Restaurante sai à caça de funcionários nas ruas para preencher vagas
Empresa de gestão de restaurantes recorre aos velhos tempos e vai a igrejas, parques e centros comerciais para contratar cozinheiros e auxiliares em cidades como Jundiaí, Campinas e Extrema. Ação envolve distribuição de panfletos e até carros de som
Foi-se o tempo em que, para encontrar um emprego, era preciso recorrer aos classificados de jornais ou ir pessoalmente às empresas para a entrega de currículos.
Em casa mesmo, o candidato a uma vaga pode buscar o que deseja em centenas de sites especializados e, alguns deles, com foco em áreas específicas, como engenharia e direito.
Por meio da internet, basta alguns cliques para o envio de currículo. Aliás, não por acaso, este é o caminho bastante utilizado por recém-formados e estudantes em busca de estágio.
Caroline Costa Nogueira, 28 anos, diretora de RH da Premium Essential Kitchen, gestora de restaurantes em empresas dos mais variados setores, sabe de tudo isso.
Mas a dificuldade para encontrar profissionais e dar conta da expansão do negócio chegou a tal ponto, que Caroline e sua equipe de RH decidiram recorrer à prática dos velhos tempos.
Com 120 restaurantes em empresas em São Paulo, Minas Gerais e Goiás e cerca de 1,3 mil funcionários, a Premium está indo literalmente às ruas para preencher vagas.
“Muito se fala em tecnologia, que é importante, para o preenchimento de vagas. Só que existem pessoas que precisam de emprego e sequer têm acesso a computador e celular”, diz.
Desde dezembro do ano passado, equipes da Premium vão a espaços públicos, como igrejas e parques, de cidades próximas de seus restaurantes para anunciar as vagas. O contato com o público é feito por meio de abordagem pessoal, e também por megafones em veículos alugados que circulam pelas cidades.
Panfletos também são distribuídos em câmaras municipais, pontos de ônibus e em endereços que prestam algum tipo de serviço social. Por este modelo de ‘RH nas ruas’, a empresa de Caroline contratou, em quatro meses, 322 pessoas e formou um banco de potenciais colaboradores com cerca de 500 currículos.
“Sempre trabalhamos com banco de profissionais, mas não com tanta assertividade. As informações que chegam das ruas são muito mais filtradas.”
A ideia de correr atrás do trabalhador surgiu, diz ela, devido à dificuldade em contratar empregados para os restaurantes, como cozinheiros, auxiliares de cozinha e oficiais de serviços. Esses profissionais, diz ela, geralmente têm até o ensino médio, raramente completo, e ou um curso técnico, dependendo da idade.
Três funcionários da empresa vão para as ruas duas a três vezes por semana em regiões mais difíceis para o preenchimento de vagas. Atualmente, o foco da equipe de RH está em cidades como Jundiaí, Santana do Parnaíba, Campinas, Valinhos, Piracicaba, Cabreúva, Barueri, Guarulhos e Extrema.
EXPANSÃO ACELERADA
Nesta semana de 25/04, a Premium se prepara para colher currículos em Santana do Parnaíba e Pedreira, no interior de São Paulo. Geralmente, a empresa aluga uma sala de apoio para que os potenciais candidatos se dirijam para deixar dados para contato e informar sobre as vagas de interesse.
Os salários vão de R$ 1,4 mil a R$ 2,5 mil, que é o caso de chefe de cozinha, com registro em carteira, convênios médico e odontológico, seguro de vida e cesta básica.
A preferência é por profissionais acima de 35 anos, faixa de idade na qual o compromisso com o emprego é maior em relação aos mais jovens, de acordo com Caroline.
As pessoas mais velhas, afirma, têm maior dificuldade para usar internet, enviar currículo, e, quando aparece uma oportunidade de emprego, agarram com mais força.
Num país com mais de 12 milhões de desempregados, ver um restaurante com tanta dificuldade para preencher vagas parece até um contrassenso. Mas para Caroline, há uma explicação.
“A pandemia criou um movimento de informalidade no país. As pessoas não querem mais se comprometer com trabalho fixo todos os dias”, afirma.
Com a nova maneira de buscar profissionais, Caroline acredita que a empresa vai dar conta do processo de expansão, com a inauguração de dois a três novos restaurantes por mês. O crescimento da empresa deve demandar a contratação de cerca de 70 a 90 pessoas mensalmente.
Apesar da pandemia e seus efeitos, diz ela, o setor de gestão de restaurantes em empresas tem crescido nos últimos anos. O faturamento da Premium aumentou 35% durante o período de medidas restritivas.
FOTOS: Divulgação FOTOMONTAGEM: Will Chaussê