Fitch pode aumentar nota do Brasil. Mas depende da reforma
Presidente da agência de classificação de risco sinaliza revisão da nota, que hoje é BB-. Mas depende do modelo de reforma que seja aprovado pelo Congresso no novo governo
A agência de classificação de risco Fitch Rating poderá rever a nota brasileira, fixada em BB- em fevereiro deste ano, caso o novo governo consiga aprovar reformas no Congresso, principalmente a da Previdência.
A definição da nota, no entanto, não dependerá exclusivamente da aprovação, mas do modelo de reforma que sair da discussão entre os parlamentares.
"Em havendo a passagem das reformas, olharemos no que essas reformas impactam na trajetória fiscal do Brasil no longo prazo. Nossa preocupação é com a sustentabilidade da dívida no médio e longo prazos", afirmou o presidente da agência no Brasil, Rafael Guedes, após participar de evento promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro.
Segundo Guedes, a reforma da Previdência é a mais importante, mas outras, como a tributária, também são. Para mexer na nota do Brasil e sinalizar ao investidor de que o cenário de aposta no País melhorou, "dependerá de qual reforma da Previdência será aprovada", acrescentou.
O modelo de capitalização, por exemplo, possui um custo muito alto para as contas públicas num momento em que, em sua opinião, o Brasil não teria como arcar. "Teria que ter uma série de ajuste para abrir espaço fiscal", afirmou.
A sinalização de redução dos gastos pode interferir na decisão, segundo Guedes. "Havendo uma inflexão e tão mais rápido seja a queda do endividamento, os analistas podem se sentir confortáveis a dar uma boa notícia de aumento da nota do Brasil", acrescentou.
'REFORMAS IMPOPULARES'
A agência de classificação de risco S&P Global Ratings afirmou nesta segunda (03/12) que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), precisa "aprovar rapidamente" reformas cruciais e impopulares para reverter a tendência negativa nas contas fiscais brasileiras.
"O novo governo terá desafios importantes em transformar a retórica de campanha em reformas reais", afirma relatório que prevê crescimento de 2,4% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 e alta de 2,5% no ano seguinte. "Vamos monitorar se haverá mudanças significativas na política econômica", diz o documento, destacando que a eleição reduziu apenas "parcialmente" as incertezas na economia brasileira. A agência vê os bancos brasileiros "bem posicionados" para fornecer recursos a empresas que queiram voltar a investir.
Com isso, a previsão é que o crédito cresça 10% em 2019, pondo fim a vários anos de expansão muito fraca no mercado de empréstimos. "As métricas da qualidade dos ativos dos bancos provavelmente vão continuar melhorando em 2019, apoiando um desempenho operacional saudável. "A previsão é que o crédito nos bancos privados siga crescendo mais do que nos públicos", reforça o documento.
Apesar da expectativa de melhora do crédito, a S&P alerta que as instituições financeiras podem ter que enfrentar um ano de volatilidade em 2019, principalmente por conta das incertezas sobre os rumos da política monetária nos Estados Unidos, zona do euro e Japão e do relacionamento comercial entre China e Washington.
FOTO: Thinkstock *Alterado às 17h30