Prefeitura planeja repaginar entorno da Praça Roosevelt
Região deve ganhar um mirante e espaço para comércio e lazer. Projeto tem custo estimado de R$ 3,9 milhões e previsão de entrega em 2023
A Prefeitura de São Paulo planeja a transformação de um espaço sem uso na rua Augusta e em frente à Praça Franklin Roosevelt, na região central, em um mirante, espaço de lazer e área de conscientização socioambiental. A intervenção também inclui uma escadaria de acesso à rua Avanhandava.
A expectativa é de que a implementação seja entregue no próximo ano. A proposta foi batizada de "Belvedere Roosevelt", com o objetivo de valorizar a vista da ligação Leste-Oeste, de edifícios de parte do distrito da Bela Vista e da praça. Está previsto também um "jardim de chuva" ao longo da escadaria, para filtrar e armazenar parte da água da chuva, a fim de ser reutilizada em ações de zeladoria urbana.
"Hoje é um lugar subutilizado. Será um ponto turístico, o novo mirante da cidade, um mirante sustentável", descreve Cesar Azevedo, presidente da SP Urbanismo, ligada à Prefeitura.
Ele aponta que o projeto conversa com outras mudanças promovidas e estudadas pela gestão municipal que visam a "requalificar" a região central, como a remodelação da "esquina histórica" (das Avenidas Ipiranga e São João) - cuja implantação está prevista para começar nesta semana -, o novo Vale do Anhangabaú, o Parque Augusta, a reforma dos calçadões do triângulo histórico e a lei do retrofit (de incentivo à recuperação de edifícios).
O custo estimado é de R$ 3,9 milhões. Azevedo argumenta que a tendência é de que este valor seja mais baixo, pois será selecionada a empresa que propor a oferta de menor valor. A licitação da execução da obra (com previsão estimada em nove meses) e elaboração do projeto executivo chegou a ser publicada em fevereiro, mas foi suspensa por tempo indeterminado pela falta do consulta ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
O aval é exigido pelo local estar na área envoltória de um antigo colégio tombado. A proposta abrange um espaço remanescente da implementação da ligação Leste-Oeste e da Praça Roosevelt, nas proximidades da esquina das Ruas Augusta e Martinho Prado, hoje gradeado, além de uma escadaria utilizada principalmente para acessar a Rua Avanhandava e um sacolão.
A parte do mirante (de um total de 1071,9 m²) fica em uma laje sobre o viaduto, que será isolada por guarda-corpos de vidro. O projeto contempla a implantação de arquibancada e deque de madeira plástica, placas de energia fotovoltaica, turbina eólica, contêiner de apoio (institucional ou comercial, que poderá funcionar, por exemplo, como loja ou cafeteria), nova iluminação, bancos e outros itens de mobiliário urbano.
A previsão é incluir uma escultura cinética (em movimento), renovar o mural já pintado em uma parte da laje e disponibilizar internet wi-fi e tomadas USB. Além disso, fala-se em realizar atividades lúdicas e tornar o espaço uma referência de sustentabilidade.
Serão mais de 3 mil novas mudas, a maioria nativas, incluindo 10 ipês-amarelos e três açaízes. Parte do paisagismo integrará o "jardim de chuva", junto à escadaria, que é um tipo de estrutura alinhada às chamadas "soluções baseadas na natureza", cujo objetivo é reter parte da água das precipitações para ser filtrada (com redução de poluentes, mas não o suficiente para o consumo humano), armazenada e posteriormente utilizada para a limpeza pública. Outro impacto poderá ser na redução de alagamentos.
A água será direcionada para o jardim por uma boca de lobo, que será implementada na sarjeta da Rua Augusta. A estrutura consiste em camadas de substrato, pedras, entulho da obra reaproveitado e areia abaixo de plantas "macrófitas" (aquáticas), que metabolizam poluentes.
Parte das camadas poderá ser vista por meio de um muro de vidro, chamado de "janela educativa", assim como haverá placas de sinalização com informações. O projeto foi elaborado com base em referências variadas, como o Cais de Sorenga, em Oslo, e o Urban Bloom, de Xangai, que revalorizaram áreas então subutilizadas.
Outra mudança prevista é a elevação da altura da travessia de pedestres da Rua Augusta para a Praça Roosevelt, para o mesmo nível da calçada. A medida é uma forma de "traffic calming", de priorização da circulação de pessoas a pé e ampliação da segurança viária.
Presidente da Associação dos Moradores da Praça Roosevelt (AmoPraca), o engenheiro Fernando Mazzarolo, de 62 anos, considera bem-vindos projetos que ajudem a embelezar e tornar o centro ainda mais agradável. "O lugar (que receberá o belvedere) hoje é um vácuo (sem uso). É um projeto que parece bacana, interessante." Ele destaca, contudo, que não basta apenas criar, mas também é preciso haver investimento na manutenção. Como exemplo, cita dificuldades de manutenção no mobiliário e paisagismo da Roosevelt. "Não adianta só fazer, tem de manter", diz.