Presidente da Eletros diz que 6 players asiáticos chegarão ao país
Jorge Nascimento, que representa a indústria de eletroeletrônicos, setor que cresceu 34% em volume de vendas para o varejo no primeiro semestre, explica o motivo do interesse de investidores estrangeiros pelo Brasil
O setor de eletroeletrônicos registrou alta de 34% nas vendas da indústria para o varejo nos seis primeiros meses de 2024, segundo balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de Eletroeletrônicos (Eletros). Foram comercializados 51,5 milhões de unidades de aparelhos eletroeletrônicos de janeiro a junho deste ano no país. No mesmo período de 2023, foram 38,3 milhões.
Os bons números do segmento e o fato de o Brasil ser um mercado expressivo, com uma massa ocupada superior a 101 milhões de pessoas, explicam outro movimento – a chegada de novas marcas. “São grandes players asiáticos de linha branca e marrom”, afirmou Jorge Nascimento, presidente da Eletros. “A previsão até o fim deste ano é o anúncio de mais duas empresas e para 2025 pelo menos outras quatro, todas asiáticas.”
Vão se somar a chegadas recentes, como da chinesa Hisense, e aos investimentos anunciados por Mideia e TCL, que ampliam suas fábricas. Nos últimos dois anos, segundo a Eletros, foram cerca de R$ 5 bilhões investidos. Para a entidade, os números das vendas no semestre são reflexos da melhora em alguns indicadores macroeconômicos, em especial o aumento da empregabilidade e da renda das famílias. “Somos o verdadeiro termômetro da economia”, afirmou Nascimento. “Quando tudo vai bem, as pessoas não consertam seus eletrodomésticos, elas compram um novo.”
Dentro do setor, algumas categorias se destacam. Segundo maior polo produtor de ar-condicionado do mundo, o Brasil assistiu a um crescimento expressivo na demanda por esses produtos no primeiro semestre de 2024, por causa das fortes ondas de calor registradas no começo do ano. De acordo com a Eletros, o crescimento foi de 88% nas vendas com a comercialização de 2,8 milhões de unidades, contra quase 1,5 milhão dos seis primeiros meses de 2023. A entidade acredita que apesar dos números bastante positivos, o segmento de Ar-Condicionado ainda tem enorme potencial de crescimento – esses equipamentos estão presentes em apenas 17% dos lares brasileiros.
As vendas da Linha Marrom, cujos principais produtos são os televisores, cresceram 20% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram comercializadas 6,3 milhões contra quase 5,3 milhões no ano passado. Fatores como crescimento no acesso ao crédito e eventos esportivos importantes, como Olimpíada. Já nas vendas da Linha Portátil a alta foi ainda mais expressiva: 40% na primeira metade de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado. Foram comercializadas 34,1 milhões de unidades (2024) contra 24,4 milhões (2023).
Confira trechos da entrevista com Jorge Nascimento, presidente da Eletros.
DC NEWS – Como foi o cenário para o setor nos últimos anos?
Jorge Nascimento – Somos autossuficientes na produção de eletrodomésticos no Brasil. Durante a pandemia, em 2020, nosso setor foi um dos que mais cresceu no país, principalmente porque as pessoas estavam em casa e transformaram o ambiente doméstico em um local de estudo, trabalho e lazer. Isso levou ao aumento das compras de ar-condicionado, ventiladores, computadores e lavadoras de roupas com maior capacidade.
DCN – A performance se manteve?
Nascimento – Não. De setembro de 2021 até 2023, vivenciamos os piores anos para o setor de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, com 2022 sendo o pior dos últimos dez anos. O excelente primeiro semestre deste ano foi uma surpresa.
DCN – Qual a relevância do setor em relação à geração de empregos?
Nascimento – No setor de emprego, geramos aproximadamente 200 mil postos de trabalho em todo o país. O setor representa 3,3% do PIB da indústria. O setor está experimentando um crescimento de 5% a 10% na geração de empregos, com a criação de empregos de qualidade, especialmente no interior do país.
DCN – O senhor diz que o setor é um dos termômetros da economia. Por quê?
Nascimento – Quando a economia está bem, as pessoas não consertam o ventilador antigo, elas compram um novo. Quando a economia está boa, elas não ficam no calor, compram um ar-condicionado. Buscam refrigeradores mais eficientes e lavadoras com menor consumo de água. Quando a economia não vai bem, as pessoas optam por manter o que já têm.
DCN – Então a economia vai bem?
Nascimento – O crescimento que experimentamos no primeiro semestre é um indicativo de que a economia está aquecida e o setor está se expandindo de forma sustentada.
DCN – Algum risco no horizonte?
Nascimento – Precisamos estar atentos ao controle dos juros, pois a maioria dos nossos produtos é adquirida de forma parcelada, e o valor das parcelas deve caber no bolso do consumidor. Caso contrário, ele adia a compra. Isso está totalmente relacionado com os juros de referência.
DCN – A inflação é outro ponto de atenção?
Nascimento – A indústria de eletrodomésticos no Brasil se baseia em três premissas: produtos inovadores, produtos mais eficientes no consumo de água e energia e produtos com preços acessíveis. A inflação afeta diretamente esses preços. Além disso, a geração de empregos é um fator determinante. O Brasil possui uma indústria robusta, com sete fabricantes de ar-condicionado e as sete maiores empresas de refrigeradores do mundo instaladas aqui. O brasileiro é apaixonado por eletrodomésticos e é muito exigente quanto à qualidade. O que é produzido aqui serve de benchmark para novos lançamentos em todo o mundo. E há espaços. Embora a produção de ar-condicionado tenha crescido 88%, apenas 17% dos lares brasileiros possuem um ar-condicionado, o que representa mais de 80% de mercado ainda a ser explorado.
DCN – Um mercado de muito potencial…
Nascimento – Infelizmente, enfrentamos um problema social, pois uma grande parte da população não tem acesso a esses produtos. Estamos conversando com o governo para estabelecer políticas que facilitem o acesso a produtos eletroeletrônicos, especialmente aqueles que são mais eficientes no consumo diário de energia.
DCN – É preciso retomar programas de incentivo?
Nascimento – As classes C e D, que já representaram 30% do nosso mercado de refrigeração, hoje representam apenas 11%. A população em geral ainda utiliza refrigeradores, fogões e lavadoras antigas, com mais de dez anos. Precisamos retomar políticas públicas que já existiram no passado e que ajudaram a expandir o mercado. Estamos em diálogo com o governo federal, que compreende a importância da linha branca para a economia. Estamos trabalhando para encontrar a melhor forma de estimular a aquisição de produtos mais eficientes.
DCN – E como fechará o segundo semestre?
Nascimento – Estamos otimistas para o segundo semestre, mas dependemos do controle da inflação, das taxas de juros e das condições climáticas. Se as temperaturas voltarem a se manter elevadas, como no primeiro semestre, podemos ter um fechamento positivo para o setor.
IMAGEM: Eletros/divulgação