Primeiro trimestre deve mostrar retração da economia
Segundo economistas da ACSP, a adoção de novas medidas restritivas e a falta do auxílio emergencial afetam o PIB neste início de ano
A concessão do auxílio emergencial e a redução da taxa básica de juros, somadas à intensa retomada da economia mundial permitiram uma queda bem menor do PIB de 2020 que a prevista inicialmente. Porém, para o primeiro trimestre de 2021, a perspectiva é de novo recuo, devido à falta do auxílio e ao recrudescimento da pandemia e das medidas de isolamento social.
O crescimento esperado para a atividade econômica em 2021, beneficiado pela fraca base de comparação, dependerá crucialmente da evolução da vacinação, ao longo dos próximos meses.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), durante o quarto trimestre de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou alta de 3,2%, livre de efeitos sazonais, superando as expectativas de mercado, porém, desacelerando em relação à expansão registrada no trimestre anterior.
No ano passado houve queda de 4,1%, a maior desde 1996, em linha com a projeção realizada pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (IEGV/ACSP), embora bem menos intensa do que se esperava no começo da pandemia.
Pelo lado do gasto, o consumo das famílias, que é o componente mais importante, recuou 5,5%, devido à queda na renda e no emprego, resultantes da pandemia, além dos efeitos negativos das medidas de isolamento social.
Em todo caso, esse recuo foi minimizado principalmente pela concessão do auxílio emergencial, que injetou quase R$ 300 bilhões na economia, além das reduções da taxa básica de juros (Selic), realizadas pelo Banco Central.
Em relação ao investimento produtivo (formação bruta de capital fixo), houve contração de 0,8%, explicada pelas incertezas relativas à disseminação do coronavírus e suas consequências negativas para o cenário econômico.
A queda teria sido bem mais intensa se não houvesse sido contabilizada neste item a importação de plataformas de petróleo. Em todo caso, destaca-se o crescimento do investimento na virada do terceiro para o quarto trimestre, impulsionado pelo avanço do mercado imobiliário e pelos maiores preços de commodities no mercado internacional.
A participação da formação bruta de capital fixo no PIB (taxa de investimento) aumentou de 15,4% para 16,4% entre 2019 e 2020, continuando, porém, muito abaixo da média dos países emergentes.
Por sua vez, o consumo do governo, que corresponde ao custeio da máquina pública, apresentou queda pronunciada de 4,7 %, refletindo a crise fiscal enfrentada pelas três esferas governamentais.
A única contribuição positiva veio do setor externo, muito embora explicada por uma forte retração nas importações (-10%), que refletiu a intensa queda na atividade, muito superior à observada nas exportações (-1,8%), que, de todo modo, se beneficiaram dos maiores preços internacionais, num contexto de forte recuperação da economia mundial, principalmente por parte da China.
Pelo lado da oferta, a indústria sofreu contração de 3,5%, interrompendo dois anos consecutivos de crescimento, explicada tanto pelos efeitos negativos do coronavírus e do isolamento social sobre a demanda, como pela escassez e encarecimento dos insumos utilizados no setor.
Os principais destaques negativos vieram da construção civil, indústria de transformação e dos setores de eletricidade, gás e água.
O setor serviços, principal segmento produtivo da economia, que foi o mais afetado pelas medidas de isolamento social, apresentou o maior recuo (-4,5%), puxado principalmente pela restrição do funcionamento de restaurantes, academias e hotéis, que são atividade caracterizadas pelo atendimento presencial.
A produção agropecuária, por outro lado, mostrou expansão, que alcançou a 2,0%, impulsionada pela supersafra das lavouras de soja, café e milho. Contudo, como sua participação na oferta é reduzida, esse bom resultado não foi capaz de compensar as quedas observadas nos setores anteriores.
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