Vai jogar fora produtos prestes a expirar? Marketplace ajuda a vender

Com descontos de até 70% nos preços, a plataforma SuperOpa surge para reduzir o desperdício de alimentos, aproximando as empresas e os consumidores por meio de aplicativo

Fátima Fernandes
09/Set/2021
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Vai jogar fora produtos prestes a expirar? Marketplace ajuda a vender

Se tem algo que incomoda cada vez mais os brasileiros é o desperdício, especialmente o de alimentos, e num país onde 15% da população ainda convive com a falta diária de comida.

No setor de supermercados, fala-se em um índice de 1,9% sobre o faturamento bruto anual, da ordem de R$ 355 bilhões, o que daria uma perda de R$ 6,7 bilhões por ano.

De olho neste mercado, que pode ser muito maior se expandir também para restaurantes, surgiu o SuperOpa, um marketplace que administra a venda de produtos perto de expirar.

Em vez de ir para o lixo, os produtos são comercializados por meio de um aplicativo, o SuperOpa, com descontos que chegam a 70% para os consumidores.

O SuperOpa, que nasceu em 2018 na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), comemora os 100 mil downloads de seu aplicativo.

“A plataforma conecta os consumidores com indústrias, distribuidores, lojas, qualquer empresa que tenha problema com desperdício”, diz Luís Borba, sócio-fundador.

O SuperOpa oferece três planos para as empresas interessadas em vender produtos que, por algum motivo, não tiveram giro tão rápido quanto o programado.

BORBA: EVITAMOS O DESPERDÍCIO E EMPRESÁRIOS E
CONSUMIDORES SAÍRAM GANHANDO

Ao optar pelo mais básico, o seed, o varejista, por exemplo, paga uma mensalidade de R$ 169 que lhe permite ter uma loja, com a sua cara, dentro do marketplace.

Neste caso, o produto é vendido e retirado no ponto de venda.

No plano ecossistema, que custa R$ 699 por mês, a loja vende e o SuperOpa se encarrega de levar a mercadoria até a casa do cliente.

Uma parceria com a Box Delivery permite a entrega em 500 cidades em 15 Estados.

No plano green stores, específico para distribuidores, a negociação é feita caso a caso, e a mensalidade depende de maior ou menor dificuldade para a integração com o consumidor.

Cerca de 120 empresas estão cadastradas na plataforma do SuperOpa, incluindo distribuidoras de alimentos e de produtos de beleza, supermercados, mercadinhos e até pet shops.

A Mega 100, distribuidora de alimentos, localizada em Cotia (SP), informa que chegou a registrar elevado índice de desperdício por causa de prazo de validade vencido.

“Com a plataforma, reduzimos o desperdício em 90% e ainda enviamos parte dos produtos para asilos e orfanatos”, diz Cleber Neris, responsável por compras e inventário da empresa.

Para ele, que é do setor de compras, foi um alívio deixar de ver parte das mercadorias sendo descartada num país com tantas pessoas sem ter o que comer.

No serviço que presta aos clientes, o SuperOpa faz ainda um mapeamento dos produtos convencionais e informa os que estão próximos de vencer para a venda com descontos.

Um selo da empresa, o selo SuperOpa, é colocado nos produtos que estão perto de expirar, para diferenciá-los dos demais, e ao mesmo tempo garantir a qualidade para consumo.

Assim que começou a operar, em janeiro de 2020, a plataforma fazia cerca de 200 a 300 entregas por mês com transações da ordem de R$ 22 mil, de acordo com Borba.

Em dezembro do ano passado, as entregas já estavam em 3.500 por mês (R$ 760 mil). Hoje são cerca de 7 mil entregas mensais (R$ 1,5 milhão).

A redução da renda, o alto desemprego e a inflação em alta impulsionaram o negócio, diz Borba, que tem como sócios dois ex-professores da FGV, Wagner Damiani e Leandro Zanardi.

Com menos dinheiro no bolso, os brasileiros correm bem mais atrás das promoções. Um quilo de picanha, que custa R$ 80, sai por R$ 30 na plataforma, com vencimento em dois a sete dias.

Outros exemplos: o preço do quilo da muçarela cai de R$ 50 para R$ 26 e, da cerveja Budweiser long neck, de R$ 4 para R$ 2,50, com vencimento em dois a 15 dias.

Nos produtos que estão prestes a expirar, o SuperOpa fica com 15% do valor vendido. No caso dos convencionais, com 8%, de acordo com Borba.

“Em vez de jogar no lixo, evitamos o desperdício e todo mundo sai ganhando, inclusive o consumidor”, afirma.

De acordo com Borba, empresas chegam a pagar entre R$ 3.000 e R$ 3.500 por carga para realizar o trabalho de logística reversa, como o descarte de produtos fora de validade.

Um novo negócio que deve ganhar força dentro do SuperOpa é o que conecta a indústria diretamente ao consumidor. Projeto piloto acaba de ser feito com a Ambev.

O SuperOpa comprou uma carga de cerveja da empresa no valor de R$ 300 mil com data de vencimento em um e até 30 dias.

“Vendemos tudo com 70% de desconto em um mês, salvando 28 mil litros de cerveja”, diz.

Negociações também estão em andamento com Nestlé, BRF e outras grandes companhias.

Neste caso, a relação entre o SuperOpa e as grandes empresas é de compra e venda, não de intermediação, e a margem da plataforma é de 20% a 35% sobre o valor pago pelos produtos.

A ideia de vender produtos prestes a expirar tem dado tão certo que Borba e os sócios decidiram investir em um centro de distribuição, em Jundiaí (SP), para facilitar as entregas.

“Nossa ideia é ter um mix completo de produtos, como o de um supermercado”, afirma.

SUPEROPA VAI INVESTIR EM UM NOVO CENTRO DE
DISTRIBUIÇÃO PARA AGILIZAR AS ENTREGAS

O SuperOpa também se prepara para abrir umas 15 lojas no modelo de contêineres próximos de comunidades, onde está parte do seu público.

As duas primeiras serão abertas em duas comunidades em Campinas, uma na Vila Brandina e outra na Capadócia.

Em janeiro de 2020, o plano é instalar uma loja em Paraisópolis e outras em comunidades no Jaguaré, em São Paulo.

Uma cliente assídua, com uma renda familiar inferior a R$ 5 mil, diz Borba, gasta todo mês entre R$ 250 e R$ 280 em produtos por meio da plataforma.

Ela é exatamente o perfil de quem usa o aplicativo.

E para conhecer e atrair cada vez mais clientes, o SuperOba oferece cupom de R$ 50 para quem informar alguns dados, como sexo, renda familiar e sobre uso de aplicativos.

Como a compra é totalmente feita pelo aplicativo, a pergunta que fica é se o público-alvo do SuperOpa tem computador ou celular para acessar a plataforma.

Borba diz que este não é mais um problema no Brasil. Ele também não percebe mais o receio do consumidor de comprar produtos com datas próximas do vencimento.

“Essas barreiras foram quebradas, especialmente agora com a pandemia. O consumidor está correndo cada vez mais atrás do menor preço.”

 

IMAGEM: Thinkstock e divulgação SuperOpa

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