Sarney, Cunha e Renan não serão presos ainda, mas balançam em dificuldades
Ao lado de Jucá, eles estão na lista de pedidos de prisão do procurador Rodrigo Janot

A prisão de Sarney, Renan, Cunha e Jucá teria sido uma bela de uma catarse – sentimento de satisfação das plateias no teatro na Grécia antiga, quando o público se regozija com a desgraça de um personagem de maus bofes.
Mas ninguém será preso por enquanto, e o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, criaria mais problemas políticos e traria poucas soluções.
Os pedidos de prisão, há uma semana na mesa do ministro Teori Zavascki (STF), mas só nesta terça-feira noticiados por O Globo, precisaria ser aprovado pelos 11 ministros do Supremo.
A segunda turma do tribunal teria reunião nesta terça. Teori faz parte dela. Mas isso não basta. E seria também necessária a autorização do Senado – nos casos de Renan e Jucá -, como ocorreu no final do ano passado, com a prisão do então líder do governo, o hoje ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS).
Há também os desdobramentos sobre os demais temas da pauta política. No caso de Renan Calheiros (PMDB-AL) ser apeado da presidência do Senado, iria para o lugar dele o petista Jorge Viana (AC).
Seria uma excelente notícia para o Partido dos Trabalhadores e para o plano de atrapalhar o impeachment de Dilma Rousseff. Mas o próprio PT reagiu com prudência.
“Isso apenas amplia o clima de instabilidade política que estamos vivendo”, disse o líder petista no Senado, Humberto Costa (PT-PE).
Uma das explicações para essa falta de festejo está na possibilidade de a Procuradoria Geral da República também partir para cima de Dilma, Lula, Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo.
Todos eles também praticaram a obstrução de justiça e procuraram prejudicar a Lava Jato, crime que Janot identificou entre os veteranos peemedebistas agora focados com o pedido de prisão.
No final da tarde, o ministro Gilmar Mendes, do STF, declarou que o vazamento da ordem de prisão de Janot deveria ser punido por se tratar de "brincadeira" com o tribunal.
José Sarney (PMDB-AP), hoje aposentado da política, movimentou-se muito discretamente pelo afastamento de Dilma, tanto que um de seus filhos é hoje ministro de Temer. Mas ele é um exemplo bem mais simbólico por ter sido presidente da República e presidente do Senado.
Romero Jucá (PMDB-RR) é um operador bem mais ativo do presidente em exercício. Cabe a ele mapear a existência de no mínimo 54 votos no Senado para que Dilma seja definitivamente afastada.
Jucá não perdeu a importância ao ser demitido do Ministério do Planejamento, em razão da divulgação de conversa sua com Sérgio Machado, ex-senador e ex-presidente da Transpetro e um dos operadores da corrupção na Petrobras.
Em delação premiada ou por meio da exibição de gravações, foi também Machado quem comprometeu os demais peemedebistas, atrás dos quais o procurador Rodrigo Janot agora se mexeu.
O episódio não mereceu nenhuma reação explícita do Planalto. Temer se reuniu na manhã desta terça com dez secretários e ministros para discutir Jogos Olímpicos.
Eliseu Padilha, da Casa Civil, disse que os pedidos de prisão não foram mencionados na reunião. É até possível. Mas ficou nítido o esforço de Temer em fazer de conta que não se importava com o assunto.
O fato de o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) também aparecer na lista dos potenciais presidiários teve por efeito agitar a reunião da Comissão de Ética da Câmara, que nesta terça se reuniu para votar o parecer que pede a cassação dele.
Afastado da presidência daquela Casa do Congresso e com seu mandato parlamentar suspenso por decisão do STF, ele continua a manobrar aliados e a ameaçar inimigos para se manter no cargo.
Dentro da comissão, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG fez as contas. O caso Cunha vem sendo protelado há 216 dias corridos e 119 dias úteis. É um dos mais longos na história republicana da comissão.
Mas outro deputado, próximo de Cunha – Carlos Marum (PMDB-MS) – reconheceu que a citação do nome dele na lista dos que poderiam ser presos deverá produzir “efeitos danosos” dentro daquele colegiado de 21 deputados.
Em outras palavras, aumentou a possibilidade de a Comissão de Ética votar pela cassação de Cunha, o que levaria o caso ao plenário da Câmara, onde o afastamento dele seria quase uma formalidade.
Há uma relação estranha entre Cunha e o presidente interino, que visivelmente não gosta dele. Mas que, ao mesmo tempo, sabe não poder tê-lo como adversário capaz de obstruir a tramitação das reformas que o atual governo tem em mente.
Por fim, um dos efeitos da lista de Rodrigo Janot está na constatação de que Temer é um presidente mal acompanhado. É algo que o aproxima de Dilma Rousseff, que também governou em companhia de citados pela Lava Jato e cujo partido tem um punhado de presos em Curitiba.