Venda de material escolar aquece o varejo em janeiro
Lojistas preveem alta nas vendas de até 9% em relação a janeiro de 2023, com itens 8,5% mais caros e variação de preços que pode chegar a 264% entre as lojas
Tradicionalmente, janeiro é um mês fraco para o varejo por conta das férias e das festas de fim de ano que antecedem o período. Mas a volta às aulas é um evento que aquece esta época e ajuda o comércio a ter bons resultados, principalmente os armarinhos e papelarias.
A volta às aulas sempre foi considerada o ‘'Natal' das papelarias, a principal data do ano para este segmento. No entanto, as restrições da pandemia de covid-19 trouxeram inúmeros prejuízos para este comércio nos últimos anos. Porém, 2024 já aponta com forte recuperação das vendas, superiores ao mesmo período de 2023.
“Devemos ter um ano bem melhor do que antes da pandemia começar, apesar da alta expressiva nos preços dos materiais escolares”, acredita o economista Rodrigo Albarez. “Notamos um grande movimento nas lojas já no início de janeiro e isso deve se intensificar até o fim do mês, quando as aulas serão iniciadas.”
O Armarinhos Fernando, uma das principais redes que possui itens de papelaria e vende material escolar, prevê uma alta nas vendas entre 8% e 9% em relação a janeiro de 2023.
Ondamar Ferreira, gerente geral da matriz do Armarinhos Fernando, conta que as vendas têm superado as expectativas neste ano. “Estamos com as lojas lotadas de pessoas em busca deste tipo de produto desde o início do mês e temos uma procura tanto por pais e responsáveis quanto por lojistas, que revendem nossos itens em papelarias e armarinhos menores. Acredito que iremos fechar janeiro acima da meta prevista”, avalia.
O Armarinhos Fernando possui 17 lojas espalhadas pela grande São Paulo, sendo três delas na Rua 25 de Março. Segundo Ferreira, os preços dos produtos vendidos por ele na 25 de Março, principal polo do comércio popular de São Paulo, são padronizados nas demais unidades da rede, mesmo em outras regiões da cidade.
Entre os carros-chefe da rede, segundo o gerente geral, estão os cadernos, seguidos por lápis e borrachas. O material escolar é sempre um custo que pesa no orçamento das famílias no início do ano, então oferecemos facilidades de pagamento. Mesmo que a família consiga reaproveitar alguma coisa de anos anteriores, sempre tem algo novo na lista de material escolar para comprar. Parcelamos em três vezes as compras acima de R$ 300 e em até 8 prestações no cartão próprio da rede”, explica o gerente geral.
Partindo para as papelarias de bairro, o movimento também apresenta melhora. Na Papel & Tinta, no bairro da Mooca, as vendas seguem um fluxo parecido durante o ano, mas janeiro é sempre o melhor. “A demanda cresce bastante em volume e janeiro representa para nós 40% das vendas do ano todo”, conta o proprietário Mario Melo Buarque.
A pandemia foi pesada para ele. “Eu tive que fechar minha loja por 8 meses quando tivemos as restrições e, como sou do grupo de risco por ter diabetes e pressão alta, eu não reabri tão rápido. Só não fui à falência porque estou em um imóvel da minha família. Se pagasse aluguel, teria fechado. No ano passado, tivemos um ano melhor, mas ainda não estava perto do patamar de 2019. Agora, já sinto que melhoramos bastante e devo fechar o mês com faturamento 7% maior do que em 2023”, revela Buarque.
ITENS MAIS CAROS
Em 2024, os preços dos materiais escolares estão, em média, 8,5% mais caros do que no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares (Abfiae).
“Diversos fatores corroboram para isso, como a inflação, o dólar mais alto e o aumento dos custos de produção”, pontua o economista Albarez.
Em 2023, os custos de produção de materiais escolares aumentaram 7,5%, segundo a Abfiae, principalmente com papel e tinta. Entre os itens que tiveram os maiores aumentos estão cadernos (15%), lápis de cor (12%) e borrachas (10%).
Além de os preços oscilarem de uma loja para outra, o peso dos tributos embutidos nos valores dos materiais escolares é alto.
Dados do Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), apurados com auxílio do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), mostram que os tributos embutidos em uma caneta podem chegar a 49,95% do seu preço. No caso do lápis, chegam a 34,99%, dos cadernos, 34,99%, e das mochilas, 39,62%.
O item menos taxado é o livro (15,52%), que tem isenção de PIS, Cofins, ICMS e IPI.
VARIAÇÃO NOS PREÇOS
Em pesquisa realizada de 8 a 11 de janeiro em sete sites de compras, o Procon-SP identificou diferenças de preços entre um mesmo item que chegaram a até 264%. A maior variação foi encontrada na caneta esferográfica 0,7mm da marca Compactor, vendida por R$ 3,90 em um fornecedor e R$ 1,07 em outro.
Já na comparação com a pesquisa divulgada no ano passado pela instituição, entre os 62 produtos comuns em ambos os levantamentos se constatou, em média, acréscimo de 7,18% no preço – sendo que o IPC-SP (Índice de Preços ao Consumidor de São Paulo) da FIPE referente ao período registrou variação de 3,71%.
Diante dessa variação de preços, Marcel Solimeo, economista da ACSP, recomenda aos pais que façam uma minuciosa pesquisa de mercado. Além disso, o economista diz que o ideal é fazer as compras de itens básicos antes mesmo de receberem a lista de material escolar, como uma estratégia para evitar descompassos no orçamento.
IMAGEM: Leonardo Rodrigues/DC