Quem eles pensam que são?

Mais uma vez a banda podre que dá as cartas no Congresso se une com a banda podre do Supremo Jeitinho que também quer desfigurar a Lava Jato, sob as alegações as mais canhestras e bizantinas

Jorge Maranhão
04/Jul/2019
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Quem eles pensam que são?

As vigorosas manifestações de cidadãos e cidadãs por todos os estados e maiores cidades brasileiras de domingo passado, na verdade, só querem mandar o seguinte recado a parlamentares e ministros dos poderes legislativo e judiciário federais: quem eles pensam que são? Donos do Brasil? Déspotas esclarecidos? Ungidos do Altíssimo? 

Para além da lambança do Supremo Jeitinho de legislar um novo tipo penal de crime de homofobia com sua equivalência ao crime de racismo, o Senado Federal aprontou mais uma de suas espúrias decisões, de costas para o sentimento geral dos cidadãos. 

Mais uma lambança da CCJ que coloca um jabuti no alto da árvore quando contrabandeia o artigo contra o abuso de autoridade de juízes e promotores para dentro do já desfigurado projeto de combate à corrupção. 

Projeto já integralmente desvirtuado na Câmara em desrespeito olímpico ao projeto original de iniciativa popular das 10 medidas contra a corrupção assinado por mais de 2 milhões de brasileiros.

Mais uma vez a banda podre que dá as cartas no Congresso se une com a banda podre do Supremo Jeitinho que também quer desfigurar a Lava Jato, sob as alegações as mais canhestras e bizantinas.

Esquecem estes senhores que a Lava Jato já é uma instituição nacional apoiada por setores os mais variados da sociedade brasileira que atendem aos milhões às convocações das redes sociais.

Milhões de cidadãos que acordaram para sua soberania desde as manifestações de 2013. Como profissionais liberais, prestadores de serviços e comerciantes, de representantes de carreiras de estado dos poderes da república, de novos representantes eleitos na onda da Nova Política, de parte expressiva das FFAA, do empresariado independente do Estado, economistas liberais e lideranças religiosas mais conservadoras, como parte crescente da inteligência nacional não corrompida pelo esquerdismo até então hegemônico na imprensa e na academia.

Cidadãos e cidadãs que estão fartos de roubalheira e da estagnação do país. E têm ido às ruas para exigir o fim das trapaças, das farsas e das falácias das raposas felpudas da velha política que, de investigados, querem passar a investigar os investigadores.

Inversão total de valores, cornucópia argumentativa, sofisma falacioso! Torções, contorções e distorções de princípios de nosso barroquismo mental!

Se a vida é sonho para Calderón de La Barca, o grande poeta e dramaturgo barroco espanhol do século XVII, no Brasil, seguramente a vida tem sido um pesadelo. Por isso, as manifestações de milhões de cidadãos e cidadãs têm sido a grande novidade na viciada cultura política de farsa geral e irrestrita.

Pois só estas festas cívicas cada vez maiores, mais frequentes e cercando pacificamente as mais altas instituições públicas federais poderão fazê-las regurgitar a banda podre instalada em suas entranhas!

Quanto as objeções vindas desses antros de corruptos parecem piada de mal gosto, como essa de que precisamos de um instrumento legal contra o abuso de autoridade. O abuso de autoridade de agentes da lei quererem aplicar o direito penal em vigor contra políticos corruptos e empresários corruptores?

Quando na verdade apenas querem dar efetividade ao ideal da república de que todos são iguais perante a lei, sobretudo os investigados de colarinho branco que querem investigar os investigadores.

Ou a outra objeção risível de que a Lava-Jato é um expediente heterodoxo de aplicação do direito penal. Um dos maiores soltadores de corruptos do Supremo Jeitinho chegou a declarar que se praticava um novo direito penal em Curitiba. 

Como novo se faz parte dos ideais da própria fundação da república? Fazem troça com o direito penal os mesmos ministros que escarnecem da justiça como valor fundamental da civilização. 

Se estão lá para fazer justiça tardia, justiça é que não fazem quando defendem inúmeros habeas corpus seletivos dos mesmos políticos meliantes que os nomearam, que têm recursos e causídicos afortunados para recorrer ad aeternum e fazem olhar de paisagem para centenas de milhares de condenados rastaqueras às masmorras sem sequer serem julgados em primeira instância.

República de Curitiba, sim! Lava-Jato, sim! Justiça igual para todos, sim! Versalhesca Brasília, não! 

Mais Brasil, menos Brasília é a nova bandeira da cidadania!

Contra a cínica picuinha desses desavergonhados sempre em conluio! E que tentam transvestir de falso garantismo suas decisões esdrúxulas, o que não passa de soberba e inveja diante da inigualável reputação alcançada pela nossa justiça de primeira instância junto à opinião pública. 

Pior política do toma-lá-dá-cá é esta indecorosa do Supremo com o Congresso: os parlamentares investigados têm seus processos engavetados pelos supremos magistrados em troca dos mesmos jamais serem processados por impeachment pelo Senado Federal.

Quem eles pensam que são? Com suas sinistras togas obscurantistas exarando votos numa velhíngua barroquista impenetrável?  

Quem eles pensam que somos? Cidadãos passivos, omissos e meros pagadores de suas regalias descabidas? 

Fossem escrutinados ministros e políticos pelo instituto do recall, como em outras plagas, já estariam aposentados pela decisão da grande maioria dos cidadãos brasileiros que, tendo renovado o Executivo, não têm meios de renovarem as cúpulas do Judiciário e do Legislativo federais.

Mas estas grandes festas cívicas, a que vamos nos acostumando de tempos em tempos, nos alimentam a esperança de que a verdade prevalecerá a seu tempo sobre a farsa desses sevandijas! 

O único senão é a medida exata desse tempo, que não seja lento demais para os que mais precisam, e tampouco celerado demais para os mais afoitos. 

*As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário do Comércio




 




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