postar looks, dar e receber dicas de moda", explica a empreendedora.

Depois de se aposentar como bibliotecária no Senado Federal, Helena Celeste Vieira decidiu empreender. O sucesso de um bazar informal entre amigas organizado por ela a encorajou a abrir o próprio negócio nesse segmento. Hoje ela é sócia do Nosso Armário Brechó, em Brasília.

Com todas as faixas etárias frequentando a loja física, Helena diz ser cada vez maior o volume de gente procurando o brechó, não só para comprar, mas também para presentear. Há quem entre procurando uma peça de roupa e saia de lá com dez. Muitos dos que voltam, trazem mais gente consigo. E tem também quem dê uma passadinha quase que diariamente para não perder uma boa oportunidade.

Além de estudar muito sobre o mercado, Helena aconselha os interessados nesse nicho a ter muito cuidado com a imagem do negócio. Segundo ela, é importante construir um ambiente agradável e cheiroso, ter uma curadoria criteriosa e minuciosa das peças e ter a experiência voltada para o cliente com atendimento personalizado, organização dos processos de trabalho, e estar disposta a promover ações em datas específicas, além de investir em redes sociais.

Famosa por sua boa curadoria de vintages há mais de 15 anos, Bia Perotti é consultora de moda e acredita que essa fatia poderá nortear o mercado em poucos anos. Na avaliação da especialista, além de ensinar sobre finanças e autoestima, esse nicho levanta uma discussão importante sobre ter o máximo de conhecimento sobre o ciclo de vida de um produto.

Ela cita também a importância das influenciadoras que começaram a trazer a moda circular para a cena digital tornando esse tipo de consumo desejável, indicando que esse movimento também faz sentido para pessoas com alto poder aquisitivo.

"O fast fashion tem muita oferta parecida, já o second hand é totalmente voltado para um conceito único em que só você terá aquela peça", diz. "Eu focaria em uma loja de peças únicas, mas com uma curadoria especial, para ganhar uma cara personalizada para dar autenticidade ao seu negócio".

INSPIRAÇÃO E CAPACITAÇÃO

Para Ana Claudia, presidente do CMEC, esse evento serve de inspiração para aquelas empreendedoras que estão começando um novo negócio, permitindo que conquistem sua liberdade financeira para sair de qualquer situação de vulnerabilidade social.

Durante o evento, Ana Claudia fez um anúncio inédito. Por meio de uma parceria, o Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), criado e comandado por uma mulher empreendedora, irá estruturar cursos de graduação EAD em cada polo do CMEC pelo Brasil, garantindo formação superior a mulheres nas 700 unidades do Conselho da Mulher.

Essa será uma parceria estratégica de capacitação em apoio ao CMEC e seus parceiros, como o Sebrae, FAC-SP, entre outros. O início deste projeto está sendo estudado e logo será anunciado pelos idealizadores.

 

IMAGENS: Dani Ortiz/Somniare

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