Rodrigo Maia, um mau necessário para Temer
Deputado carioca não é um santo, mas deverá ser reeleito presidente da Câmara. O Planalto depende dele para conduzir a votação das reformas

Até que ponto o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) é confiável para ser reconduzido à presidência da Câmara na votação de 2 de fevereiro?
Filho do ex-prefeito carioca Cesar Maia e genro do ministro Moreira Franco, Maia, 46 anos e jeitão de bebê crescido, foi citado em dezembro numa das delações da Lava Jato.
Um ex-diretor da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, disse que o apelido dele era “Botafogo”, nas planilhas da empreiteira, e que na campanha eleitoral de 2014 ele recebeu R$ 100 mil. Uma quantia de amador, se comparada aos R$ 10 milhões entregues como caixa dois ao PMDB.
Foi também Maia quem, para previsível irritação do presidente Michel Temer, disse, em 20 de dezembro, que “os técnicos da Fazenda sempre querem mais, querem um arrocho maior”, e que, por isso, a Câmara não aprovou as contrapartidas fiscais ao projeto no qual a União socorreria os Estados.
Apesar desses senões, Maia é o candidato do Planalto à presidência da Câmara e, segundo todos os cálculos, será reeleito.
Ele exerce hoje um mandato-tampão, depois do afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o que permitiria uma liberdade contra o Regimento Interno, que não permite a reeleição.
Claro que seus adversários podem interpelar o STF. Mas a tendência entre os ministros do Supremo é a de não interferir num assunto da economia interna dos deputados. Nesta segunda-feira (16/01), a presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia, deu a Maia o prazo de dez dias para explicar sua lógica. Uma formalidade.
O fato é que Temer precisa de Rodrigo Maia para os passos seguintes de sua complicada agenda de reformas. O atual presidente da Mesa e candidato à própria sucessão disse, por exemplo, que a reforma da Previdência será aprovada ainda no primeiro semestre de 2017.
O presidente da Câmara é institucionalmente um personagem fundamental para qualquer chefe de Estado. Lembrem-se do que aconteceu em fevereiro de 2015, quando, aconselhada por Aloizio Mercadante, seu ministro da Casa Civil, Dilma Rousseff peitou Eduardo Cunha e perdeu.
Com um adversário no comando de uma das casas do Legislativo, ela nada pode fazer para filtrar no Congresso as pressões que passaram a se articular nas ruas em favor do impeachment.
“Sei que eu vou cair, mas ela cai primeiro”, teria dito Cunha em meados do ano passado. Foi o que aconteceu. Ela perdeu o mandato, e ele perdeu em seguida a liberdade. Está preso em Curitiba.
RODRIGO, O CANDIDATO DE TEMER
Temer não pode dizer publicamente que Rodrigo Maia é o seu candidato. Entraria em atrito com os dois adversários dele, ambos das bancadas do chamado Centro Democrático, o “Centrão”.
São eles Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF), além do oposicionista André Figueiredo (PDT-CE), ex-ministro das Comunicações de Dilma.
Rosso e Figueiredo são hoje, cada um à sua maneira, simples figurantes. Sobretudo o pré-candidato do PDT, que precisaria ter o apoio de bancadas como a do PC do B (já fechada com Maia) ou a do Partido dos Trabalhadores, que hoje prefere votar em Maia em troca da primeira secretaria, que contrata muita gente e pode absorver os petistas desempregados de Brasília.
Jovair Arantes já tem outra estrutura de apoio mais sólida. E é aí que mora o perigo.
Ele disse em entrevista no último sábado (14/01), à Folha de S. Paulo, que favoreceria a rediscussão de um projeto de anistia ao caixa dois.
Leia-se: retomaria as manobras que não deram certo em setembro e em novembro, para inviabilizar o prosseguimento da Lava Jato. Todos os políticos – de Dilma aos peemedebistas do Congresso – se beneficiariam do crime de espoliação da Petrobras.
Isso é uma punhalada à moralidade pública. Mas os 513 deputados federais não a têm como único critério. Jovair sabe que promessas indecentes soam como música aos ouvidos de colegas com culpa em cartório.
Ele tem no currículo um ponto importante. Foi o relator do processo do impeachment na comissão especial da Câmara dos Deputados.
Dentro da coreografia que consistiu em dar embasamento técnico para uma decisão vinda das ruas, Jovair era um dos que estavam por trás do histórico placar de 367 votos a favor e apenas 137 contra o impeachment, na madrugada de 18 de abril do ano passado.
Ele teria por isso maior simpatia de seus pares? Sim e não. O apoio de Temer no Congresso é muito sólido, e os partidários do presidente tendem a votar no candidato dele, sem a intermediação de deputados que insistam a cada passo em negociar.
É justamente essa ideia de política no varejo que existe por detrás do Centrão e de seus dois candidatos, Jovair e Rosso.
TROCA DE CARGOS POR VOTOS
O Planalto não permanece, enquanto isso, de braços cruzados. Teria oferecido a Jovair, como prêmio de consolo, o Ministério do Trabalho, já ocupado por seu partido, o PTB.
E para reforçar seu favoritismo em plenário, Rodrigo Maia estaria negociando com deputados algumas superintendências regionais da Funasa (saúde) e Infraero (aeroportos).
Ou seja, o mais explícito fisiologismo, idêntico ao praticado por Lula e Dilma para construírem e alimentarem suas respectivas bases parlamentares de apoio.
O problema é saber se, com o atual Congresso e sobretudo com o atual sistema político, daria para chegar à presidência da Câmara por um trajeto diferente.
Tudo indica que não. E que, por força das circunstâncias, muitos acreditam ser possível sacrificar alguns princípios para atingir os fins necessários. Esses fins são as reformas que serão negociadas por Temer.
FOTO: Marcelo Camargo / Agência Brasil