Roupas sportwear viram a salvação do varejo de moda no país

A alta demanda por peças para serem usadas no esporte, no lazer e no trabalho leva redes, como Hope, Adidas, C&A e Aramis, a lançar marcas e produtos para clientes que buscam conforto

Fátima Fernandes
15/Dez/2022
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Roupas sportwear viram a salvação do varejo de moda no país

Combinar esporte e lazer. Durante décadas, esta foi a essência de marcas gigantes internacionais que disputam o mercado de roupas esportivas ou de sportwear.

Depois de uma pandemia que mudou comportamento e hábitos do consumidor, o vestuário mais restrito à prática de esporte invadiu as ruas, atraindo a atenção das mais diversas marcas.

A chamada moda do conforto ou athleisure, termo em inglês para a combinação de athletic (atleta) e leisure (lazer), está em plena expansão no Brasil.

“Há uma crise no mundo da moda, mas tem um nicho que está rindo à toa, o athleisure”, diz Marcos Hirai, sócio fundador do NDEV (Núcleo de Desenvolvimento de Expansões Varejistas).

Quem diria que uma executiva poderia sair da academia, ir diretamente para o supermercado, para a escola dos filhos e para um encontro com clientes, somente acrescentando um blazer?

HOPE

Sandra Chayo, diretora de marketing e estilo da Hope, rede com 256 lojas, é exatamente o perfil de quem busca conforto e praticidade na hora de se vestir para eventos variados.

Não por acaso, a Hope, conhecida pela linha de moda íntima, decidiu expandir o seu negócio para a moda praia, em 2013, e para a moda fitness, em 2017, com a Hope Resort.

Das 256 lojas, pouco mais de 200 são de lingeries, 20, da Resort e outras 20, localizadas em cidades com menos de 200 mil habitantes, comercializam as linhas íntima, praia e fitness.

Sandra diz que há espaço hoje para umas 150 lojas da Hope Resort e umas 300 unidades com os dois modelos. “Nosso projeto é chegar a 700 lojas até 2025”, afirma.

Nos últimos anos, diz ela, as vendas de peças da moda fitness cresceram cerca de 30%, em média. Na fase mais crítica da pandemia, os números chegaram a dobrar.

“A tendência da moda hoje é conforto. Ninguém mais tolera peças que incomodam. Além disso, alguns tecidos possuem tecnologia voltada para a sustentabilidade, são biodegradáveis.”

Peças com proteção para bloquear raios UV, tanto na moda praia como na fitness, são cada vez mais procuradas, de acordo com ela, assim como as que ajudam no tratamento de celulite.

“Roupas confortáveis, de fato, ganharam relevância e levaram grandes marcas esportivas, como Nike, Adidas, Fila, mais focadas em uniformes, e outras diversas a disputarem este mercado”, diz Marcelo Prado, sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado.

ADIDAS

Embalada pela demanda dos consumidores, a Adidas, marca alemã do mundo esportivo, decidiu levar as suas peças para as ruas com a Adidas Originals, especializada em moda casual.

“Este segmento da Originals cresceu demais com a pandemia”, afirma Mauro Nomura, o maior franqueado da Adidas no Brasil, com 25 lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

As roupas sportwear, que já vinham conquistando participação de mercado no mundo do vestuário, de acordo com Nomura, ganharam ainda mais força nos últimos dois anos.

Das 25 lojas franqueadas, 11 são da Originals. “O dress code mudou, os tênis invadiram a Faria Lima”, afirma. A avenida concentra escritórios de empresas e bancos.

Profissionais de alguns setores são mais resistentes a mudar a forma de vestir, diz ele, como os do setor jurídico, que, com o tempo, devem seguir o caminho de grandes executivos.

A busca por roupas mais confortáveis começou há uns quatro anos e explodiu com a pandemia, de acordo com Alexandro Azambuja, sócio da Simpler Retail e CEO da Anita Shoes.

“O dress code tradicional está dando lugar ao dress code casual. Linhas esportivas de roupas e calçados estão ganhando cada vez mais espaço no mundo da moda”, afirma.

Com 28 lojas na região Centro-Oeste do país, a rede Anita Shoes ampliou em 35% a oferta de calçados esportivos durante a pandemia. As vendas dessa linha de produtos subiram 50%.

C&A

O aumento da demanda por roupas esportivas levou uma das maiores redes do país, a C&A, a abrir lojas da Ace, marca que faz parte do portfólio da empresa há mais de três décadas.

A primeira unidade foi inaugurada no shopping Parque Dom Pedro, em Campinas, em 2021. A segunda, no Iguatemi Fortaleza.

Em São Paulo, a marca fez a sua estreia recentemente com loja no shopping Anália Franco.

Os produtos da marca são mais voltados para a prática de ioga, pilates, academia, caminhadas, além de compor peças para o dia-a-dia.

ARAMIS

A Aramis Inc também decidiu disputar o segmento do setor vestuário que mais cresce no país, com o lançamento da marca Urban Performance (conceito de lifestyle).

As peças, como camisas e calças, produzidas com tecidos com proteção UV para uso social e também casual, já estão à venda em algumas lojas da Aramis.

“A moda sportwear se transformou na salvação do varejo de moda”, diz Hirai.

SETOR

Neste ano, a produção brasileira de peças do vestuário deve ser aproximadamente 10% menor do que a de 2019, de acordo com projeções do IEMI.

Em 2019, o país produziu cerca de 5,94 bilhões de peças. Em 2022, este número não deve passar de 5,3 bilhões de peças.

“A inflação elevou os preços e restringiu o consumo de roupas em geral no país”, diz Prado. O número de 2019, de acordo com ele, não deve ser atingido pelo menos até 2024.

Neste ano, as vendas no varejo de vestuário também devem ficar abaixo do número de 2019, em cerca de 0,8%, de acordo com estimativa do IEMI.

Mas, a partir de 2023, as vendas no varejo de vestuário podem até superar (em 3%) o volume de 2019, de 6,44 bilhões de peças, com a contribuição de importados.

Enquanto as projeções do IEMI para o varejo de vestuário ficam na casa de 3% para o ano que vem, empresas que disputam o mercado de athleisure preveem altas de dois dígitos.

LIVE

Com 200 lojas, a rede Live, especializada na moda activewear, aproveita o momento de crescimento de 30% nas vendas, considerando as mesmas lojas, para planejar a expansão.

Em 2020, a rede abriu 32 lojas. Em 2021, foram 75. Neste ano, 48. Para 2023, o número deve chegar a 80.

Somente nesta semana, a rede inaugura duas lojas na capital paulista, uma na rua Bueno Brandão, na Vila Nova Conceição, e outra no shopping Pátio Higienópolis.

Há duas semanas, a marca fez a sua estreia no shopping Ibirapuera, em São Paulo e, há três semanas, em Ipanema, no Rio de Janeiro.

O bom ritmo de vendas levou a empresa a quadruplicar o tamanho da sua fábrica em Jaraguá do Sul (SC). Das 200 lojas espalhadas pelo país, 50 são próprias e 150 são franqueadas.

Marco Baldini, gerente de expansão da Live, diz que a preocupação com saúde e bem-estar contribuiu fortemente para o aumento do mercado de athleisure, assim como o home office.

“Não dá para participar de reuniões on-line e lives de pijama. As roupas mais confortáveis, como consequência, acabam sendo mais demandadas”, diz.

No auge da pandemia, a Live lançou produtos com tecido capaz de neutralizar os vírus da covid-19, a chamada linha care, que incluía até máscaras e capinhas para celulares.

Além de utilizar os tecidos próprios de peças esportivas, como elastano, poliamida e poliéster, a Live passou também a produzir peças casuais com tecidos de algodão.

Para os lojistas e especialistas em varejo, o movimento de usar nas ruas o que antes estava restrito às academias só tende a crescer.

Os paletós, as roupas e os sapatos sociais, dizem eles, são as peças que ficarão cada vez mais esquecidas nos armários.

 

IMAGEM: Hope/divulgação

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