Shopping cria polo de varejo eletrônico e bijuterias no Brás
Com espaço para 600 lojas -das quais 220 ainda desocupadas -, a Galeria Pagé Brás promove evento para atrair lojistas e a clientela do comércio do centro de São Paulo
Quem costuma frequentar a Galeria Pagé, na Rua 25 de Março, muito provavelmente, já deve ter visto atrás de um balcão, o simpático José Calixto, dono da Pop Mix, uma loja de material elétrico, localizada ali desde a década de 1970.
Há seis meses, ele decidiu deixar a loja nas mãos da mulher para trocar de endereço. Sai todos os dias de madrugada de casa, no centro de São Paulo, para abrir, às 4h da manhã, sua nova loja, no shopping Galeria Pagé Brás, recém inaugurado no coração do Brás, região central de São Paulo.
Depois de atender durante décadas lojistas de todo o Brasil em um mesmo endereço, Calixto decidiu aceitar o convite dos donos do Galeria Pagé Brás para ampliar o negócio, ainda que em meio à maré ainda recessiva da economia.
“Nos últimos quatro ou cinco meses, a economia começou a retomar. Clientes que vinham quatro vezes por mês na loja, e passaram a vir a cada dois meses, estão voltando a vir uma vez por mês. Muito em breve, pelo que ouço deles, voltarão a vir semanalmente.”
O mesmo entusiasmo se observa na fala do jovem concorrente Ivan Souza, 26 anos, dono da Megatock, especializada em materiais elétricos e eletrônicos, também loja na Galeria Pagé, que foi para o mesmo centro comercial.
“Crise para mim é oportunidade. Quem tem coragem e vontade de crescer, se torna mais forte. Durante oito anos me programei para expandir o negócio. Chegou a hora”, diz.
Há oito anos, a loja do Ivan na Galeria Pagé, no centro de São Paulo, tinha apenas um metro quadrado. Foi aumentando aos poucos, até atingir 40 metros quadrados. O ponto da Galeria Pagé Brás tem 60 metros quadrados.
Assim como no caso de Calixto, a mulher de Ivan é quem toca a loja da Galeria Pagé. “As vendas estão aumentando a cada dia. Meu plano agora é vender produtos com a minha marca. Com 45 anos, quero ter uma aposentadoria tranquila”, afirma.
Para isso, de acordo com Ivan, é preciso ter vontade de trabalhar, 12 horas por dia, pelo menos, e tratar bem o cliente. “Não importa se ele vem na loja todos os dias para gastar R$ 1 ou R$ 100. Ele é sempre bem-vindo, em qualquer situação.”
É esse perfil de lojista que as famílias Kherlakian, Bessa, Diwan e Ayache, donas do Galeria Pagé Brás, inaugurado em dezembro de 2016, querem atrair para o novo empreendimento.
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Assim que a crise começou e os lojistas sumiram do bairro do Brás, as famílias, com negócios na região, deram sinal verde para investir R$ 200 milhões na Galeria Pagé Brás.
Com 13 mil metros quadrados de área para locação, capaz de abrigar 600 lojas, em três andares, o empreendimento está operando com 380. Boa parte dos lojistas é descendente de árabes, judeus e chineses.
Basta andar em qualquer andar para constatar dezenas de boxes fechados. Alguns lojistas, diferentemente de Calixto e do jovem Ivan, chegaram a se arrepender de ter ido para o local.
"Tivemos muita dificuldade no início, mas estamos superando a fase ruim. Em maio, achamos que teríamos de fechar as portas. Hoje, as vendas estão 80% maiores do que quando chegamos ao shopping", diz Esmeraldo Ramalho, gerente da JC Import, loja de bijuterias e acessiros, com quatro lojas na região da Rua 25 de Março.
Rafael Kim, dono da Mazarin, confecção e loja de atacado e varejo de roupas femininas, com duas lojas no Brás, diz que passou pelo mesmo aperto. Pensou várias vezes em sair do shopping. “Hoje, estou mais animado, pois as vendas começaram a melhorar a partir deste mês”, diz.
Com a crise, a confecção da família Kim, com 15 anos no bairro, foi obrigada a reduzir pela metade, de 600 para 300, o número de peças por modelo.
“Minha família, que veio da Coreia do Sul, continua acreditando no Brasil. A economia deve melhorar”, diz ele.
Andreia Bessa Rocha, diretora de marketing do Galeria Pagé Brás, tem a mesma convicção. Até o final do ano, diz ela, pelo menos 70% dos pontos no shopping estarão ocupados.
“Toda a semana tem loja abrindo por aqui. No mês passado, foram abertas mais de 50. Num dia bom, 55 ônibus param por dia no estacionamento do shopping, que possui ainda pouco mais de 300 vagas para carros. Às 4h da manhã já é possível fazer compras aqui e em breve vamos abrir às 2h da manhã”, diz Andreia.
Pela primeira vez, o shopping decidiu realizar desfiles para atrair lojistas e consumidores.
Nos últimos dois dias, as 120 lojas que participaram da ação atenderam os clientes com sucos, salgadinhos e doces.
Desde maio, de acordo com Andreia, o fluxo de clientes começou a aumentar. Em 2016, cerca de 300 ônibus chegavam ao bairro por dia. Hoje, segundo afirma, já são 500.
A região do Brás possui 55 ruas comerciais, com cerca de 5 mil lojas, que movimentam perto de R$ 13 bilhões por ano.
O bairro concentra um dos maiores polos de confecções do país, por onde circulam cerca de 300 mil pessoas diariamente.
O shopping foi criado para dar conforto para os clientes. O empreendimento conta com seis elevadores e 13 escadas rolantes e duas praças de alimentação para abrigar 16 opções de restaurantes.
As famílias decidiram chamar para o Pagé Shopping não apenas lojas de roupas, que é tradição do bairro, mas também de bijuterias e produtos eletroeletrônicos e importados.
“O cliente vinha ao Brás comprar roupas e seguia para o centro para comprar bijuterias e eletrônicos. Agora, pode ficar o tempo todo por aqui, num ambiente com estacionamento coberto, ar condicionado, conforto e praça de alimentação”, diz ela.
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As quatro famílias sócias no empreendimento possuem negócios há décadas no bairro. Andréia é herdeira da família Bessa, dona da rede Lojão do Brás.
Os sócios se misturam em outros empreendimentos no bairro. No final do ano passado também foi inaugurado, a poucos metros do Pagé Brás, o shopping Vautier Priemium, com espaço para 450 lojas, das quais 300 estão abertas.
As famílias vão investir em mais shoppings na região. “Elas acreditam que ainda há demanda”, diz Andréia. Ali perto também operam há mais tempo os shoppings Porto, Vautier e Megapolo.
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As ações para levar lojistas e consumidores de todo o país para a região estão apenas começando. Outros desfiles com comes e bebes estão sendo programados para o lançamento da coleção de verão.
Nas próximas programações o shopping pretende oferecer experiências no ponto de venda e entretenimento.
Além dos desfiles da última terça-feira (08/08), o que chamava a atenção do público eram três enormes robôs que tiravam as pessoas para dançar.
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FOTOS: Fátima Fernandes/ Diário do Comércio