120 anos de Adhemar de Barros

Foi o primeiro grande empreendedor do Brasil. Ousado, construiu as duas primeiras autoestradas brasileiras, ligando São Paulo a Santos (Via Anchieta) e São Paulo a Campinas (Via Anhanguera), depois a Castelo Branco

Aristóteles Drummond
14/Abr/2021
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No próximo dia 22, coincidentemente data definida como da chegada de Pedro Alvares Cabral a terras de Santa Cruz, Brasil, completaria 120 anos um dos mais marcantes personagens da política brasileira do século XX.

Adhemar de Barros, um paulista aristocrata, formado em medicina no Rio de Janeiro, com mestrado na Alemanha e residência médica na França no final dos anos 1920. Em 1934, entrou para a política e, quatro anos depois, recebeu, muito jovem para a época, o convite de Getúlio Vargas para ser o Interventor Federal em São Paulo.

Foi o primeiro grande empreendedor do Brasil. Ousado, construiu as duas primeiras autoestradas brasileiras, ligando São Paulo a Santos (Via Anchieta) e São Paulo a Campinas (Via Anhanguera), depois a Castelo Branco, que levou o progresso para a região de Sorocaba. Fundou a Vasp, empresa aérea que durante 60 anos marcou presença na aviação brasileira; incentivou a construção de aeroportos por todo o interior paulista; construiu o então mais alto edifício da América Latina, sede do banco estadual, Banespa; doou o terreno onde está o Masp, o mais importante museu de arte da América Latina; ampliou a mais importante escola de agronomia do Brasil, em Piracicaba, onde nasceu. Lançou as bases da moderna agricultura paulista, até então limitada ao café e à pecuária.

Depois de interventor com tantas realizações, na redemocratização, em 1946, foi eleito governador. Mais tarde, depois de duas tentativas frustradas de voltar ao governo de São Paulo e à Presidência da República, elegeu-se prefeito de São Paulo, onde recuperou as finanças com auxílio de Amador Aguiar, fundador do Bradesco. Voltou para um terceiro mandato, em 1962, durante o qual foi um dos principais articuladores e apoiadores da Revolução de 64, com a qual rompeu dois anos depois e teve seus direitos políticos suspensos. Foi um líder popular ímpar na história republicana.

No entanto, é o médico que hoje não pode deixar de ser lembrado e consagrado. Foram obras suas: o Hospital das Clínicas, até hoje, 70 anos depois, o maior da América Latina e referência no combate à pandemia; o Hospital Emílio Ribas, centro de pesquisas, de estudos e de atendimento à pandemia; o Instituto Adolfo Lutz, de pesquisas também. Deu ao Butantan – onde estão sendo fabricadas a vacina Coronavac, em uso neste momento – a sua sede e a ampliou para ser o que é no mundo científico mundial. Até o Estádio do Pacaembu, onde se construiu hospital de campanha nessa emergência, foi de seu tempo. Um gigante de visão e ação.

Adhemar, entretanto, foi alvo da inveja de seus frustrados adversários, acusado que foi de promover uma “caixinha eleitoral” e, diante da impossibilidade de se negar seu acervo de grandes obras, foi definido como o “rouba, mas faz”. Mas, ao morrer, deixou menos do que tinha ao entrar na política. Seu grupo empresarial, que sobreviveu nas mãos do genro João Saad, foi o complexo de comunicação liderado pela TV Bandeirantes.

Foi líder de um partido que chegou a ser o quarto em tamanho no Brasil e que vivia na base de seu prestígio, onde os candidatos se apresentavam apenas como “com Adhemar”, o que garantia a eleição. Como era mais homem de ação do que de articulação política, foi traído, de um lado, e atropelado pelo destino, por outro, pois seria o candidato de Vargas, em 1955, não fosse o trágico suicídio do líder trabalhista, em agosto de 1954. Teve na campanha como seu vice-presidente, o deputado Danton Coelho, o mais leal dos getulistas, e o apoio do General Caiado de Castro, senador pelo Rio, que foi Chefe da Casa Militar Vargas.

Na eleição presidencial de 55, teve em São Paulo um milhão de votos, contra setecentos mil do Marechal Juarez Távora e modestos duzentos e trinta mil de Juscelino, que ganhou  o pleito nacional.

 

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