Produção de veículos cresce em junho, mas alta dos importados preocupa setor
Foram importados quase 200 mil veículos no primeiro semestre, crescimento de 37,7%. Essas unidades responderam por 17,3% do total vendido no período. Anfavea fala em risco de fábricas fecharem
A produção de veículos subiu 11,6% no mês passado, frente a junho de 2023, conforme balanço divulgado nesta quinta-feira, 4/7, pela Anfavea, a associação que representa as montadoras.
Entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, foram produzidas 211 mil unidades. O número representa um crescimento de 26,6% frente ao volume de maio, quando as enchentes no Rio Grande do Sul não apenas pararam por 12 dias a fábrica da General Motors (GM) em Gravataí (RS), onde é produzido o Onix, como prejudicaram o fornecimento de peças a montadoras de outras regiões.
Com o resultado do mês passado, as montadoras terminaram o primeiro semestre com leve alta de 0,5% na produção, que, na soma de todas as categorias, totalizou 1,14 milhão de unidades de janeiro a junho. Segundo a Anfavea, a produção estagnada neste ano, mesmo com a recuperação expressiva do mercado interno, reflete o forte recuo das exportações e a "elevação desenfreada" das importações.
As vendas de junho foram as maiores para o mês desde 2019, com 214,3 mil veículos emplacados, volume que supera em 13,1% o total do mesmo mês do ano passado. Frente a maio, quando a tragédia climática no Rio Grande do Sul também afetou o mercado, o crescimento foi de 10,3%.
No acumulado desde janeiro, 1,14 milhão de veículos zero quilômetro foram vendidos no País, 14,6% a mais do que no primeiro semestre de 2023. Os veículos importados, de quase 200 mil unidades, tiveram crescimento de 37,7% e responderam por 17,3% do total vendido no primeiro semestre. As exportações, por outro lado, seguem em baixa, somando 29 mil veículos em junho, 20,9% abaixo do número do mesmo mês de 2023. Na margem - ou seja, de maio para junho -, os embarques subiram 8,2%.
Durante o primeiro semestre, 165,3 mil veículos foram exportados, o que corresponde a um recuo de 28,3%. O desempenho reflete não apenas a queda dos pedidos e a perda de espaço para concorrentes estrangeiros, em especial asiáticos, nos mercados vizinhos, mas também a demora nas licenças de embarque pela operação-padrão de servidores do Ibama e de auditores fiscais agropecuários.
O balanço da Anfavea mostra ainda que 722 vagas de trabalho foram abertas no mês passado nas montadoras, que empregam agora 104 mil pessoas.
PREVISÃO PARA O ANO
A Anfavea revisou as previsões ao desempenho do setor neste ano. A expectativa para o crescimento da produção de veículos caiu de 6,2% para 4,9%. A mudança no prognóstico tem duas explicações: o tombo das exportações e o avanço dos carros importados no mercado nacional, o que faz com que a produção não acompanhe o crescimento do consumo de automóveis no País.
FECHAMENTO DE FÁBRICAS
Após pedir ao governo o retorno imediato da alíquota máxima do imposto de importação sobre carros híbridos e elétricos, a direção da Anfavea apontou o risco de fechamento de fábricas já no segundo semestre se o Brasil não subir a barreira contra o avanço, descrito como desenfreado, das importações.
Ao fazer uma comparação com o imposto de importação em outros grandes mercados do mundo, incluindo Canadá e Estados Unidos, onde as alíquotas passam de 100%, e a União Europeia, onde variam de 27% a 48%, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, salientou que o Brasil é o único que hoje cobra 18% na entrada de carros elétricos. Mesmo quando o imposto de importação subir para 35%, projetou, a alíquota no Brasil continuará sendo menor do que a cobrada em outros países.
Conforme o executivo, a invasão de carros elétricos da China em todo o mundo gera um desequilíbrio que atinge empregos, investimentos e produção. "No momento de transição, se o Brasil não rever isso imediatamente, corremos o risco de impacto com fechamento de fábricas no segundo semestre", frisou Leite, ao lembrar que a produção das montadoras brasileiras está estagnada, mesmo com o crescimento de 14,6% das compras de veículos no Brasil durante o primeiro semestre.
Na quarta-feira da semana passada, a Anfavea levou ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), um pedido para antecipar em dois anos a cobrança da alíquota de 35% do imposto de importação sobre carros híbridos e elétricos. O imposto sobre as importações de eletrificados voltou a ser gradualmente cobrado em janeiro, com alíquotas que variam a depender da tecnologia. A previsão é que elas convirjam para 35% em julho de 2026. As montadoras querem, contudo, a volta urgente da alíquota máxima.
IMAGEM: Thinkstock